quarta-feira, 4 de novembro de 2020

A Porta Estreita


 

Inúmeros são aqueles que vivem sob o critério da postergação, ou seja, adiando aquilo que no momento não quer realizar, ou para tal não está preparado, ou prefere julgar que não está, principalmente, quando aquilo do que abre mão de fazer exige, por suas características, tempo e energia, esforço próprio e disciplina, o que em um primeiro momento é visto mais como uma obrigação do que uma tarefa prazerosa e que trará recompensas ou resultados imediatos.

Muitos, por exemplo, apesar de se sentirem atraídos para a profissão de médicos, quando vislumbram as dificuldades que terão que enfrentar, a capitalização de recursos, quando estes não estão facilmente disponíveis, o tempo da preparação para ser aceito na instituição de ensino, a disciplina que terá que se impor, geralmente, deixando para trás diversões e compromissos sociais, se distanciando naturalmente dos amigos de folguedos, preferem desistir, ou adiar, ou buscar outra profissão que lhe tragam um retorno imediato e que lhe exijam menos teóricos “sacrifícios” para que venha a ser concluída, mesmo que em um primeiro momento se afastem de seus ideais.

Quando isso acontece, corre-se o risco de se estar enganando a si mesmo, convencendo-se de que é tudo “igual”, que mais tarde poderá realizar sua meta, buscando justificativas que corroborem com sua decisão, com sua escolha, ainda que no fundo, sua consciência grite contrária a sua atitude, ou, aos motivos que levaram a toma-la.

Como espíritos eternos, todos nós, por estarmos ainda enfrentando inúmeras dificuldades dos mais variados tipos enquanto encarnados, e no momento estagiando em um mundo de provas e expiações, com certeza nos encaixamos neste grupo, ressaltando, inclusive, que só por este fato, já representa para nós uma significativa vitória, afinal, poderíamos ainda estar na fase de não desejarmos nenhum tipo de mudança para o bem, sendo que hoje, por estarmos aqui juntos, escrevendo ou lendo, pelo menos, já a aspiramos, porém, confessemos, não com a convicção necessária, já que ainda nos escondemos atrás de desculpas e justificativas para o adiamento das atitudes necessárias para nossa efetiva transformação espiritual.

Precisamos estar atentos, entretanto, para não cairmos no erro de nos iludir, de acharmos que teremos tempo para começar, que são válidas nossas razões, nos acomodando na postura inerte de nada fazer para melhorar, ainda que nada estejamos fazendo para piorar.

Existe um ideal a ser alcançado em relação a renovação para o bem, dentro dos parâmetros estabelecidos pelo Cristo através de seus ensinamentos e exemplos, e precisamos ter consciência que a cada atitude errônea, assim como a cada adiamento, mais nos desviamos do caminho que nos levará a esta conquista.

Somos livres para tal, é fato, ninguém irá nos obrigar a avançar constantemente, porém, não nos será permitido também avançarmos quando e da forma que desejarmos caso não estejamos nos portando de acordo com aquilo que se faz necessário, dentro dos critérios estabelecidos pela Verdade Cristã.

Jesus deixou claro que precisaremos carregar a nossa cruz, e se nossa vontade no momento é estagnarmos, ainda que não estejamos prejudicando a ninguém, não poderemos esperar que a mesma distância seja mantida de nossos irmãos maiores devido ao tempo que desperdiçarmos com a nossa indevida ação.

A vida prossegue de forma contínua, aqueles que hora estão ao nosso lado e que optam por avançar vão construindo novas obras, conseguindo novas conquistas, e para no futuro os alcançarmos, teremos que percorrer os mesmos caminhos que eles percorreram, só chegando até eles quando estivermos no mesmo estágio, o que se tornará cada vez mais difícil, porque o caminhar deles é interrupto, e assim, quanto mais tempo ficarmos parados, mais tempo e esforço teremos que dispor, já que não é justo que eles parem para nos esperar, já que foi nossa opção estacionar e desperdiçar nosso tempo.

Muitos se iludem pelo fato de que, já que são eternos, e que as oportunidades sempre lhes serão dadas, que poderão tomar a decisão de mudar após ter tomado até a última gota do cálice da inferioridade espiritual, sem pressa, sem pressão.

Para isso, gostaríamos de lembrar que a porta do erro é larga e florida, e a do acerto, é estreita e exigirá sempre muito esforço para ser transposta.

Em uma melhor comparação, o desvio que tomarmos do caminho do bem será uma descida que percorreremos em menos tempo e mais facilmente, nos dando prazer e uma enganosa leveza, porém, com o tempo, ela se tornará escorregadia, o que nos levará a tomar diversos tombos e sofrer inúmeras quedas, consequentemente, nos trazendo dor e adversidades.

Poderemos até parar, estacionar, refletir, nos cansar dos erros cometidos, do desvio tomado, porém, para voltarmos ao caminho do bem ninguém poderá nos carregar, não haverá um veículo nos esperando para confortavelmente regressarmos, teremos que ter disposição, vontade, disciplina, porque os primeiros passos ainda serão em um terreno escorregadio, sem esquecer que agora teremos que subir, teremos que percorrer todo o caminho de volta em ascensão, o que exigirá muito mais trabalho e muito mais tempo. É a porta estreita!

Só que Deus é bondade, é Amor, e como diz a Lei, Ele não quer a morte do pecador, mas a sua redenção, por isso também o apóstolo anunciou que o Amor cobre uma multidão de pecados, e desta forma, para retornarmos por este desvio até o verdadeiro caminho da redenção e da evolução, não precisaremos necessariamente sofrer, mas sim trabalhar, nos esforçar, nos sacrificar em prol do próximo, em prol da coletividade onde vivermos, perdoando e sendo perdoando, nos redimindo através do esforço no bem, nos redimindo com nossa própria consciência com suor e as lágrimas do trabalho realizado.

Não há favorecimento ilícito ou privilégio de qualquer tipo na Justiça Divina, e, sempre, sem justificativas ou desculpas que a isso modifique, será dado a cada um exatamente de acordo com suas obras.

Que assim seja!