Uma das maiores dificuldade que encontramos quando,
já conscientes estamos da nossa necessária transformação individual, para
trilharmos o caminho do bem, quando já estudamos e trabalhamos efetivamente
para assumirmos a postura e a conduta espírita cristã, é a de controlar e erradicar
os sentimentos negativos que acumulamos por diversas jornadas evolutivas, onde,
mesmo quando não provoquem crimes graves e dolorosas expiações, fazem com que
nosso processo de ascensão seja lento, e as vezes, até mesmo imperceptível, tal
a dificuldade que temos de superar e expurgar os vícios e as tendências inferiores
que agregamos ao longo do tempo à nossa personalidade.
Alguns desses sentimentos, que prejudicam nossa evolução,
como a vaidade excessiva, o orgulho desmedido, a ausência da caridade, o egoísmo,
fazem com que, quando ainda neófitos no caminho do bem, nos percamos em nossas
tarefas, supervalorizando-as, assim como a nossa atuação, fazendo com que nos
julguemos superiores aos nossos irmãos do caminho que ainda não dispõe desta
visão, da consciência da necessária renovação íntima, esquecendo que até
recentemente éramos nós a nos chafurdarmos no erro, sem a mínima concepção das prioridades
cristãs, passando, de forma indevida, a nos considerar arautos da Boa Nova, já
capazes de algo ensinar, de ditar o modo de vida do próximo, de julgar e prejulgar
a forma como nossos companheiros de jornada vivem, nos vendo no direito de
interferir em suas existências, ditando regras ou receita simplistas de
felicidade, sem atinar que cada um vive um momento único na jornada evolutiva
de nosso planeta, sendo diferente e exclusiva a forma como se deve agir com o
intuito de galgar mais um degrau rumo ao equilíbrio espiritual no bem.
O Espiritismo é o Consolador Prometido por Jesus,
todo ele baseado, nos mais puros conceitos do amor e da caridade, sendo oferecido
a nós pela Bondade Divina, para que aqueles que no momento vivem no plano espiritual
possam nos apresentar a continuidade e a eternidade da vida, de onde viemos e
qual o nosso destino, nos fazendo ver que a vida é contínua, independente da
variação de planos, e que cada ato nosso, positivo ou negativo, é fato gerador
de uma consequência, e que esta nos acompanhará no futuro, nos proporcionando
momentos de dor, de alegria, de possibilidade construtiva ou destrutiva, de acordo
com os sentimentos que nortearem nossas escolhas e decisões.
Uma das formas que temos de valorizar nossa estadia
no plano físico, assim como os tem aqueles que se encontram hoje no plano
espiritual, é através da palavra, da comunicação direta como nossos irmãos do
caminho, sendo o que falamos e o que nos falam, em muitas das vezes, fatores
predominantes e preponderantes para determinar o momento que estamos vivendo e
de que forma estaremos procedendo em nossas ações e reações, já que a palavra é
fator essencial na exteriorização do que sentimos, do que priorizamos, do que
desejamos para nossa existência, tanto nos fatos imediatos e corriqueiros, como
para nossos planos futuros e para aquilo que temos como ideal em nossa existência.
Por vezes uma única palavra fere mais que mil agressões
físicas ou armas destruidoras, da mesma forma que pode servir para salvar uma
vida, a nossa ou de um irmão do caminho, quando nela trazemos a paz, o amor, a
esperança.
Quantas vidas foram tiradas, quantas catástrofes de
grandes proporções foram levadas a efeito por discursos inflamados, por calúnias
urdidas de forma cruel, da mesma forma que lares foram destruídos e famílias
separadas devido a maledicência, a boatos, ao uso inferior e mesquinho da palavra
por parte daqueles que carregam dentro de si os mais inferiores sentimentos e
as mais degradantes paixões.
Da mesma maneira, foi graças a ela que diversos trabalhadores
de boa vontade, diversos trabalhadores conhecidos ou anônimos, puderam levar
adiante a paz, a concórdia, o entendimento, o otimismo, a esperança, fortalecendo
aqueles que sucumbiam a dúvida, ao medo, despertando neles a fé, a coragem, a
determinação, a vontade e o desejo de serem pessoas melhores, de lutarem por
seus direitos, de defenderem seus ideais, fazendo com que o bem acabasse por
prevalecer, independente de lugares ou situações, no recôndito de um lar, ou
frente a uma nação, um povo, uma classe social, onde vários, com um interesse comum
no bem, se sentem orientados e motivados a reverterem uma situação adversa e
avançar.
Assim como qualquer outro fator que exista para que
venhamos a interagir com o todo, com o mundo onde vivemos, seremos sempre o
responsável por aquilo que falarmos, com o uso que fizermos desta ferramenta
que temos a nossa disposição para cumprirmos nossos objetivos, sendo aquilo que
plantarmos exatamente aquilo que iremos colher, assumindo as consequências do
que geramos, não só para nós, mas também para nossos irmãos do caminho, e no
ambiente onde estivermos inseridos.
Desta forma, se nosso objetivo é a transformação
espiritual no bem, é vencer nossas tendências inferiores, anular os sentimentos
negativos que ainda vivem em nós de forma latente, cuidemos de usar a fala, a
comunicação de que dispomos, para levar apenas positividade por onde passarmos,
seja em nosso lar, no nosso trabalho, no nosso dia a dia, nas lides espiritas,
alinhavando-a com o sentimento cristão, com os preceitos doutrinários, fazendo com
que aqueles que conosco convivam possam se sentir seguros ao nosso lado,
confiantes, sabedores que, apesar de nossos defeitos e de nossas imperfeições,
nossas intenções, nossa postura, nosso objetivo maior será sempre o bem,
fazendo com que em nossas palavras transpareça a sinceridade com a qual devemos
nos revestir.
No processo evolutivo a qual atualmente
atravessamos, temos a consciência que a palavra é poderosa aliada á disciplina
que precisamos desenvolver para que venhamos a sair vencedores, pois ela pode
nos impedir de exteriorizar sentimentos que ainda trazemos guardados dentro de
nós e que ainda não conseguimos transformar, servindo assim de freio para que não
venhamos a cometer novos desmandos, nos auxiliando a, passo a passo, virmos a
alcançar os nossos objetivos maiores, única forma de almejar novos e mais abrangentes
desafios.
Não foi a toa que o Mestre Jesus, ao ser inquirido
sobre o uso de alimentos considerados impuros pela religião de sua época,
deixou claro que mais faz mal ao homem aquilo que sai de sua boca do que aquilo
que entra, nos mostrando de forma simples, mas categórica, a responsabilidade
que temos frente ao nosso presente e ao nosso futuro, por cada palavra, assim
como por cada ato, por cada pensamento, que gerarmos enquanto atravessarmos o pântano
íntimo de nossas imperfeições.
Santifiquemos nossos pensamentos, para que venhamos
a exteriorizar apenas o bem, levando a palavra sincera, amiga, caridosa,
amorosa, por onde passarmos e com quem falarmos, sempre visando o crescimento,
o equilíbrio e a paz.