quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Religião e Razão




Um ponto delicado, mas importantíssimo se estudado e comentado: a Religião!

Para o espírita, fato incontestável, é que antes de qualquer avaliação sobre sua conduta frente aos preceitos de sua Doutrina ele precisa ser essencialmente: cristão!

A Doutrina Espírita é a terceira revelação, Moisés veio trazer a primeira, unificando Deus e apresentando suas leis, Jesus Cristo, Ele, o Mestre, a segunda, ratificando sim, a necessidade única do cumprimento das leis divinas, mas para isso, veio nos apresentar o Amor, em sua mais pura concepção, nos doando as noções básicas da vida, e prometendo, para completa-las a amplia-las, o Consolador Prometido, o Espiritismo, aquele que nos trouxe a expansão de seus ensinamentos básicos, sendo, tudo o que ele nos trouxe na atualidade incompreensível para a época da revelação cristã, bem como as subsequentes, principalmente o período da idade média, o período do Terror, onde quem ousasse sequer cogitar sobre assuntos fora dos dogmas impostos pela igreja era sumariamente taxado de herege, com forte possibilidade de terminar sua passagem pelo plano físico na fogueira, em uma época onde o vulgo não tinha acesso aos evangelhos, sem o direito até mesmo de estuda-los e conhece-los no recesso do seu lar.

Ele, o Consolador Prometido, surgiu na hora certa, quando o homem começava a questionar os dogmas religiosos, quando a ciência passou a ganhar espaço e importância através de suas descobertas, quando não mais a igreja teve forças para obstruir seu avanço, dando oportunidade para que as pessoas começassem a pensar por vontade própria, questionando, buscando respostas, não mais agindo como simples cordeiros, com pastores mais interessados em manter seu poder e seu mando, do que, de fato, elas evoluíssem como seres humanos.

Não mais a crença cega em um inferno de penas irremissíveis. ou de um céu beatífico e contemplativo para quem a ele pelas boas ações tivessem acesso, não mais a figura do diabo, ser criado para o mal, não mais as figuras de anjos que nada mais fazem do que glorificar e assistir a queda inevitável da maioria dos homens, em um curto período de uma única existência; não mais a Terra como centro do universo, e sim, como mais um, entre bilhões de mundos habitados, onde todos caminham juntos, e progressivamente, para a perfeição auferida como direito insofismável a todos.

A Terceira Revelação, o Consolador Prometido, não veio como as anteriores, sob o comando e o protagonismo de um único predestinado ser, como Moisés e Jesus Cristo, mas sim, através de uma plêiade de espíritos que, ao mesmo tempo, e de forma incisiva, começaram a se manifestar ostensivamente, nos quatros cantos do mundo, despertando a atenção da humanidade encarnada para um fenômeno que viria definitivamente provar que a vida prossegue após a até então temida morte, e quem vinha lhes dizer isso era exatamente seus queridos mortos, através de diversas maneiras, gerando fatos que no início beiravam ao sobrenatural, mas depois, com a observação séria, o estudo metódico, foram devidamente colocados em seus lugares de direito, no conhecimento e aceitação dos que a eles dedicaram seu tempo, como sempre foram as principais descobertas que alavancaram os mais importantes avanços da humanidade terrestre.

Foi exatamente este o papel que coube a Allan Kardec, ele não foi o inventor ou quem “descobriu” a Doutrina Espírita, ele teve o nobilíssimo trabalho de assumir o comando de reunir, compilar, estruturar, decodificar, todo o extenso cabedal de informações e conhecimentos que estavam sendo trazidos pelos espíritos em inúmeras reuniões realizadas nos mais diversos pontos do globo terrestre.

Em um trabalho sério, disciplinado, metódico, ele reuniu os fatos e corajosamente, tomou para si a responsabilidade de criar um corpo de doutrina, auxiliado e secundado por seus benfeitores espirituais, comandados pelo Espírito da Verdade, gerando nomenclaturas específicas e explicando racionalmente todos os fenômenos e ensinamentos que foram ao longo do tempo ocorrendo e sendo trazidos ao seu conhecimento pela extensa correspondência que mantinha com todos aqueles que a esta tarefa se dedicavam nos cinco continentes.  

A lei da reencarnação, da pluralidade das vidas e dos mundos habitados, a lei da causa e efeito que veio demonstrar e explicar as inúmeras variedades de existências terrestres, pondo por fim as dúvidas crescentes sobre a justiça e a bondade divina, explicando o porquê das diferenças sociais, de capacidades realizadoras, de saúde e das imperfeições físicas e orgânicas, racionalizando a fé, tornando-a lógica e natural, ampliando a visão sobre Deus, fazendo renascer o mesmo sentimento que os primeiros cristãos tinham quando da passagem do nosso Amado Mestre Jesus pela Terra.

Desta forma, não importa se muitos preferem tratar o Espiritismo como uma Doutrina ou como uma religião, gerando intermináveis temas de debates, onde muitos tentam afasta-la dos princípios evangélicos, enquanto que outros insistem de certa forma em ”ritualiza-la”, gerando normas de condutas através de sistematização obrigatória, esquecendo que o que mais é a Doutrina mesmo sendo raciocinada, lógica e científica, sua tarefa principal e fundamental é a de ser o Consolador Prometido por Jesus Cristo, e assim, se basear essencialmente nos conceitos que o Mestre nos trouxe através de seus exemplos e parábolas.

Tipos de mediunidade, formas de doutrinação, como é a vida no plano espiritual, quais são as consequências de nossos erros, saber da existência do umbral, que já tivemos outras existências, a lei da ação e reação, tudo isso são ferramentas, são acréscimos da bondade divina para que venhamos a atingir o nosso principal objetivo no nosso planeta, que vem a ser a nossa transformação espiritual, o de assumirmos de vez nossa condição de homens de bem, deixando para trás definitivamente nossas imperfeições, nossos vícios, nossos sentimentos e nossas posturas inferiores.

Assim, o Espiritismo veio essencialmente nos trazer uma base mais segura e inviolável para nos tornarmos, de fato, cristãos, nos dando uma referência lógica da necessidade de amarmos ao próximo como a nós mesmos, de não julgarmos para não sermos julgados, perdoando para ser perdoando, nossos irmãos e até mesmo nossos adversários, para compreendermos e aceitarmos as diferenças de todos os tipos, principalmente, as de caráter evolutivo, onde o mais forte tem como dever primordial auxiliar ao mais fraco, o mais lúcido ao mais confuso, o são ao enfermo.

O Espiritismo veio nos dar a base e as razões para sermos pacientes, tolerantes, bondosos, sinceros, honestos, prudentes, disciplinados, para aprendermos a agir não só visando nosso próprio beneficio ou o da nossa família direta, mas sim, do todo, do coletivo, para aprendermos a doar antes de receber, a ajudar sem esperar recompensas ou agradecimentos, ou seja, essencialmente, o Espiritismo veio nos ensinar a sermos, de forma lógica e raciocinada, puramente tarefeiros do Mestre Jesus Cristo em nosso planeta!     
Cabe a nós, se assim o desejarmos, decidirmos se o Espiritismo é uma religião ou uma Doutrina, desde que ele nos faça sermos pessoas melhores, que ele nos ensine a ter uma fé segura, baseada em fatos, em uma lógica irrefutável do poder e da bondade divina, desde que ele nos leve a amar acima de tudo, nos tornando assim uma pessoa melhor, uma pessoa do bem, alguém capaz de realizar e de auxiliar, transformando a nós mesmos e ao ambiente por onde passarmos, levando a paz e o amor na mente, na razão e no coração.