Um
ponto delicado, mas importantíssimo se estudado e comentado: a Religião!
Para
o espírita, fato incontestável, é que antes de qualquer avaliação sobre sua
conduta frente aos preceitos de sua Doutrina ele precisa ser essencialmente:
cristão!
A
Doutrina Espírita é a terceira revelação, Moisés veio trazer a primeira,
unificando Deus e apresentando suas leis, Jesus Cristo, Ele, o Mestre, a
segunda, ratificando sim, a necessidade única do cumprimento das leis divinas,
mas para isso, veio nos apresentar o Amor, em sua mais pura concepção, nos
doando as noções básicas da vida, e prometendo, para completa-las a amplia-las,
o Consolador Prometido, o Espiritismo, aquele que nos trouxe a expansão de seus
ensinamentos básicos, sendo, tudo o que ele nos trouxe na atualidade incompreensível
para a época da revelação cristã, bem como as subsequentes, principalmente o
período da idade média, o período do Terror, onde quem ousasse sequer cogitar sobre
assuntos fora dos dogmas impostos pela igreja era sumariamente taxado de
herege, com forte possibilidade de terminar sua passagem pelo plano físico na
fogueira, em uma época onde o vulgo não tinha acesso aos evangelhos, sem o
direito até mesmo de estuda-los e conhece-los no recesso do seu lar.
Ele,
o Consolador Prometido, surgiu na hora certa, quando o homem começava a
questionar os dogmas religiosos, quando a ciência passou a ganhar espaço e importância
através de suas descobertas, quando não mais a igreja teve forças para obstruir
seu avanço, dando oportunidade para que as pessoas começassem a pensar por vontade
própria, questionando, buscando respostas, não mais agindo como simples
cordeiros, com pastores mais interessados em manter seu poder e seu mando, do
que, de fato, elas evoluíssem como seres humanos.
Não
mais a crença cega em um inferno de penas irremissíveis. ou de um céu beatífico
e contemplativo para quem a ele pelas boas ações tivessem acesso, não mais a figura
do diabo, ser criado para o mal, não mais as figuras de anjos que nada mais
fazem do que glorificar e assistir a queda inevitável da maioria dos homens, em
um curto período de uma única existência; não mais a Terra como centro do
universo, e sim, como mais um, entre bilhões de mundos habitados, onde todos
caminham juntos, e progressivamente, para a perfeição auferida como direito insofismável
a todos.
A
Terceira Revelação, o Consolador Prometido, não veio como as anteriores, sob o
comando e o protagonismo de um único predestinado ser, como Moisés e Jesus Cristo,
mas sim, através de uma plêiade de espíritos que, ao mesmo tempo, e de forma
incisiva, começaram a se manifestar ostensivamente, nos quatros cantos do
mundo, despertando a atenção da humanidade encarnada para um fenômeno que viria
definitivamente provar que a vida prossegue após a até então temida morte, e
quem vinha lhes dizer isso era exatamente seus queridos mortos, através de
diversas maneiras, gerando fatos que no início beiravam ao sobrenatural, mas
depois, com a observação séria, o estudo metódico, foram devidamente colocados em
seus lugares de direito, no conhecimento e aceitação dos que a eles dedicaram
seu tempo, como sempre foram as principais descobertas que alavancaram os mais
importantes avanços da humanidade terrestre.
Foi
exatamente este o papel que coube a Allan Kardec, ele não foi o inventor ou quem
“descobriu” a Doutrina Espírita, ele teve o nobilíssimo trabalho de assumir o comando
de reunir, compilar, estruturar, decodificar, todo o extenso cabedal de
informações e conhecimentos que estavam sendo trazidos pelos espíritos em inúmeras
reuniões realizadas nos mais diversos pontos do globo terrestre.
Em
um trabalho sério, disciplinado, metódico, ele reuniu os fatos e corajosamente,
tomou para si a responsabilidade de criar um corpo de doutrina, auxiliado e secundado
por seus benfeitores espirituais, comandados pelo Espírito da Verdade, gerando
nomenclaturas específicas e explicando racionalmente todos os fenômenos e ensinamentos
que foram ao longo do tempo ocorrendo e sendo trazidos ao seu conhecimento pela
extensa correspondência que mantinha com todos aqueles que a esta tarefa se
dedicavam nos cinco continentes.
A
lei da reencarnação, da pluralidade das vidas e dos mundos habitados, a lei da
causa e efeito que veio demonstrar e explicar as inúmeras variedades de existências
terrestres, pondo por fim as dúvidas crescentes sobre a justiça e a bondade
divina, explicando o porquê das diferenças sociais, de capacidades
realizadoras, de saúde e das imperfeições físicas e orgânicas, racionalizando a
fé, tornando-a lógica e natural, ampliando a visão sobre Deus, fazendo renascer
o mesmo sentimento que os primeiros cristãos tinham quando da passagem do nosso
Amado Mestre Jesus pela Terra.
Desta
forma, não importa se muitos preferem tratar o Espiritismo como uma Doutrina ou
como uma religião, gerando intermináveis temas de debates, onde muitos tentam
afasta-la dos princípios evangélicos, enquanto que outros insistem de certa forma
em ”ritualiza-la”, gerando normas de condutas através de sistematização obrigatória,
esquecendo que o que mais é a Doutrina mesmo sendo raciocinada, lógica e científica,
sua tarefa principal e fundamental é a de ser o Consolador Prometido por Jesus
Cristo, e assim, se basear essencialmente nos conceitos que o Mestre nos trouxe
através de seus exemplos e parábolas.
Tipos
de mediunidade, formas de doutrinação, como é a vida no plano espiritual, quais
são as consequências de nossos erros, saber da existência do umbral, que já tivemos
outras existências, a lei da ação e reação, tudo isso são ferramentas, são
acréscimos da bondade divina para que venhamos a atingir o nosso principal
objetivo no nosso planeta, que vem a ser a nossa transformação espiritual, o de
assumirmos de vez nossa condição de homens de bem, deixando para trás
definitivamente nossas imperfeições, nossos vícios, nossos sentimentos e nossas
posturas inferiores.
Assim,
o Espiritismo veio essencialmente nos trazer uma base mais segura e inviolável
para nos tornarmos, de fato, cristãos, nos dando uma referência lógica da necessidade
de amarmos ao próximo como a nós mesmos, de não julgarmos para não sermos
julgados, perdoando para ser perdoando, nossos irmãos e até mesmo nossos adversários,
para compreendermos e aceitarmos as diferenças de todos os tipos, principalmente,
as de caráter evolutivo, onde o mais forte tem como dever primordial auxiliar ao
mais fraco, o mais lúcido ao mais confuso, o são ao enfermo.
O
Espiritismo veio nos dar a base e as razões para sermos pacientes, tolerantes,
bondosos, sinceros, honestos, prudentes, disciplinados, para aprendermos a agir
não só visando nosso próprio beneficio ou o da nossa família direta, mas sim,
do todo, do coletivo, para aprendermos a doar antes de receber, a ajudar sem
esperar recompensas ou agradecimentos, ou seja, essencialmente, o Espiritismo
veio nos ensinar a sermos, de forma lógica e raciocinada, puramente tarefeiros
do Mestre Jesus Cristo em nosso planeta!
Cabe
a nós, se assim o desejarmos, decidirmos se o Espiritismo é uma religião ou uma
Doutrina, desde que ele nos faça sermos pessoas melhores, que ele nos ensine a
ter uma fé segura, baseada em fatos, em uma lógica irrefutável do poder e da
bondade divina, desde que ele nos leve a amar acima de tudo, nos tornando assim
uma pessoa melhor, uma pessoa do bem, alguém capaz de realizar e de auxiliar,
transformando a nós mesmos e ao ambiente por onde passarmos, levando a paz e o
amor na mente, na razão e no coração.
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