terça-feira, 23 de junho de 2020

Espiritismo e Preconceito





Falaremos hoje sobre um tema antigo, milenar, mas muito atual, quando vemos diariamente inúmeros casos na mídia que demonstram o quanto ainda estamos, como individualidade e sociedade, distante de vence-lo e supera-lo: O Preconceito!

Abordaremos o tema sem a pretensão de abrangermos todos os seus aspectos, devido a sua abrangência e complexidade, mas o faremos direcionando-o para o nosso objetivo principal, o estudo da Doutrina Espírita.

Consultando o dicionário, temos o significado literal da palavra:

- Qualquer opinião ou sentimento concebido sem exame crítico;

- Ideia, opinião ou sentimento desfavorável formado sem conhecimento abalizado, sem ponderação ou razão;

- Sentimento hostil, assumido em consequência da generalização apressada de uma experiência pessoal, ou imposta pelo meio onde vivemos;

- Intolerância.

Desta forma, qualquer pensamento, palavra, opinião, atitude em relação aos nossos irmãos do caminho que venha a julga-los de forma indevida e negativa devido a sua cor, a sua preferência sexual, a sua religião, a sua classe social, a região ou país onde nasceu, aos seus vícios, a sua aparência física, entre tantas outras formas de segregação, é PRECONCEITO.

No estudo da Doutrina Espírita, vemos várias passagens em todas as obras da Codificação, como as que tratam da sucessão e aperfeiçoamento das raças, da marcha do progresso, da necessidade da vida social, do avanço da legislação humana, das leis da igualdade e da liberdade, esta que trata diretamente da escravidão, lembrando que na época que as obras foram escritas a escravidão ainda se espalhava pelo mundo, vemos que em nenhum momento, essas passagens tratam à evolução humana, física ou espiritual, se referindo a fatores ligados a cor, a religião, a classe social, mas única e exclusivamente ao progresso moral, a fatores ligados a honestidade, a caridade, a bondade, ao respeito, a igualdade social, onde o mais rico tem o dever de auxiliar ao mais pobre e não esmaga-lo, ou o que tiver melhor cultura, maior conhecimento, maiores condições físicas ou materiais, o dever de compartilhar o que possuí, e não tirar partido vindo a explorar ao próximo de alguma forma.

Temos como exemplo, as questões 96 e 97 do “O Livro dos Espíritos”, que tratam da classificação dos espíritos por ordens, de acordo com suas características morais e de personalidade, reunindo-os em três grandes ordens, que depois são subdivididas, que são: Espíritos imperfeitos, Espíritos bons, e Espíritos puros.

Em todas essas divisões e suas respectivas subdivisões, em nenhum momento, o que difere uma classe da outra são os fatores que já relacionamos acima que caracterizam a atitude e o pensamento preconceituoso, e sim, os fatores morais, aqueles que diferenciam o estágio evolutivo da individualidade em relação a sentimentos como o egoísmo, a vaidade, o orgulho, a cobiça, a usura, a maldade, a prepotência, a intolerância, e os sentimentos do bem, como a empatia, a tolerância, a caridade, a humildade, e, principalmente, o amor.

O principal conceito trazido pelo Espiritismo que vai contra o preconceito de qualquer espécie, até mesmo mostrando sua total falta de lógica, é o conceito da Reencarnação.

Como pensarmos em nos colocar em qualquer situação de falsa superioridade em relação aos nossos irmãos do caminho, indo contra a humildade preconizada pelo Cristo, que deixa claro que os últimos serão sempre os primeiros, se poderemos vir em uma próxima existência em uma posição idêntica aqueles que no presente perseguimos, desprezamos e violentamos?

Como poderemos afirmar em qual posição retornaremos em uma próxima vida? Pela lei da causa e efeito, a probabilidade é grande que voltemos na mesma posição daqueles que foram frutos do nosso preconceito, com a mesma raça, a mesma condição social, a mesma preferência sexual, os mesmos vícios, nascidos nas mesmas regiões ou países, entre tantas outras situações.

Algo é certo, podemos considerar, neste sentido, a Lei da Reencarnação, como uma lei que nos traz a  empatia de forma compulsória, como uma obrigação, ainda que vemos muitos irmãos do caminho atualmente deixando claro que seus sentimentos preconceituosos ainda estão arraigados em seu íntimo, mesmo fazendo parte do grupo que sofre com tais ataques, como negros ou homossexuais que afirmam ser exagero ou mentira que atualmente ainda haja discriminação, preferindo dar razão a seus opressores.

Precisamos nos analisar e ponderar o quanto ainda trazemos em nós pensamentos e sentimentos preconceituosos, ainda que não admitamos ou externamos. O quanto ainda julgamos ao avistar uma pessoa como possível agressora apenas pela sua cor, o quanto mudamos o nosso grau de tratamento, de respeito, de deferência de acordo com a profissão, o status social do nosso interlocutor, de que forma nos postamos frente a um médico e a um gari, a alguém que se veste com humildade e a alguém que está de terno e gravata.

Hoje em dia temos uma legislação que visa proteger aqueles que são agredidos por sua preferência sexual, por sua religião, por sua cor, mas como sociedade ainda distantes estamos de aceitar as mudanças que se fazem necessárias para tirarmos de nós essa postura preconceituosa que muitos consideram ser “normal” e que as temos sem nem mesmo perceber.

Não deve mais haver espaço para brincadeiras e piadas sobre a cor, o gênero, as características físicas, a religiosidade, sobre o nível cultural das pessoas mais simples, porque pode ser muito engraçado para a grande maioria, mas será que também assim é para aqueles que estão sendo alvo da piada?

Ouvimos muitos afirmarem que antigamente se fazia piada sobre tudo e que todos viviam de forma "normal", mas como afirmar que todas as crianças que se sentiram excluídas, marginalizadas, pelo que sofreram com as "brincadeiras", não cresceram afetadas psicologicamente e traumaticamente?

O Preconceito existirá enquanto considerarmos “normal” a discriminação sobre qualquer desculpa ou motivo, as mudanças se fazem necessárias, desta forma, a nossa postura no passado, ainda que inocente, era errada, era uma falta de respeito por aqueles que eram alvo de nossas indevidas manifestações.

Se somos cristãos, se desejamos ser pessoas de bem, precisamos caminhar para frente, nos solidarizando com aqueles que ainda são vítimas de atitudes preconceituosas e lutando para que estas sejam definitivamente extintas de nossa sociedade, lembrando que lutar, para o espírita, significa agir com bondade, com caridade, com tolerância, com respeito, para com aqueles que pensem de forma divergente da sua, mas sem nunca compactuar e se acumpliciar com o mal, não reagindo na mesma proporção na agressividade, mas não se omitindo frente a necessidade de termos uma sociedade mais justa e cristã.

A parábola do bom Samaritano é a mais explícita forma de como devemos tratar os nossos irmãos do caminho, nunca deixando de algo fazer no bem devido a julgamentos íntimos, nos relacionando sem preconceitos, sem fatores condicionantes, compreendendo que todos vivemos estágios evolutivos diferenciados, mas que nos cabe sempre respeitar e dar aquilo que de positivo tivermos a nosso alcance.

O principal é cada um fazer a sua parte, seguindo o Nosso Mestre Jesus, que nos recomendou amar ao próximo como a si mesmo, com toda a pureza que esse amor possa representar.

Que assim seja!   

sábado, 6 de junho de 2020

Dar e Receber!




Damos o que temos condições de ofertar e recebemos aquilo que temos condições de assimilar.

Nossas energias, positivas ou negativas, nossos pensamentos, nossas atitudes, nossa forma de vida, é que determinam que espaço ocuparemos na escala evolutiva espiritual, e assim, determinarmos o que estaremos aptos a conquistar, aquilo que nos será lícito agregar a nossa individualidade eterna, em uma sintonia energética e fluídica, vindo a angariar companhias e franquear ambientes de acordo com o que somos, tendo exatamente o que merecemos, e o que o nosso esforço, ou até mesmo o nosso não esforço nos credenciou a vivenciar.

Dentro das forças positivas que estão disponíveis a todo trabalhador de boa vontade, conforme prometido por Jesus, dependerá sempre o esforço próprio, a sinceridade de intenções, dos sentimentos alimentados no íntimo, aliado ao estudo, ao trabalho, a luta contra as imperfeições íntimas, o êxito da empreitada, devendo estar ciente que o maior inimigo, o maior obstáculo a ser vencido será ele mesmo, o quanto ainda se mantém ligado ao seu passado culposo, e aos seres que de alguma forma dele fizeram parte, sejam como cúmplices, associados, inimigos ou adversários, quando ocupou aleatoriamente a posição de vítima ou algoz, distante ainda da personalidade de um homem de bem.

Como tarefeiro espírita assim também deve ser a sua postura, se mantendo ciente que longe está da perfeição e de possuir amplo domínio sobre seus sentimentos.

Comum ainda, mesmo que bem intencionado, devido a forma condicionada que tem de agir e reagir frente às situações, que corra o risco de se deixar levar pelo orgulho, pela vaidade, pelo egoísmo, pelo medo, quando estes sentimentos ainda façam parte de sua personalidade, mesmo que temporariamente estejam em estado latente, tendo assim que aumentar a vigilância sobre si mesmo, principalmente, quando passa a interagir com outros irmãos do caminho.

O nosso esforço, como espíritas e cristãos, deverá ser sempre o da nossa transformação espiritual, concentrados em avaliar os sentimentos inferiores que ainda possuem uma forte influência sobre nós, combatendo-os sem trégua, porque de nada adianta estarmos engajados em tarefas atinentes a Doutrina, sendo até mesmo assíduos e responsáveis, se continuarmos em nosso íntimo, na relação com o próximo e com a sociedade onde estamos inseridos, a agir da mesma forma que agimos em pretéritas experiências, e que nos fez até agora permanecer distante de um equilíbrio e de uma paz que só conquista aquele que renova seu coração de acordo com a mais pura moral cristã, toda ela baseada no amor e na mais ampla essência que ele representa.

Paralelamente a esta luta contínua para evoluirmos espiritualmente vencendo nossas imperfeições, precisamos como espíritas nos dedicar ao estudo dos preceitos doutrinários, aumentando nosso cabedal de conhecimento, nos qualificando para não só avançarmos mais rapidamente e racionalmente, como também, passarmos a auxiliar no crescimento de outros irmãos do caminho que venham a procurar no Espiritismo uma nova fonte de estudo e trabalho.

Quanto mais conhecimento adquirido melhor será o desempenho nas tarefas que de livre vontade nós assumirmos nas lides espíritas,  seja como médiuns, como palestrantes, como orientadores, como dirigentes, como doutrinadores, na equipe de passe, ou, simplesmente, no auxílio das tarefas atinentes a organização e a assistência social.

Não existem tarefas mais ou menos importantes, existem sim aquelas que temos maior ou menor capacidade de realizar, que nos sentimos mais ou menos afinados, mais ou menos a vontade, devendo basear nossas escolhas naquilo que de mais produtivo tenhamos a oferecer, sem nos preocupar com títulos ou elogios, com orgulho ou vaidade, estando cientes que melhor será sermos um bom ajudante do que um irresponsável ou ineficaz dirigente.

Uma coisa é certa, a verdade está sempre nos ensinamentos e nos exemplos que o Mestre Jesus nos deixou, cientes que muito será cobrado daquele que muito recebeu, e desta forma, quanto maior o conhecimento conquistado maiores serão as responsabilidades assumidas, principalmente, as que se referem diretamente a nossa transformação espiritual no bem.

Encontraremos sempre o que buscarmos, nossa vontade será sempre fator determinante para realizar nosso presente e construir o nosso futuro, temos plena liberdade de ação, o que nos deixa infinitas possibilidades realizadoras.

Quando no caminho do bem teremos ao nosso lado amigos, benfeitores e mentores espirituais que nos protegerão e nos orientarão para que venhamos a desempenhar as nossas tarefas a contento, da mesma forma, porém, que temos a ciência que antigos e novos desafetos, insatisfeitos com a nossa atual postura, tudo irão fazer para nos distrair, para tirar o nosso foco sobre as responsabilidades assumidas, tentando nos desviar do caminho, tentando nos seduzir para antigas paixões e antigos vícios, nos desafiando a provar se, de fato, já os superamos e vencemos.

A cada um segundo suas obras, somos assim os construtores do nosso próprio destino, fazedores da nossa história.

Sigamos resolutos na intenção do bem, firmando nosso desejo sincero de renovação, assumindo o compromisso de lutar não só pela nossa instrução e elevação, mas também, na daqueles que de alguma forma pudermos vir a auxiliar e orientar, nos tornando assim mais um elo na corrente de amor que percorre o universo, como efetivos trabalhadores da Seara do Nosso Mestre Jesus.

Que assim seja!