quarta-feira, 30 de março de 2016

Nossa mente é nossa casa...




Ninguém está absolutamente sozinho e desamparado do bem em nenhuma circunstância da vida.



Mesmo aquele que afunda no mal, nos prazeres nefastos, nos vícios, praticando iniquidades diversas contra seus irmãos do caminho, os prejudicando, os arrastando ao sofrimento, e, consequentemente, arrastando a si mesmo ao mesmo sofrimento futuro, levado pelo sentimento que for, a ambição, a inveja, a vaidade, a cobiça, a luxúria, o ódio, o egoísmo, o orgulho, terá ao seu lado um coração que pulse por ele, que o ame, que trabalha em seu benefício, que não desista de fazê-lo despertar para o único caminho que traz a paz, a felicidade, o equilíbrio, o do bem.



Muitas vezes impedimos, por nosso proceder, por nossas próprias escolhas, pelos sentimentos que elegemos como prioritários em nossa vida, que nossos amigos e benfeitores espirituais se aproximem e nos amparem, nos orientem, dentro daquilo que realmente necessitamos para nossa evolução, para avançarmos em nossa senda de aprendizado e de construção da nossa personalidade, não só pelo que geramos e alimentamos em nosso íntimo, mas, principalmente, pelo que atraímos para nós devido ao nosso proceder equivocado, permitindo que entidades tão desequilibradas como nós, ou até mesmo com uma carga negativa ainda maior, ocupem o espaço a nossa volta, em uma simbiose de energias e desejos que faz com que fiquemos cegos e surdos aos chamados não só da nossa consciência, mas daqueles que nos amam e se preocupam com o desvio que estamos tomando em nossa jornada, ainda mais que são sabedores, até mesmo por experiência própria, que este caminho deverá ser novamente percorrido quando do surgimento da razão pelo erro cometido, e que geralmente em seu inverso, mais cansados e feridos, se tornará para nós, naturalmente, mais dolorido, mais sacrificial, exigindo uma dose maior de esforço, de concentração, de disciplina, para não mais cairmos, não mais nos afastarmos de nosso destino.



Somos durante nossa existência no plano físico rodeados por testemunhas que nos acompanham, com menor ou maior continuidade, pelos mais diversos motivos, se imiscuindo e tentando participar de nossas ações e de nossos sentimentos, seja para nos auxiliar ou nos prejudicar, com boas intenções, ou levados apenas pelos seus próprios interesses, como ocorre também entre nós, os encarnados, quando buscamos a companhia das pessoas que nos identificamos, ou que algo podem nos oferecer, conosco compartilhar, variando a forma e a intenção, de acordo com a personalidade, com o caráter, com aquilo que traz dentro de si cada um de nós.



Somos como uma casa, nosso ser é uma fortaleza, e da mesma forma que não conseguimos entrar na casa de ninguém sem ser convidado, ninguém conseguirá transpor o batente da nossa se não o permitirmos, se não o chamarmos para dentro, isso é claro, desde que mantenhamos a porta bem fechada e trancada.



Cada um de nós tem uma personalidade, tem aquilo que elege como prioridade e necessidade para si, e determina quais os valores morais e éticos que irão nortear suas escolhas e suas decisões, como procederá frente aos seus irmãos do caminho e a sociedade onde vive, sendo o responsável por seus atos, e por tudo aquilo que gerar a sua volta.



Desta forma, se o que determinamos para nós está vinculado ao mal, ao erro, a negatividade de sentimentos e intenções, muito provavelmente não respeitaremos a privacidade e a liberdade dos que conosco caminham, tentando de todas as formas invadir à casa alheia, toma-la de assalto, domina-la, mesmo sem ser convidados, e muito provavelmente o conseguiremos, desde que o alvo de nossa agressão seja descuidado, não se protegendo contra nosso assedio, até mesmo muitas vezes dele compactuando, deixando que invadamos e tomemos conta do que lhe pertence, sem resistência, ou sem força para conter nossa violência.



Assim também, em contrapartida, poderemos, se fracos e invigilantes, se associados ou acumpliciados com elementos destrutivos e viciosos, ter nossa casa invadida e dominada por agentes interessados em mantê-la sobre seu domínio, explorando-a e violentando-a, tirando nossa paz, nosso equilíbrio, nossa liberdade, nos intimando e nos dominando, para que venhamos a servi-lo e entretê-lo de acordo com o que tem em mente para desfrutar de forma equivocada sua existência, nos arrastando para seus desatinos e delírios.



Nossa mente é nossa casa, cabe, assim, a nós, zelar pela sua segurança, permitindo que nela adentre apenas aqueles que algo tenham a acrescentar de produtivo, de positivo, convidando-os a permanecer o tempo que desejarem, porque sabemos que nada nos irão impor, nada exigirão, além de boa vontade, de bondade, de respeito, de amizade sincera, de caridade, de humildade, nos tornando uma fortaleza inexpugnável para o mal, para os visitantes indesejáveis, que mesmo que passem a nos ver como a um inimigo, um adversário a ser vencido, não terão forças e nem conhecimento para nos dominar, nos invadir.



Nada como possuirmos uma fortaleza de portas abertas, aquela que não mais teme ser dominada, que faz com que os que com ela não compactuem se afastem por si mesmos, porque sabem que ali nada encontrarão que os satisfaça, mas deixando-os com a perspectiva de um dia ali voltar, quando cansados de suas peripécias no mal venham a procurar por si mesmos um lugar de descanso, de lenitivo para seus sofrimentos, de paz e harmonia para o conflito íntimo que geraram para si, vindo a servir de pouso seguro para que aqueles que buscam uma mudança, uma renovação, um novo lar, uma nova forma de ver a vida, aquela que só encontrarão quando basearem suas escolhas e decisões no amor puro, nos ensinamentos e exemplos mais singelos e verdadeiros encontrados nos conceitos do Nosso Amado Mestre Jesus.



Que escolhamos nossos companheiros de jornada entre àqueles que têm o bem como prioridade, estejam eles ou nós no plano físico ou no plano espiritual, nesta extensa jornada que ainda temos a percorrer rumo a perfeição.     

quarta-feira, 23 de março de 2016

Em oração...




A oração é fundamental meio de comunicação, de intercâmbio, de sintonia da criatura com o Criador, de nós, espíritos em luta no plano físico, com os nossos amigos e benfeitores espirituais, que procuram nos auxiliar e orientar nesta oportunidade cármica que atualmente estamos vivenciando.



São eles, os tarefeiros do bem que nos acompanham, que buscam trazer o que de mais produtivo possa nos auxiliar a avançar, dentro daquilo que nós, seus tutelados, carecemos, mesmo que seja a dor e a dificuldade, visando priorizar não necessariamente aquilo que desejamos, mas sim, o que precisamos, ainda mais porque o que geralmente nos motiva nesta fase que a inferioridade ainda tem uma forte influência sobre nossas escolhas, é o que mais nos distanciará dos nossos objetivos maiores de evolução.



Ao orarmos conseguimos encontrar o equilíbrio para discernir, para tomarmos as decisões corretas, para assumirmos a postura necessária dentro das situações e dos embates que a vida nos proporcionar, ou que, por nosso livre arbítrio, buscarmos, auxiliando-nos, em contrapartida, a nos manter precavidos contra nossas próprias tendências inferiores, nossos vícios, ou as influências externas, oriundas de encarnados ou de desencarnados, que queiram nos arrastar e nos manter nas zonas baixas do pensamento e das intenções, seja quais forem os motivos que os levam a tentar fazer com que não avancemos em nossa batalha pela transformação íntima no bem.



A oração ao nos sintonizar com o Alto, com aqueles que buscam nos orientar na senda do bem, carece de que venhamos a materializar constantemente aquilo que nos faz buscar a companhia de nossos benfeitores, nos motivando não a esperar que nossos desejos e anseios venham a ser satisfeitos por intercessão ou privilégio, mas sim, nos impulsionando para a ação, para as atitudes que nos levarão a vencer nossos obstáculos, alcançar nossos sonhos, suportando e superando as dificuldades, ampliando nossa percepção e nossa capacidade intelectual e moral.



A precariedade das intenções, quando apenas desejamos receber aquilo que está ligado ao imediatismo mundano da existência física, como a conquista de bens materiais, de um emprego compensador financeiramente, de uma posição social, de um relacionamento amoroso, da suspensão de qualquer enfermidade ou contrariedade que venha a nos afetar, em nada encontra respaldo junto a espiritualidade superior quando forem estes os nossos desejos quando da sintonia através da oração, por mais que estejamos bem intencionados, por mais que nos julguemos merecedores do afeto e do carinho daqueles que nos protegem, seja qual for a frente religiosa a que nos filiarmos no plano físico.



Com isso não queremos dizer que nossos amigos espirituais não se preocupem com o nosso bem estar na Terra, apenas que não podemos ter isso como prioridade quando buscamos à eles nos sintonizar através da oração e do pensamento, buscando sim, que nos fortaleçam, que nos orientem a tomar as decisões corretas, mas dentro daquilo que precisamos, que seja o melhor para nossas necessidades evolutivas, principalmente as relacionadas as nossas pretéritas existências, as nossas prioridades cármicas, onde em muitas vezes elas vem contra ao que almejamos e desejamos no momento atual de nossa existência.



Agindo desta forma, valorizando a companhia de nossos protetores espirituais, preocupados apenas em nos manter no caminho do bem, em não nos deixar dominar por sentimentos negativos, por desejos inferiores, poderemos estar tranquilos quanto ao arrimo e proteção de nossos benfeitores, porque sempre quando o nosso desejo for o bem, eles estarão ao nosso lado nos fortalecendo, na certeza de que, quando possível e necessário for, também nos auxiliarão para que venhamos a ter sucesso profissional, em nossos relacionamentos pessoais, na conquista de nossos sonhos e aspirações, sem precisar assim, que venhamos a intima-los para resolver nossas situações ou transforma-las de acordo com nossos desejos imediatistas.




Pela oração nos sintonizamos com nossos amigos para que nos orientem, nos protejam, nos motivem, mas o trabalho, o esforço, a dedicação, a disciplina para a conquista, dependerá sempre exclusivamente de nós, responsáveis pelas nossas próprias vitórias, assim como, derrotas, angariando conhecimento, experiência, fortalecimento íntimo, a cada passo, a cada batalha, a cada sonho, cientes que, pacificados e equilibrados estaremos a prosseguir, quando nossas intenções, quando nossos desejos sinceros, estiverem alicerçados no bem, nos conceitos e exemplos cristãos, de amor e paz.  

terça-feira, 15 de março de 2016

Ainda Kardec...






Hoje, mais uma vez, daremos a palavra ao Codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec, reproduzindo mais um texto inserido no Livro "Obras Póstumas", uma coletânea de publicações, na maioria delas inéditas, encontradas entre o vasto material de estudo que ele deixou, lembrando que este foi escrito por volta de 1860, e o quanto ele se aproxima do atual momento que hoje estamos vivenciando.





As Aristocracias 


Aristocracia vem do grego aristos, o melhor, e Kratus, poder: a aristocracia, em sua acepção literária, significa, pois: Poder dos melhores. 

Convir-se-á que o sentido primitivo foi, por vezes, singularmente desviado; mas vejamos que influência o Espiritismo pode exercer sobre a sua aplicação. Para isso tomemos as coisas no ponto de partida e sigamo-las através das idades, para delas deduzir o que ocorrerá mais tarde. 

Em nenhum tempo, nem em nenhum povo, os homens em sociedade puderam abster-se de chefes; são encontrados entre os povos mais selvagens. Isso se prende a que, em razão da diversidade das aptidões e dos caracteres inerentes à espécie humana, há por toda a parte homens incapazes que é preciso dirigir, fracos que é necessário proteger, paixões que é preciso comprimir; daí a necessidade de uma autoridade. 

Sabe-se que, nas sociedades primitivas, essa autoridade foi deferida aos chefes de família, aos anciãos, aos velhos, em uma palavra, aos patriarcas; essa foi a primeira de todas as aristocracias.

Tornando-se as sociedades mais numerosas, a autoridade patriarcal ficou impossibilitada em certas circunstâncias. As querelas entre populações vizinhas ocasionaram os combates; foi preciso para dirigi-las não de velhos, mas de homens fortes, vigorosos e inteligentes; daí os chefes militares.

Vitoriosos esses chefes, se lhes conferia a autoridade, esperando encontrar, em sua bravura, uma garantia contra os ataques dos inimigos; muitos, abusando de sua posição, dela se apoderaram eles mesmos; depois, os vencedores se impuseram aos vencidos, ou os reduziram à servidão; daí a autoridade da força bruta, que foi a segunda aristocracia. 

Os fortes, com seus bens, transmitiram, muito naturalmente, sua autoridade aos seus filhos, e os fracos sob compressão, não ousando nada dizer, se habituaram, pouco a pouco, a considerar estes como os herdeiros dos direitos conquistados pelos seus pais, e como seus superiores; daí a divisão da sociedade em duas classes: os superiores e os inferiores, aqueles que mandam e aqueles que obedecem; daí, por consequência, a aristocracia de nascimento, que se torna tão poderosa e tão preponderante quanto a da força, porque ela não tinha força por si mesma, como nos primeiros tempos em que era preciso pagar por sua pessoa, ela dispunha de uma força mercenária. 

Tendo todo o poder, se dava, naturalmente, privilégios. Para a conservação desses privilégios, era preciso lhes dar o prestígio da legalidade, e ela fez as leis em seu proveito, o que lhe era fácil, uma vez que só ela as fazia. Isso não era sempre suficiente; deu-se o prestígio do direito divino, para torná-las respeitáveis e invioláveis. Para assegurar o respeito da parte da classe submissa que se tornava mais numerosa, e mais difícil de contentar, mesmo pela força, não havia senão um meio, impedi-la de ver claro, quer dizer, mantê-la na ignorância. 

Se a classe superior tivesse podido nutrir a classe inferior sem nada fazer, a teria facilmente dominado por muito tempo ainda; mas como esta era obrigada a trabalhar para viver, e trabalhar tanto mais quanto era oprimida, disso resultou que a necessidade de encontrar, sem cessar, novos recursos, de lutar contra uma concorrência invasora, de procurar novos mercados para os produtos, desenvolveu a sua inteligência, e ela se esclareceu pelas mesmas causas das quais se serviu para sujeitá-la. 

Não se vê aí o dedo da Providência? A classe submissa, portanto, viu claro; viu a pouca consistência do prestigio que se lhe opunha e, sentindo-se forte pelo número, aboliu os privilégios e proclamou a igualdade diante da lei. Esse princípio marcou, em certos povos, o fim do reino da aristocracia de nascimento, que não é mais do que nominal e honorífica, uma vez que ela não confere mais direitos legais. 

Então, se levantou um novo poder, o do dinheiro, porque com dinheiro se dispõe de homens e de coisas. Era um sol diante do qual se inclinava, como outrora se inclinava diante de um brasão, e mais baixo ainda. O que não se concedia mais ao título, se concedia à fortuna, e a fortuna teve os seus privilégios iguais. Mas, então, percebeu-se que, se para fazer fortuna é preciso uma dose de inteligência, não era preciso tanto para herdá-la, e que os filhos são, frequentemente, mais hábeis para comer do que para ganhar, que os próprios meios de se enriquecer nem sempre são irrepreensíveis; disso resultou que o dinheiro perdeu, pouco a pouco, seu prestígio moral, e que essa força tende a se substituir por um outro poder, uma outra aristocracia mais justa: a da inteligência, diante da qual todos podem se inclinar sem se aviltar, porque ela pertence ao pobre como ao rico. Será essa a última? Ela é a alta expressão da Humanidade civilizada? 

Não. A inteligência nem sempre é uma garantia de moralidade, e o homem mais inteligente pode fazer um emprego muito mau de suas faculdades. Por outro lado, só a moralidade pode, a miúdo, ser incapaz. A união dessas duas faculdades, inteligência e moralidade, é, pois, necessária para criar uma preponderância legitima, e à qual a massa se submeterá cegamente, porque lhe inspirará toda a confiança por suas luzes e por sua justiça. Será a última aristocracia, a que será a consequência, ou antes, o sinal do advento do reino do bem sobre a Terra. Chegará muito naturalmente pela força das coisas; quando os homens dessa categoria forem bastante numerosos, para formarem uma maioria imponente, será a eles que a massa confiará os seus interesses. 

Como vimos, todas as aristocracias têm a sua razão de ser; nascem do estado da Humanidade; ocorrerá o mesmo com aquela que se tornar uma necessidade; todas fizeram, ou farão, o seu tempo segundo o país, porque nenhuma teve por base o princípio moral; só esse princípio pode constituir uma supremacia durável, porque será animado dos sentimentos de justiça e de caridade; supremacia que chamaremos: aristocracia intelecto-moral. 

Um tal estado de coisas é possível com o egoísmo, o orgulho, a cupidez que reinam soberanos sobre a Terra? A isso responderemos com firmeza: sim, não somente é possível, mas chegará, porque é inevitável. Hoje, a inteligência domina; é soberana, ninguém poderia contestá-lo; e isso é tão verdadeiro que vedes o homem do povo chegar aos primeiros cargos. 

Essa aristocracia não é mais justa, mais lógica, mais racional do que a da força brutal, de nascimento ou do dinheiro? Por que, pois, seria impossível juntar-lhe a moralidade?

Porque, dizem os pessimistas, o mal domina sobre a Terra. Está dito que o bem não o dominará jamais? Os costumes e, por consequência, as instituições sociais, não valem cem vezes mais hoje do que na Idade Média? Cada século não foi marcado por um progresso? Por que, pois, a Humanidade se deteria quando tem ainda tanto a fazer? Os homens, por um instinto natural, procuram seu bem-estar; se não o encontram completo no reino da inteligência, procurá-lo-ão alhures; e onde poderão encontrá- lo se não for no reino da moralidade? Para isso, é preciso que a moralidade domine numericamente. 

Há muito a fazer, é incontestável, mas, ainda uma vez, haveria tola presunção em dizer que a Humanidade chegou ao seu apogeu, quando é vista a marchar, sem cessar, no caminho do progresso. Dizemos primeiro que os bons, sobre a Terra, não são inteiramente tão raros quanto se crê; os maus são numerosos, isto infelizmente é verdade; mas o que os faz parecer ainda mais numerosos, é que são mais audazes, e sentem que essa audácia mesma lhes é necessária para triunfarem; e, todavia, compreendem de tal modo a preponderância do bem que, não podendo praticá-lo, dele tomam a máscara. Os bons, ao contrário, não exibem as suas boas qualidades; não se colocam em evidência e eis porque parecem tão pouco numerosos; mas sondai os atos íntimos, realizados sem ostentação, e, em todas as classes da sociedade, encontrareis ainda bastante boas e louváveis naturezas para vos tranquilizar o coração e não desesperar da Humanidade. 

E, depois, é preciso dizer também, entre os maus há muitos que não o são senão por arrastamento, e que se tornariam bons se fossem submetidos a uma boa influência. Coloquemos em fato que, sobre 100 indivíduos, há 25 bons e 75 maus; sobre estes últimos, há deles 50 que o são por fraqueza, e que seriam bons se tivessem bons exemplos sob os olhos, e se, sobretudo, tivessem tido uma boa direção desde a infância; e que sobre os 25 francamente maus, nem todos são incorrigíveis. 

No estado atual das coisas, os maus estão em maioria e fazem a lei para os bons; suponhamos que uma circunstância leve à conversão dos 50 medianos, os bons estarão em maioria e farão a lei por seu turno; sobre os 25 outros francamente maus, vários sofrerão a influência, e não ficarão senão alguns incorrigíveis sem preponderância. 

Tomemos um exemplo para comparação: Há povos entre os quais o assassínio e o roubo são o estado normal; o bem ali é exceção. Entre os povos mais avançados e os melhores governados da Europa, o crime é exceção; perseguido pelas leis, e sem influência sobre a sociedade. O que ali ainda domina são os vícios de caráter: o orgulho, o egoísmo, a cupidez e seu cortejo. Por que, pois, esses povos progredindo, os vícios ali não se tornariam a exceção, como o são hoje os crimes, ao passo que os povos inferiores alcançariam novo nível? 

Negar a possibilidade dessa marcha ascendente seria negar o progresso. Seguramente, tal estado de coisas não poderia ser a obra de um dia, mas se há uma causa que deve apressar-lhe o advento, sem nenhuma dúvida, é o Espiritismo. Agente por excelência da solidariedade humana, mostrando as provas da vida atual como a consequência lógica e racional das ações realizadas nas existências anteriores, fazendo de cada homem o artífice voluntário de sua própria felicidade, de sua vulgarização universal resultará, necessariamente, uma elevação sensível do nível moral atual.

Os princípios gerais de nossa filosofia estão apenas elaborados e coordenados, e já reuniram, numa imponente comunhão de pensamentos, milhares de adeptos disseminados sobre toda a Terra. Os progressos realizados sob a sua influência, as transformações individuais e locais que provocaram, em poucos anos, nos permitem apreciar as imensas modificações fundamentais que são chamados a determinar no futuro. Mas se, graças ao desenvolvimento e à aceitação geral dos ensinos dos Espíritos, o nível moral da Humanidade tende constantemente a se elevar, enganar-se-ia estranhamente supondo-se que a moralidade se tornará preponderante com relação à inteligência. 
O Espiritismo, com efeito, não pede para ser aceito cegamente. Ele apela para a discussão e a luz.

"Em lugar da fé cega, que anula a liberdade de pensar, ele disse: Não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade. À fé, é necessária uma base, e essa base é a inteligência perfeita do que se deve crer; para crer, não basta ver, É preciso sobretudo compreender." (O Evangelho Segundo o Espiritismo.) 

Pois, com justiça, que podemos considerar o Espiritismo como um dos mais poderosos precursores da  aristocracia do futuro, quer dizer, da aristocracia intelecto moral. 

quinta-feira, 10 de março de 2016

Com a palavra Allan Kardec




Hoje daremos a palavra ao Codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec, reproduzindo um texto inserido no Livro "Obras Póstumas", uma coletânea de publicações, na maioria delas inéditas, encontradas entre o vasto material de estudo que ele deixou.



Lembremos que este texto foi escrito por volta de 1860, onde Kardec analisa os três princípios básicos da Revolução Francesa, sua terra natal, e que na época abalou todo o mundo, pela queda da monarquia absolutista pelo poder do povo, da república.


É um texto algo longo para o imediatismo moderno, ainda mais inserido, agora como apresentamos, nas redes sociais, onde o tempo parece escorrer ainda mais rápido, mas, para quem tiver o interesse de algo acrescentar a sua forma de pensar, ao seu conhecimento, poderá, com discernimento, captar a amplitude dos conceitos apresentados por Kardec para o quadro político social de sua época, e o quanto ele parece atual, em relação a atualidade que vive nossa sociedade moderna.

Bem, vamos a ele:   



Liberdade, Igualdade, Fraternidade!

Liberdade, igualdade, fraternidade, estas três palavras são, por si sós, o programa de toda uma ordem social, que realizaria o progresso mais absoluto da Humanidade, se os princípios que representam pudessem receber sua inteira aplicação.


Vejamos os obstáculos que, no estado atual da sociedade, podem a isso se opor e, ao lado do mal, procuremos o remédio. A fraternidade, na rigorosa acepção da palavra, resume todos os deveres dos homens relativamente uns aos outros; ela significa: devotamento, abnegação, tolerância, benevolência, indulgência; é a caridade evangélica por excelência e a aplicação da máxima: "Agir para com os outros como gostaríamos que os outros agissem conosco." 



A contrapartida é o Egoísmo. A fraternidade diz: "Cada um por todos e todos por um." O egoísmo diz: "Cada um por si." 



Sendo essas duas qualidades a negação uma da outra, é tão impossível a um egoísta agir fraternalmente, para com os seus semelhantes, quanto o é para um avarento ser generoso, a um homem pequeno alcançar a altura de um homem grande. Ora, sendo o egoísmo a praga dominante da sociedade, enquanto ele reinar dominador, o reino da verdadeira fraternidade será impossível; cada um quererá da fraternidade em seu proveito, mas não a quererá para fazê-la em proveito dos outros; ou, se isso faz, será depois de estar seguro de que não perderá nada. 



Considerada do ponto de vista de sua importância para a realização da felicidade social, a fraternidade está em primeira linha, é a base; sem ela não poderia existir nem igualdade e nem liberdade sérias; a igualdade decorre da fraternidade, e a liberdade é a consequência das duas outras. 


Com efeito, suponhamos uma sociedade de homens bastante desinteressados, bons e benevolentes para viverem, entre si, fraternalmente, não haveria entre eles nem privilégios nem direitos excepcionais, sem o que não haveria ali fraternidade.



Tratar alguém como irmão, é tratá-lo de igual para igual; é querer-lhe o que desejaria para si mesmo; num povo de irmãos, a igualdade será a consequência de seus sentimentos, de sua maneira de agir, e se estabelecerá pela força das coisas. 



Mas qual é o inimigo da igualdade? O orgulho!



O orgulho que, por toda a parte, quer primar e dominar, que vive de privilégios e de exceções, pode suportar a igualdade social, mas não a fundará jamais e a destruirá na primeira ocasião. Ora, sendo o orgulho, ele também, uma das pragas da sociedade, enquanto não for destruído, oporá uma barreira à verdadeira igualdade. A liberdade, dissemos, é filha da fraternidade e da igualdade; falamos da liberdade legal e não da liberdade natural que é, por direito, imprescritível para toda criatura humana, desde o selvagem ao homem civilizado. 


Vivendo os homens como irmãos, com os direitos iguais, animados de um sentimento de benevolência recíproco, praticarão entre si a justiça, não procurarão nunca se fazerem mal, e não terão, consequentemente, nada a temer uns dos outros. 



A liberdade será sem perigo, porque ninguém pensará em dela abusar em prejuízo de seus semelhantes. Mas como o egoísmo que quer tudo para si, o orgulho que quer sempre dominar, dariam a mão à liberdade que os destronaria? Os inimigos da liberdade são, pois, ao mesmo tempo, o egoísmo e o orgulho, como o são da igualdade e da fraternidade. 



A liberdade supõe a confiança mútua; ora, não poderia haver confiança entre pessoas movidas pelo sentimento exclusivo da personalidade; não podendo se satisfazer senão às expensas de outrem, sem cessar, estão em guarda uns contra os outros. 


Sempre com medo de perder o que chamam seus direitos, a dominação é a condição mesma de sua existência, por isso armarão sempre ciladas à liberdade, e a abafarão tanto tempo quanto o puderem. Esses três princípios são, pois, como o dissemos, solidários uns com os outros e se servem mutuamente de apoio; sem sua reunião, o edifício social não poderia estar completo. A fraternidade praticada em sua pureza não poderia estar só, porque sem a igualdade e a liberdade não há verdadeira fraternidade. A liberdade sem a fraternidade dá liberdade de ação a todas as más paixões, que não têm mais freio; com a fraternidade, o homem não faz nenhum mau uso de sua liberdade: é a ordem; sem a fraternidade, ele a usa para dar curso a todas as suas torpezas: é a anarquia, a licença.



Por isso que as nações mais livres são forçadas a fazerem restrições à liberdade. A igualdade sem a fraternidade conduz aos mesmos resultados, porque a igualdade quer a liberdade; sob pretexto de igualdade, o pequeno abate o grande, para se substituir a ele, e se torna tirano a seu turno; isso não é senão um deslocamento do despotismo. 


Segue-se que, até que os homens estejam imbuídos do sentimento da verdadeira fraternidade, falta tê-los na servidão? Que sejam impróprios às instituições fundadas sobre os princípios de igualdade e de liberdade? Semelhante opinião seria mais do que um erro; seria absurda. Não se espera que uma criança haja feito todo o seu crescimento para fazê-la caminhar. Quem, aliás, a tem mais frequentemente em tutela?São homens de idéias grandes e generosas, guiados pelo amor ao progresso? Aproveitando da submissão de seus inferiores, para desenvolver neles o senso moral, e elevá-los, pouco a pouco, à condição de homens livres? Não; são, na maioria, homens ciosos de seu poder, à ambição e à cupidez dos quais outros homens servem de instrumento, mais inteligentes do que animais, e que, para esse efeito, em lugar de emancipá-los os têm, o maior tempo possível, sob o jugo e na ignorância. Mas essa ordem de coisas muda por si mesma pela força irresistível do progresso. A reação é, às vezes, violenta e tanto mais terrível quanto o sentimento de fraternidade, imprudentemente abafado, não vem interpor um poder moderador; a luta se estabelece, entre aqueles que querem agarrar e aqueles que querem reter; daí um conflito que se prolonga, frequentemente, durante séculos. 


Um equilíbrio factício se estabelece enfim; há melhoria; mas sente-se que as bases sociais não estão sólidas; o solo treme a cada instante sob os passos, porque não é, ainda, o reino da liberdade e da igualdade sob a égide da fraternidade, porque o orgulho e o egoísmo estão sempre ali, levando ao fracasso os esforços dos homens de bem. 


Todos vós que sonhais com essa idade de ouro para a Humanidade, trabalhai, antes de tudo, na base do edifício, antes de querer coroar-lhe a cumeeira; dai-lhe por base a fraternidade em sua mais pura acepção; mas, para isso, não basta decretá-la e inscrevê-la sobre uma bandeira; é preciso que ela esteja no coração e não se muda o coração dos homens com decretos. Do mesmo modo que, para fazer um campo frutificar, é preciso arrancar-lhe as pedras e os espinheiros, trabalhai sem descanso para extirpar o vírus do orgulho e do egoísmo, porque aí está a fonte de todo mal, o obstáculo real ao reino do bem; destruí nas leis, nas instituições, nas religiões, na educação, até os últimos vestígios, os tempos de barbárie e de privilégios, e todas as causas que mantêm e desenvolvem esses eternos obstáculos ao verdadeiro progresso, que se recebe, por assim dizer, desde a meninice e que se aspira por todos os poros na atmosfera social; só então os homens compreenderão os deveres e os benefícios da fraternidade; então, também, se estabelecerão por si mesmos, sem abalos e sem perigo, os princípios complementares da igualdade e da liberdade. A destruição do egoísmo e do orgulho é possível? Dizemos alta e ousadamente SIM, de outro modo seria preciso colocar uma suspensão ao progresso da Humanidade. O homem cresce em inteligência, é um fato incontestável; chegou ao ponto culminante que não poderia ultrapassar? Quem ousaria sustentar essa tese absurda? Progride ele em moralidade? 


Para responder a esta pergunta, basta comparar as épocas de um mesmo país. Por que, pois, teria antes alcançado o limite do progresso moral do que do progresso intelectual? Sua aspiração, para uma ordem de coisas melhor, é um indício da possibilidade de a isso chegar. Aos homens progressistas cabe ativar o movimento pelo estudo e pela prática dos meios mais eficazes. 

quarta-feira, 9 de março de 2016

Nosso lar, nosso santuário...




Nosso lar, nosso santuário, assim deve ser, assim, deveria sempre ser.



Estamos em um mundo de expiações e provas, e, consequentemente, ainda na busca do equilíbrio individual, e do aprendizado e entendimento na relação com nossos irmãos do caminho, essencialmente, na aceitação das diferenças e dos estágios evolutivos já conquistados, e ainda por conquistar por cada um de nós.



Em nossas imperfeitas existências pretéritas muitas dívidas contraímos para com o próximo, da mesma forma que muitos estão a nos dever, por crimes, ofensas, agressões, traições, reciprocamente realizadas, já que sempre no saldo geral, não há devedores ou credores, agressores ou agredidos, mas sim, etapas diferenciadas onde em cada uma delas, quando ainda não aprendemos a vivenciar o sentimento cristão do amor e paz, acabamos por alternar estas posições, por não conseguirmos ainda sinceramente perdoar aqueles que nos prejudicaram, assim como ainda não possuímos a humildade suficiente para, por nossa vez, pedir o perdão àqueles a quem ofendemos.



Assim, sem mesmo darmos conta, por um longo e indeterminado período de nossa jornada evolutiva, vivemos todos com mínimos avanços, presos a uma contínua corrente onde, de injustiçados, praticamos a injustiça, de vítimas passamos a algozes, até que pelo menos uma das partes desperte para a Verdade Cristã, vencida pelo cansaço, pelo sofrimento ininterrupto, pelo desgaste que o círculo vicioso do erro traz, o afastando de qualquer possibilidade de reajustamento e renovação.



O lar, pela proximidade e intimidade com que ficamos com aqueles que nos auxiliam a compô-lo, é um dos principais locais onde poderemos aparar estas diferenças, lutando pelo perdão unilateral ou recíproco, quitando nossos débitos com nossos desafetos, com nossos adversários, com aqueles a quem ofendemos ou prejudicamos, com os que assumimos dívidas a serem pagas e reincididas.


Este é o motivo que, por vezes, sob o mesmo teto, pais, filhos, irmãos, cônjuges, sintam tantas dificuldades de convívio, unidos pelos laços de sangue ou não, onde barreiras parecem ser levantadas para que não haja a harmonia e a paz que teoricamente deveria vigorar, onde muitos se veem com inveja, com medo, com rancor, com prevenção, com desconfiança, mesmo que nada aparentemente tenha ocorrido em algum dia, de suas atuais existências, para que tais sentimentos prevalecessem.



Este é um dos motivos de vermos e, nos assombrarmos, com notícias onde pais abandonam ou tiram a vida de seus filhos, ou de filhos que por mais amor que recebam venham a odiar ou desprezar a seus pais, onde irmãos se tornam rivais, onde a convivência se torna difícil, e, em muitas situações, insustentável.



Porém, é fato, que por mais difícil seja a prova que tenhamos a enfrentar, por mais dolorosa possa vir a ser a expiação, individual ou coletiva, o fardo que temos a carregar nunca será superior as nossas forças, o que deixa claro que nada justificará nossos atos, caso venhamos a nos portar de forma agressiva ou ofensiva com alguém que vive em nosso lar, em nossa família, na relação mais íntima de nossas amizades, quando teremos sempre a oportunidade de superar qualquer aversão, qualquer sentimento contrário ao bem, sendo que, quando a eles nos entregamos, o fazemos por nossa livre escolha, presos ainda aos sentimentos inferiores que trazemos vivos dentro de nós, fazendo com que, consequentemente, mais uma vez venhamos a falir na oportunidade de renovação e reconciliação com o nosso passado culposo.



Se precisamos lutar para que nossas ações e reações, em nossa existência comum, se baseiem sempre nos conceitos e exemplos cristãos, se é sincero o nosso desejo de transformação para o bem, maior ainda deverá ser esta luta quando tratarmos, especificamente, do nosso lar, da nossa família, de todos aqueles que desfrutam de nossa intimidade e de nosso convívio diário, em inúmeras situações de interdependências, de troca de sentimentos, onde o aprendizado da vida se faz também em grupo, com aqueles que algo nos doam, e que por nossa vez, algo doamos.



Quando formamos uma família no plano físico, esta, na maioria dos casos, já foi formada antes, no plano espiritual, quando começamos a tomar ciência do que precisaremos e deveremos enfrentar e realizar para o nosso avanço como individualidade, assim, o convívio com nossos adversários, com quem são nossos credores ou devedores, já é de nosso conhecimento, já trazemos em nós de forma intuitiva, sendo para tal, devidamente preparados para não sucumbir, o que faz com que sejam de nossa inteira responsabilidade, assim como também deles, os frutos que serão colhidos no futuro, decorrentes deste convívio, podendo ter se estabelecido a paz e a concórdia, ou, infelizmente, como em muitos casos, verem agravadas suas recíprocas dívidas.



Por mais seja difícil um relacionamento íntimo entre aqueles que por algum motivo se sintam incomodados com a presença do outrem, dependerá sempre dos sentimentos que vivenciarem e alimentarem para que a situação venha a ser, ao final, benéfica ou não, para um ou para ambas as partes, porque aquele que alimentar o perdão, a bondade, a caridade, a boa vontade, aquele que estiver disposto a aceitar as diferenças, a tolerar o que não gosta no outro, em lutar para vencer a aversão que sente e aos poucos transformar este sentimento em simpatia, em respeito, em tolerância, em amizade, e até mesmo em amor, conseguirá vencer a si mesmo, rompendo a corrente inferior que o ligava a seu antigo desafeto, aprendendo a tê-lo como a um irmão, alguém merecedor de seu carinho, do melhor de seus sentimentos, até mesmo quando ainda não seja recíproco este tratamento.



A luta é coletiva, mas a vitória será sempre individual.



Em contrapartida, assim também será em relação a derrota para aquele que, preso ao seu passado culposo, sucumbir, deixando-se mais uma vez levar pela vaidade, pelo ciúme, pela inveja, pelo egoísmo, pelo orgulho, vindo a alimentar o ódio, o desprezo, a revolta, para com aqueles que mais merecedores seriam de seu afeto, aqueles que nasceram e convivem sob o mais sagrado dos tetos, o do próprio lar.




Amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a nós mesmos, esse será sempre o melhor caminho para avançarmos, para evoluirmos, para transformarmos tudo a nossa volta, inclusive, o ambiente onde vivemos, o nosso lar, fazendo dele um refúgio de paz frente a guerra que precisamos enfrentar em nosso dia a dia por nossa subsistência, aprendendo a ser valorosos tarefeiros das forças do bem, não mais enxergando em nenhum companheiro de jornada, dentro ou fora de nossa casa, um adversário a ser batido, um inimigo a ser exterminado, mas sim, a um irmão que merece o nosso respeito, que merece o que de melhor temos a ofertar, trazendo vivo dentro de nós a esperança que o bem será sempre a força motriz a nos fazer caminhar e juntos avançar.       

quarta-feira, 2 de março de 2016

Caminhemos então...










Jesus nos ensinou que devemos perdoar não apenas sete vezes, como foi sugerido por seu apóstolo, mas, setenta vezes sete, porém, como Ele também nos trouxe, para alcançarmos o Reino de Deus, ou seja, para atingirmos o ideal cristão, a transformação não mais sujeita à quedas, tão comuns em nosso atual estágio evolutivo, o principal caminho se resume a amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a nós mesmos!


Assim, uma necessidade evolutiva está intimamente ligada e interdependente à outra, quem não ama, não tem condições espirituais e intelectuais, para compreender, na essência, o que é o perdão, o que é desculpar e relevar uma ofensa, uma traição, uma agressão, não consegue viver sem alimentar mágoas, sem esquecer decepções. Quem não conhece o amor não tem condições de compreender, aceitar e respeitar as diferenças intelectuais e morais, os diferentes degraus que cada um já conseguiu galgar, independente de estar no plano físico ou no espiritual.


Quem ama respeita, consequentemente, se além de nossos entes queridos, também amarmos o lugar que vivemos, a natureza, os animais, as pessoas, também respeitaremos a tudo e a todos, aprendendo a compreender suas necessidades, suas limitações, suas prioridades, suas dificuldades, até mesmo suas deficiências e inferioridades, ainda mais porque, se humildes somos, também somos reconhecedores do quanto ainda nos falta para nos isentarmos de erros, de quedas, de crimes, fazendo com que o objetivo principal passe a ser o bem e o melhoramento coletivo, e não mais apenas a satisfação dos gozos pessoais.


Em contrapartida, aquele que não perdoa, que não é tolerante, aquele que busca na vingança, a justiça de forma deturpada e egoísta, distante até mesmo da falível justiça humana, e consequentemente, ainda mais da perfectível justiça divina, cria para si uma atmosfera onde o ódio, a revolta, a violência, e a natural frustação e insatisfação de não encontrar a paz, passam a domina-lo e conturba-lo, fazendo com que perca o equilíbrio, que tenha obscurecido o seu poder de discernimento, confundindo sua atual posição de vítima à de agressor que passa a ser, angariando para si apenas a negatividade que o mal proporciona, acumpliciando-se com forças que fatalmente o dominarão e o afastarão de qualquer imediata chance de recuperação e de pacificação íntima, impedindo-o assim de dar continuidade imediata a sua existência, e consequentemente, a sua senda evolutiva.


Quem hoje se sente injustiçado, agredido, traído, violentado, magoado por alguma situação, por um irmão do caminho, por um ente até então querido, e já conhece, de alguma forma, os conceitos doutrinários do Espiritismo, no que tange a reencarnação, a lei da causa e efeito, sabe que pode estar vivendo uma reação, uma consequência natural do que tenha feito ou gerado em outra existência, onde por sua vez assumiu o papel de agressor, e talvez, até mesmo contra as mesmas pessoas que agora o prejudicam, e possivelmente em um grau de intensidade maior ao que hoje está sendo atingido.


A única maneira de por fim a está sucessão de equívocos entre pretensas vítimas e algozes, está exatamente no amor, no perdão, único meio de romper as correntes que nos ligam ao passado culposo, as nossas antigas vítimas, aos nossos antigos ou atuais agressores, fazendo com que faça valer o ditado popular onde quando um não quer dois não brigam, quando um dos envolvidos reconhece suas imperfeições, reconhece sua incapacidade de julgar ao próximo, se baseando no ensinamento do Mestre em que apenas quem estiver sem pecado tem o direito de apedrejar o agressor, e quem o está?


Sejamos nós a dar o primeiro passo, porque exatamente esta é a principal questão, somos os únicos responsáveis pelo nosso destino, quem nos auxilia ou nos prejudica são apenas as ferramentas que a vida coloca para moldar nossa personalidade, da mesma forma que as nossas ações também auxiliam a moldar a personalidade do próximo.


São as nossas reações, a nossa forma de agir, de pensar e de sentir, frente aos embates da vida, sejam as alegrias ou as tristezas, ao que ganharmos ou perdermos, as nossas vitórias ou derrotas, que irão formar a nossa personalidade, e nos direcionar para as situações futuras que iremos enfrentar, boas ou ruins, mas sempre de acordo com as nossas necessidades e prioridades cármicas, sempre consequências naturais de nossas escolhas, a colheita exata daquilo que plantarmos.


Não somos juízes, não somos réus, precisamos apenas amar, e assumir nossas responsabilidades individuais e com o todo onde estamos inseridos, seguindo, na medida de nossas forças, aos passos e aos exemplos do Nosso Mestre Jesus, sabedores que o nosso fardo está de acordo com nossas forças, e que só exigirá a coragem e a determinação de assumi-lo e transforma-lo, até que seja tão leve como a imensurável paz que só o bem transmite e proporciona.



Caminhemos então...