terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Logo mais um novo ano, mas na verdade isso não importa...






No ano que está acabando muitas vezes cometemos erros, nossas escolhas e decisões não trouxeram aquilo que esperávamos, mas na verdade isso não importa, porque o que vale é a nossa persistência, a nossa coragem, e a nossa certeza que tivemos sempre as melhores intenções no caminho do bem...


No ano que está acabando talvez muitos de nós tenham sido traídos, enganados nos mais belos sentimentos, mas na verdade isso não importa, o que vale é a nossa consciência tranquila, é não termos guardado mágoa, revolta, ódio, não termos nos entregue a vingança ou a desforra, e mantermos nossa fé, e a certeza que o bem sempre valerá a pena...


No ano que está acabando talvez tenhamos traído ou enganado a alguém, com ou sem intenção, mas na verdade isso não importa, o que vale é termos a ciência que erramos, buscar o perdão de quem prejudicamos, e quando possível, algo reparar do mal que cometemos, lutando para não mais errar, e encontrar definitivamente o bem que temos guardado em nosso coração...


No ano que está acabando, pelo laços da aparente morte, muitos de nós perderam um ente querido, mas isso na verdade não importa, o que vale é que Deus sabe sempre o que é melhor para cada um de nós, e se a saudade ainda é difícil de suportar e superar, tenhamos a certeza que eles estarão sempre ao nosso lado, nos auxiliando quando possível em nossa jornada, até um futuro reencontro que só o bem pode proporcionar...


No ano que está acabando por diversas vezes nos deixamos levar pela impaciência, pela intolerância, muitas vezes dominados pela vaidade, pelo orgulho, pela prepotência, mas na verdade isso não importa, porque a vida nos ensina, e pelas consequências físicas ou espirituais de nossos atos, saberemos que este nunca é o melhor caminho, e que só os sentimentos baseados no bem, como o respeito, a caridade, o amor, de fato, prevalecerão...


No ano que está acabando alguns de nós terminaram um relacionamento onde pensavam existir o Amor, outros deram o início ao que hoje tem a certeza que lhes trará a paz, já alguns ainda procuram aquele ou aquela com quem poderão compartilhar os momentos, as alegrias, os receios, a vida, mas isso na verdade não importa, porque o que vale é que todos estamos imersos neste sentimento divino, e assim, mais cedo ou mais tarde, esta busca terá fim, pois teremos encontrado ele onde ele está guardado, dentro de nós, e assim, no bem, ficará muito mais fácil leva-lo para aquele ou aquela que tem em seu olhar o mesmo sentimento que temos no nosso...




Que o ano de 2015 seja repleto de vitórias e sonhos realizados, quando não que tudo se torne aprendizado, que possamos estar com quem amamos, quando não, que nossos melhores pensamentos e sentimentos estejam com eles, valorizando sentimentos como a humildade, o respeito, a amizade, a sinceridade, a tolerância, o amor, na verdade é tudo isso que importa!


Amo todo vocês!



Cabe a nós...




Durante séculos, estivemos acostumados de acordo com alguns dogmas da frente religiosa dominante, a simplificar a nossa remissão frente aos erros perpetrados apenas através do nosso arrependimento, ou melhor, da demonstração do arrependimento frente aos condutores espirituais que gerenciavam o culto, confessando nossos “pecados”, e recebendo deles, de acordo com a gravidade da falta, a penitência imposta pelo confessor, absolvendo-nos assim, logo após seu cumprimento, que poderia ser quantidades determinadas de orações, ou, doações substanciosas aos projetos e serviços elaborados e levados a efeito pela organização.


Toda essa preocupação, no entanto, por parte do pecador derivava mais do medo de ter que suportar no futuro os castigos impostos pelos gênios do mal no eterno fogo do inferno, do que o real sentimento de culpa, aquele gerado por reconhecer que procedera mal, com uma situação ou com o próximo, o que o faria sofrer, através do arrependimento sincero, o pesar por ter praticado o mal e dele de alguma forma, indevidamente, ter se aproveitado.


Desta forma, depositando comodamente sua confiança no poder espiritual de seu condutor, do ministro de sua congregação, não avaliava potencialmente o que seu erro, de fato, prejudicou a si mesmo, e a aquisição dos reais e nobres sentimentos que o elevaria perante a humanidade terrestre, escorando-se em um falso poder de absolvição, enganando temporariamente a sua própria consciência, e o pior, com isso se considerando livre para novamente recalcitrar, agravando seus débitos, na certeza que depois poderia vir novamente quita-los através da negociação com seus confessores.


Estes simplórios conceitos, entretanto, são tão frágeis em seu conteúdo, de tão difícil aceitação pelo positivismo atual da nossa sociedade, que acabaram perdendo seu efeito vindo por afastar vários de seus antigos seguidores, principalmente aqueles que deles se aproximavam pelo medo de castigos futuros, pois por não mais acreditar em infernos e diabos, não mais se julgavam da necessidade de buscar salvação ou absolvição, caindo para o lado da descrença sistemática, desprezando a autoridade da organização religiosa e de seus representantes, não mais dando o direito de julga-los, absolve-los ou condena-los por seus atos.


Infelizmente, porém, a grande maioria ao desacreditar do poder do mal, também passou a, indevidamente, descrer do poder do bem, de seus representantes maiores, ou seja, se não mais acreditavam no diabo, também não criam em Jesus, na sua amada Mãe Maria, nos baluartes históricos de seus conceitos, assim como dos seus representantes maiores, muitos deles santificados por este mesmo pseudo poder religioso, que hoje não mais consegue fazer com que muitos venham ser seus seguidores de forma cega, aceitando seus dogmas sem discussão ou avaliação, muitos deles desmentidos pela ciência ou pela lógica do raciocínio.


O Consolador Prometido, o Espiritismo, entretanto, nos trouxe em seus preceitos a Verdade Cristã em sua forma mais pura, na sua essência, como era entendida por seus seguidores no princípio de sua estadia na Terra, logo após o advento do Mestre Jesus entre os homens, ratificando o que era dito na época e retificando o que hoje é dito, deixando claro que somos nós mesmos os responsáveis pelo nosso destino, pelas nossas escolhas, por nossas decisões, e se delas forem derivados sofrimentos, dores, culpas, remorsos, apenas nós mesmos, com trabalho, com esforço, com disciplina, com a mudança íntima em  nossa forma de agir e de pensar, poderemos corrigir, resgatar, ressarcir.


Somos assim artífices do nosso caminho, cultivadores da plantação que representará nossa existência, colhendo hoje exatamente o que ontem plantamos e cultivando o que amanhã iremos auferir, para nossa felicidade ou infelicidade, para nossa alegria ou nossa dor, não por castigo, por recompensa, mas por consequência natural e lógica sobre a ação que realizamos.


Não existem infernos ou demônios eternos a nos esperar após a morte se nos entregarmos ao erro, ao “pecado”, mas poderão existir demônios e infernos dentro de nós mesmos, do nosso íntimo, colocados lá pelos nossos sentimentos, nossos pensamentos, nossas ações, que nos levarão exatamente onde eles desejarem, até que retomemos o controle de nosso destino, de nossa consciência, transformando nosso proceder, dando espaço para que as forças do bem que vivem dentro de nós se sobressaiam e assumam o controle da nossa postura, da nossa personalidade única e eterna.


Ninguém tem o poder de nos condenar ou absolver, ninguém tem o direito de nos recompensar ou castigar, mas o nosso descontrole ou nossa disciplina atrairão para nós aqueles que se afinam e se comprazem com nossa forma de ser, serão meros convidados a compartilhar nossa existência, amigos do bem ou do mal, prontos a satisfazer nossos anseios, nossos desejos, de acordo com o poder e o direito que nós mesmos, conscientemente ou inconscientemente, lhes outorgarmos através de nossas escolhas e decisões.


De fato, o primeiro passo para alcançar nossa renovação, nossa transformação espiritual para o bem, geralmente é derivado do arrependimento sincero de nossos erros, de nossas faltas, dos desvios que demos comandados por nossos sentimentos e instintos inferiores, porém, este remorso, este arrependimento, por si, não será o suficiente para trazer a paz da consciência e o decorrente equilíbrio espiritual.



Não teremos ninguém a nos julgar, seremos nós mesmos que iremos buscar em novas ações as novas reações, no novo plantio uma diferente colheita, recomeçando, refazendo, reconsiderando, remodelando, até que nos sintamos plenamente aptos e preparados para novos projetos, novos voos, disciplinados e conscientes que erramos e que ainda estamos propensos a novos erros, humildes o suficiente para admitir nossa inferioridade atual, para pedir perdão a quem prejudicamos ou ofendemos, mas sem nos entregar ao desânimo, a dúvida, ao medo, e principalmente, não dando o direito de ninguém nos condenar, amputar penas ou punições, porque ninguém está isento de erros, e se, não ferimos leis humanas, apenas códigos divinos, fica claro que é o único ser que tem o direito de nos julgar e punir é Deus, e Ele também não o faz, porque é só Amor e Bondade, como um dia também poderemos aspirar a ser, dentro das devidas possibilidades  e limitações auferidas a cada um de nós na coletividade cósmica.  

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Natal!





O que significa Natal?

Informa o dicionário:

- Diz respeito ao nascimento; natalício.


Sim, o que comemoramos dia 25 de dezembro se refere ao nascimento, ao natalício do Nosso Amado Mestre Jesus, mas não só o nascimento do homem, do anjo encarnado junto a nós, mas ao nascimento da sua Doutrina, do marco divisório onde ficou determinado que o poder na Terra não mais estaria nas mãos dos mais fortes, dos mais inteligentes, dos mais ricos, mas que o poder a partir do seu nascimento estaria nas mãos de todos que tivessem mais AMOR!

Muitos ainda não aceitam, compreendem ou acreditam nesta Verdade insofismável, ainda creem pelo que veem hoje que quem comanda os países, as sociedades, ainda são aqueles que tem mais capacidade armamentista, mais condições econômicas, mais capacidade intelectual.

E assim também pensavam os que foram contemporâneos do seu tempo, que o vilipendiaram, maltrataram, humilharam, crucificaram, sem que Ele esboçasse um único gesto, uma única palavra em sua defesa, ainda mais, pedindo ao Seu Pai, a Deus, que perdoasse seus algozes, que como crianças espirituais, não sabiam que estavam fazendo.

Então perguntamos:

Onde estão os poderosos e mandatários de sua época?
Onde estão os romanos, onde estão os hebreus, onde estão os que dominavam o mundo com o seu poder e as suas riquezas, com sua prepotência e suas efêmeras glórias?

Vieram outros poderosos, outros povos, outros líderes, enquanto que Ele, o humilde, o carpinteiro, o Homem que andava de sandálias e de seu nada possuía, nem mesmo uma simples pedra onde repousar sua cabeça, sobreviveu e vive até hoje no coração e no pensamento de milhões de seres espalhados pelo mundo todo, que mesmo com suas dificuldades evolutivas o levam em seus pensamentos e em seus mais nobres sentimentos, na esperança de uma nova vida, no Reino que Ele prometeu a todo trabalhador de boa vontade, a todo aquele que tivesse a coragem de carregar a sua própria cruz e o seguisse, afirmando, entretanto, que seu jugo é leve e suave.

No dia 25 de Dezembro se comemora o nascimento do reino do Amor em nosso planeta, iniciando um período de transformação da barbárie até a plena espiritualização humana, roteiro certo por mais que muitos ainda descreiam, porque esses que hoje o ridicularizam e o vulgarizam também passarão, também retornarão ao pó de suas iniquidades, enquanto que Ele sobreviverá até nossa redenção final, até que a última de suas ovelhas retorne ao redil, como Ele prometeu!

Feliz Natal, de muita paz, de muita alegria, de muito AMOR, é o que o nosso grupo deseja a todos vocês, agradecendo em especial a cada um que participou de nossos estudos neste ano, de nossos trabalhos, e principalmente, um agradecimento especial aos nossos amigos e mentores espirituais, que pacientemente nos protegem, nos auxiliam e nos estimulam a prosseguir no nosso humilde propósito de algo acrescentarmos ao nosso conhecimento, aos nossos sentimentos no bem, auxiliando e sendo auxiliados para que tenhamos uma existência um pouco mais próxima do ideal cristão que todos nós um dia almejamos alcançar.

Que assim seja!

Texto extraído da mensagem de Natal da S.S.E.E.

Priorizando...





Em relação as prioridades que escolhemos para nós durante inúmeras existências, assim como em diversas oportunidades de nossa atual passagem, quantas não estão catalogadas sob o véu das ilusões efêmeras e passageiras, quantas não passam de fantasias ou quimeras?

Conquistas soberbas e inócuas, poderes temporais e ínfimos, onde muitos vivem presos a necessidade da fama, da idolatria, perdidos na manutenção de seus impérios financeiros, acorrentados pela vaidade e pelo orgulho a ostentação, ao luxo, assumindo posições enganosas e fúteis, de detentores da razão, de formadores de opinião, engolfados em uma pretensa superioridade que longe estão de possuir.

Posicionamentos e conceitos de vida que no entrechoque, na comparação com os sublimes ideais cristãos, fazendo-nos ver o quanto estamos distante do entendimento real dos efetivos valores que enriquecem o espírito e consequentemente agregam consigo a paz, o equilíbrio.

Fatores primordiais para a conquista definitiva da verdadeira felicidade, sentimentos como a humildade, a tolerância, a paciência, a fraternidade, a bondade, a sabedoria, todos direcionados para a caridade e o amor exemplificados pelo Cristo.

Ilusão é o sonho irrealizável, aquele que se baseia em falsas premissas, em inverídicas razões dentro daquilo que estamos aptos a conquistar em nosso atual estágio de vida ou evolutivo, assim como também no querer àquilo que oficialmente não nos pertence e não poderá vir a pertencer por direito, ainda mais quando há envolvido o interesse e o direito de outros, não nos cabendo interferir em algo não diretamente ligado a nós simplesmente e unicamente tendo como justificativa o nosso querer, a nossa vontade.

Tudo nos é permitido, como disse o apóstolo, e ele complementa muito bem ao dizer que, entretanto, nem tudo nos convém, quando precisamos aprender a discernir o que, de fato, acrescentará algo de positivo a nossa individualidade espiritual.

Quantas vezes nos deixamos dominar pela ansiedade, pela tristeza, pela raiva, pelo desespero, por não conseguirmos realizar um objetivo meramente material ou físico, ligado aos interesses inferiores e aos sentimentos negativos, desperdiçando um enorme tempo, uma quantidade imensurável de energia e possibilidades criativas, pela teimosia e pela irracionalidade de insistir naquilo que logo não nos servirá mais, quando perceberemos o quanto de inútil foi o nosso acerbado esforço em conquistar, isso quando ainda conseguimos conquistar e não nos perdemos ainda mais pela depressão do fracasso.

Um automóvel, uma roupa, uma posição social, um corpo atlético, uma beleza helênica, uma posição de destaque, um título, um diploma, um relacionamento afetivo, algo para nossos filhos ou entes queridos, que eles tenham um bom emprego, um bom casamento, tudo isso, sim, inegavelmente válido dentro dos parâmetros de nossa sociedade, mas, não, em nenhum momento justificável quando adoecemos, quando nos desequilibramos, quando nos deixamos arrastar por quaisquer sentimentos negativos ou inferiores pelo fato de não conseguirmos ou não recebermos aquilo que almejamos.

Se priorizarmos nossa existência nos reais valores da felicidade eterna, nos sentimentos cristãos, teremos conquistado um equilíbrio que nos trará o discernimento para aquilatar as reais necessidades que precisaremos suprir para que a paz e o entendimento vigorem em nosso íntimo e nos relacionamentos humanos a que somos chamados a conviver, sejam eles nos laços familiares, de amizade, profissionais ou na efemeridade do cotidiano.

Se basearmos nossa postura nos conceitos do bem, mesmo nos dedicando as conquistas normais de nossa sociedade, saberemos dosar na medida certa o quanto se faz necessário para nossa felicidade, nosso bem estar, aprendendo a valorizar o simples, e dentro dele, viver com conforto, com comodidade, dedicando-nos ao lazer sadio, aos relacionamentos cordiais, puros, produtivos, tendo tudo que a sociedade possa nos oferecer, de acordo com o que considerarmos necessário para nossa efetiva paz espiritual e a consequente felicidade dela decorrente.


Saber desejar, saber sonhar, nos livra das ilusões e desilusões, das decepções, dos sofrimentos infantis e desconexos, nos abrindo novas possibilidades de crescimento, de realizações, de conquistas, todas elas baseadas na felicidade real e duradoura que só o bem e o amor podem proporcionar.   

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Renovando...







Quando finalmente após milenares vidas chafurdados em vícios e erros, dependentes de nossas paixões inferiores, nós conseguimos começar a respirar novos ares, buscando através do esforço próprio um novo rumo, uma nova direção, abrindo nosso coração e nossa mente para os divinos e puros, ensinamentos e exemplos, que o Mestre Jesus nos legou, sentimo-nos, quando realmente sinceros nesta aspiração, nesta mudança que iniciamos a assumir em nossa jornada, felizes, estimulados, esperançosos, onde começamos a prestar mais atenção à nossa volta, aos nossos irmãos do caminho, vendo-os com outros olhos, sob outro prisma, não mais adversários a serem vencidos, não mais inimigos a serem combatidos; não mais pelos olhos da indiferença, do desprezo, do orgulho, da vaidade.


Despertam dentro de nós novos sentimentos, novas perspectivas se descortinam a nossa frente, fazendo-nos aspirar ainda mais este mergulho nas verdades do bem, que sempre estiveram à nossa volta, desconhecidas ainda por nós devido ao nosso, até então, completo desinteresse pelo que de positivo elas carregam em si para o nosso crescimento e fortalecimento como individualidade.


Começamos a prestar mais atenção a pequenas coisas, a uma criança, um idoso, um enfermo, um morador de rua, começamos a de forma mais incisiva a nos preocupar com suas necessidades, com suas limitações, com o que podemos fazer para ajuda-los a ter uma vida mais saudável, mais alegre, mais livre de preocupações, ajudando-os com pequenas atitudes, uma palavra, um gesto amigo, uma orientação, um brinquedo, uma muda de roupa, uma cesta com alimentos, um livro, o apoio na locomoção, nada que exija fortunas ou posições superiores para ser levado a efeito, quando dispostos estivermos para de alguma forma contribuir para uma sociedade mais justa e produtiva.


Passamos, aos poucos, quando engajados de fato no processo de nossa renovação, de nossa transformação espiritual, a modificar também nossos hábitos, nossas atitudes, valorizando mais as coisas simples, pois estas passam por sua vez a despertar em nós sentimentos mais adequados, mais límpidos e puros, a esta nova fase que se inicia em nossa existência física, quando buscamos nas forças do bem os subsídios para superarmos nossas ainda latentes imperfeições, alimentadas por um longo período de existências de erros e crimes.


Nossos gostos e preferências, desta forma, também passam a acompanhar este processo transformativo, não mais assistiremos a um filme que alimente violência, paixões degradantes, vícios, mas que traga uma mensagem positiva, que agregue e fortaleça os valores morais que na nossa sociedade moderna, temporariamente, foram relegados a segundo plano, como a ética, a justiça, a honestidade, o desprendimento em prol de um ideal coletivo e não apenas meras conquistas individuais e efêmeras.


Assim como também na música, no teatro, nos programas televisivos, começamos a ter uma nova visão, refinando de acordo com os conceitos do bem as nossas escolhas, passando a ser nossos próprios censores quanto a qualidade do que assistimos, assim como também aqueles que vivam sob nossa dependência e arrimo, como os nossos filhos, vindo com isso não só a enriquecer a nossa cultura, como também a não compactuar com os níveis de audiência de programas que só trazem o negativismo, a desagregação dos laços da amizade, do amor, da família, demonstrando aos responsáveis por sua produção que o caminho que escolheram para a conquista de seus objetivos precisa ser revisto e modificado, e isso só conseguiremos com a efetiva queda do nosso interesse para com o que nos está sendo oferecido.


Conquistar a nossa efetiva transformação espiritual para o bem, dentro dos parâmetros cristãos, é renascer, é recomeçar, é conquistar a verdadeira fé, aquela que se guia pela razão e não por dogmas impostos, é o crer por saber, por entender.


Rever conceitos, prioridades, necessidades, compreender o que, de fato, tem importância para nossa vida, valorizar os ganhos espirituais, o conhecimento, o estudo, o trabalho digno e honesto, conquistando os bens materiais, mas para fazê-los frutificar, contribuindo com o todo, com nossos irmãos do caminho, para que não mais a dor, a fome e o frio, as doenças facilmente curáveis e tratáveis venham a ser motivo de sofrimento, de perdas irreparáveis, de separação de entes queridos.


Nossa transformação para ser real deve passar pela paz, pelo amor, pelo perdão, pela tolerância, pelo respeito, pela fraternidade, pelo não preconceito, deve nascer de nosso íntimo, despertando os mais belos sentimentos que trazemos guardados dentro de nós desde nossa criação e que só esperam que consigamos acessa-los para expor o nosso melhor, aquilo que podemos produzir, que podemos agregar ao nosso mundo, passando a fazer parte efetiva da tão necessária renovação para o bem da nossa sociedade terrestre.



Que assim seja!  

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Equilíbrio...







Equilíbrio é uma das principais conquistas individuais para que consigamos realizar as principais aspirações que priorizarmos em nossas existências, nos auxiliando a superar todos os obstáculos, aplainando nosso caminho, quando finalmente encontramos uma constância de proceder, de postura, nos disciplinando para agir de acordo com aquilo que consideramos ser o ideal para nossa jornada evolutiva.

Não viver só de sonhos, não estagnar esperando que a vida ou as pessoas nos conduzam pela mão, que resolvam nossos problemas, que nos tragam aquilo que objetivamos e esperamos para nossa pretensa felicidade, mas também, não nos entregar a desatinos e erros gerados pela precipitação, pela ansiedade mal administrada, pela pressa mal conduzida.

Encontrando o ponto de equilíbrio na forma de encarar a vida, aos problemas, as situações, ajuda-nos a administrar a nossa reação ante a adversidade, a nossa motivação perante o que nos trás alegria, prazer, para que não venhamos a continuar desperdiçando precioso tempo com dúvidas, receios, arroubos, impedindo que venhamos a nos esconder atrás de uma covardia injustificável ou nos arrojarmos em uma coragem temerária e inconsequente, não sendo aqueles que para tudo tem uma negativa radical e contínua, e nem aqueles que a tudo consentem e aprovam seja qual for a oportunidade que lhes for apresentada.

O importante é não navegar por extremos, evitando excessos de qualquer tipo, o que sempre, mais cedo ou mais tarde, acaba por acarretar dissabores, desilusões, gerando as naturais consequências negativas para quem não sabe administrar corretamente o manancial de possibilidades que a existência oferece, assim como as que por iniciativa própria pode gerar e criar.

Ponderação, discernimento, bom senso, experiências pessoais ou daqueles que já tiveram a oportunidade de viver fase similar a que estamos atravessando, são ferramentas e parâmetros úteis e positivos para que caminhemos de forma consciente e firme, não isentos de erros ou fracassos, de ilusões ou decepções, mas com a certeza de estar mais bem preparados para, mais prontamente possível, reverter qualquer situação contrária as nossas metas, aos nossos ideais, ao planejamento que gerarmos para o nosso futuro.

Este equilíbrio íntimo, entretanto, só será plenamente conquistado, quando nossos pensamentos, nossas palavras, nossos atos, nossos planos, nossas prioridades, nossas escolhas, nossos sentimentos mais íntimos, estiverem plenamente justificados e alicerçados pela nossa consciência, nossa juíza atenta e segura, que nos garante aliar ao equilíbrio conquistado, à paz de espírito, nos mantendo preparados para qualquer surpresa contrária que queiram nos impor ou imputar, ações que visem nos desestruturar ou nos afastar do caminho que nos levará a encontrar a verdadeira felicidade, objetivo maior de todos nós, independente da forma que escolhermos para percorrer nossa jornada evolutiva.

Esta paz só se conquistará quando nossos planos presentes ou futuros estiverem de acordo com os parâmetros do bem, quando não visem conquistas baseadas no erro, no assédio indevido ao próximo, quando este não venha a ser prejudicado ou lesado por nossas ações, quando sentimentos e paixões inferiores e negativas não sejam os fatores principais a motivarem nossas escolhas, quando a sinceridade e a honestidade estiverem presentes em todas as decisões as quais viermos tomar no decorrer da nossa existência.

Para quem precise, e são poucos de nós que não precisamos, de um guia, de um meio condutor seguro para não nos afastarmos destes objetivos macros que nos levarão a encontrar o equilíbrio e a paz de espírito, bastará que baseie suas ações nos conceitos cristãos, nos exemplos de amor, de entendimento, de compreensão, de fraternidade que nos presenteou o Mestre há mais de dois milênios, e que até hoje ainda pouco conhecemos em sua total amplitude, tal a displicência com que insistimos em percorrer nosso caminho, mais na busca de brilhos fugazes, do que na iluminação real de nosso ser individual e eterno.  

O respeito às diferenças, principalmente aquelas que se referem ao estágio evolutivo que cada um de nós se encontra, é base segura para que não queiramos exigir do próximo o que ainda hoje buscamos arduamente conquistar para nós mesmos, que é o pleno equilíbrio de sentimentos, de desejos, de aspirações, o total domínio sobre o nosso senso de discernimento, não só no saber o que é certo e o que é errado, mas principalmente, em aplica-lo e vivencia-lo em todas as nossas decisões, em nossas escolhas, em nossas ações e reações.

Equilíbrio e paz de espírito só serão conquistados com muito Amor, o que nos mostra que nossa vida é assim, feita de conquistas individuais, onde nada recebemos por privilégio, e sim, através de muito esforço, muita disciplina, muita dedicação e muita coragem.       

Sigamos.

sábado, 13 de dezembro de 2014

“Respeito é bom e eu gosto!”





Armando olha para o fim da rua, ameaça descer do meio-fio para conseguir enxergar mais longe, as pernas tremem, procura se apoiar melhor na bengala, resolve por fim ficar no mesmo lugar, melhor não arriscar. Sua agitação, na verdade, não se justifica, é apenas o hábito, que faz com que a ansiedade e uma inexplicável urgência, o impulsionem a querer chegar sempre rápido ao seu destino.

Continua agitado e atribulado, mesmo já aposentado, se deixando levar pelo estresse e pela intolerância, não gosta de desperdiçar seu tempo, como está acontecendo naquele exato momento, ao esperar pelo transporte coletivo.

Distraído com sua própria impaciência, já enumerando todos os políticos responsáveis pelo “sofrimento” que estava passando naqueles quinze minutos de espera, quase não vê o ônibus se aproximando, gesticulando acintosamente sua bengala assim que o percebe, surpreendendo e assustando o motorista, que freia bruscamente, o que não evita que o coletivo ultrapasse por alguns metros o ponto de parada, gerando gritos e reclamações por parte dos passageiros que não esperavam a manobra, além de inúmeros impropérios resmungados por Armando, por ter que dar alguns passos a mais do que o normal.

Ao entrar no ônibus, obviamente, subindo degrau em degrau lentamente, não poupa o profissional de sua insatisfação:

- Por que não parou mais longe? É uma falta de respeito, o ponto é lá atrás, se fosse uma mulher bonita você subia até na calçada, mas como é para um velho de bengala...

O motorista ainda pensa em responder para esclarecer que a culpa era dele mesmo, já que havia dado o sinal em cima da hora, mas, balança a cabeça e desiste; experiente, já estava acostumado, sabia que não iria adiantar nada discutir, certo ou errado ele estaria sempre sem a razão, em vez disso, sua resposta é bem sutil, dá uma arrancada súbita, fazendo com que Armando se agarre ao primeiro passageiro à sua frente, esbarrando nas pessoas que estavam em pé, quase perdendo o equilíbrio, afinal, era horário que as pessoas costumam ir para o trabalho, para a escola, o coletivo está lotado. Ele até que podia sair de casa mais tarde, com menos movimento, mas sempre acorda e sai de casa no mesmo horário que quando ainda estava na ativa, é uma pessoa de hábitos, não tinha por que mudar.

Procura um lugar para sentar, vê uma oportunidade em um dos bancos onde idosos, gestantes, deficientes e mulheres com crianças no colo têm preferência, uma mulher grávida estava se levantando para descer, ele não perde tempo, empurrando todos à sua frente, senta-se, esparramando-se no banco.

Sentado ao seu lado, o que o deixa surpreso e indignado, aparentando uns dezoito anos, um jovem, de boné e óculos escuros, mascando um chiclete, com um fone no ouvido, está com a cabeça encostada no vidro da janela, o que impossibilita de saber se está dormindo ou apenas curtindo seu som e pensando na vida, está totalmente relaxado e tranquilo, e é exatamente nisso que está o problema.

Armando, que ao contrário, não está nada relaxado e muito menos tranquilo, suspira acintosamente, pigarreia alto, e olha para o jovem, sem dissimular a irritação, falando alto, em tom de censura:

 - Esse mundo não tem mais jeito, não é possível!

O jovem não esboça nenhuma reação, parece não ter ouvido, masca seu chiclete, curti sua música, distante:

- Rapaz! Ei você!

Armando fala alto, impaciente, cutucando o jovem com a bengala:

- Não está ouvindo eu te chamar rapaz?

O jovem vira o rosto para ele, displicente:

- Como?

- Estou falando com você!

- É, parece que vai chover...- volta a encostar a cabeça no vidro aumentando a irritação e a indignação de Armando, que volta a cutuca-lo com a bengala, desta vez com mais força, fazendo com que o jovem salte, assustado:

- Ai, isso dói!

- Eu estou “tentando” falar com você meu jovem!

- Calma ai Tio! – tira o fone do ouvido – pode falar “velho”...

- É sobre isso mesmo! Velho, ou melhor, idoso, como eu, como àquela senhora ali de pé, ou como aquele desenhozinho ali naquele colante onde está escrito “preferencial para idosos”, entendeu agora?

- Só isso? Claro que entendi, vai fundo...

Volta a colocar o fone no ouvido e ajeita-se mais confortavelmente no banco.

- Como vai fundo? - o Jovem não responde, fazendo com que o próprio Armando retire o fone de seu ouvido, aumentando o tom da voz - Como vai fundo?

- O senhor não quer fazer uma “presença” para a “tiazinha” que está de pé? Vai fundo, do maior apoio, eu penso assim, o amor não tem idade...

- Não é nada disso, seu “moleque”!

- “Moleque” não! Olha o respeito, “pô”!

- Respeito? É exatamente disso que estou falando, de respeito, da “sua” falta de respeito!

- Minha? Por quê? Estou aqui sossegado, o senhor fica me batendo sem parar e eu que não tenho respeito? Estou aqui quietinho, sentadinho...

- Por isso mesmo! Você deveria ficar “quietinho”, mas de “pezinho”, e não sentado enquanto várias senhoras estão de pé...

- É o que mais admiro nas pessoas mais velhas, esta disposição, eu não aguentaria ficar de pé esse tempo todo, que bonito!

- Você é muito “cara-de-pau”! Este assento é preferencial para idosos, gestantes e deficientes, ”grávido” você não está, e deficiente, só se for mental, o que não duvido...

- “Pô velho”, ”pega leve”, o senhor mesmo está dizendo, o lugar é “preferencial” e não “exclusivo”, o que quer dizer que de preferência é para a velharia, mas não obrigatoriamente...

- Como não é? Vamos logo, seja cavalheiro e ceda seu lugar!

- Eu digo o mesmo para o senhor, como “eu” que sou o mal-educado, mostre “sua” educação e dê o lugar para a sua namorada...

- Não é justo! Eu também sou idoso e ela não é minha namorada, seu atrevido! Você que é o jovem, você é que tem que levantar...

- Pode ser, mas, se for verdade o que dizem por ai que já tivemos outras vidas, meu espírito pode ser mais velho que o seu...

- Então deixe o seu velho espírito sentado e o corpo que fique de pé!

O Jovem sorri e dá uma tapinha nas costas de Armando:

- “Aí, velho”! Gostei de ver, não é fraco não, mas diga lá, qual o nome do senhor?

- Armando, por que quer saber?
-
 É que desde pequeno minha mamãe me ensinou para não falar com estranhos, prazer, meu nome é Maurício...

- E sua mamãe também não lhe ensinou a respeitar os mais velhos? A ceder o lugar para eles?

- Pode até ser, mas era muita coisa, não deu para decorar tudo, quantos anos o senhor tem?

- Sessenta e um anos e bem vividos, só essa perna que me dói muito, é uma dor crônica...

- “Uau velho”, “bateu na trave”! Quase que não tem direito a “preferência”, o senhor não está mentindo, não é? Vai ver que é “gato”, igual aos caras que enganam a idade nos times de futebol...

- Eu não minto seu “moleque”! - indignado – saiba que sempre mostro o documento quando entro no ônibus!

- Pra que?

- Para não pagar é claro!

- Espera ai, quer dizer, que não paga a passagem? Então o “tio” além de passear de graça, ainda quer ir sentado? É muita moleza...

- Deixe de ser impertinente, garoto! Nós fizemos por merecer, muito demos de nossas vidas!

- Para quem? Nem o senhor e nem sua “namorada” ali me deram nada, pelo contrário, ainda querem tomar o meu lugar...

- Dei para o país, seu engraçadinho, para o país!

- “Xiii”...então não deu muito, do jeito que o país está, violência, saúde precária, educação bagunçada...

- Não por culpa nossa! São os jovens de hoje que deixaram o país assim...

- “Péra lá” Armandinho! Posso chamar o “tio” de Armandinho né? Assim nós ficamos mais chegados, como eu ia dizendo, pelo que sei, a maioria dos “chefões” do nosso país é ”coroa”, já deviam estar até em um museu, mas não querem largar o “osso” de jeito nenhum, o que prova que nós, pobres jovens, não temos culpa nenhuma, sabe o quanto temos que “ralar” para arranjar o primeiro emprego? Escola pública é a maior bagunça e tudo isso, pode acreditar “velho”, culpa de vocês...

- Nosso país sempre teve seus problemas, só que antes se tinha respeito, se respeitava os mais velhos, as autoridades, não tínhamos essa violência, a maioria gerada por essa “molecada” que está por ai, não querendo nada com nada...

- Que nada, Armandinho! Isso já existe há muito tempo, só que antes vocês só tinham os jornais e os radinhos de pilha, telefone e televisão era coisa de milionário, cada notícia demorava um século para chegar e isso quando chegava, enquanto dez pessoas eram assassinadas, só se tinha notícia de uma, agora é tudo on-line, peidou na China, minutos depois o cheiro já chega aqui no Brasil...

- Talvez, eu disse, talvez, você tenha um pouco de razão, Maurício...

- Pode me chamar de “Mau-Mau”, é como a “galera” me conhece...

- Então, “Mau-Mau”, pode até ser, só que antes a violência era bem menor, todos respeitavam a polícia, só que agora...

- Só que antigamente tinham menos pobres, menos pessoas excluídas, menos “necessidades”, mais empregos, o mundo ainda estava se industrializando, se modernizando...

- Tinha-se mais respeito, isso sim! Você, por exemplo, até agora está ai, “esparramado”, enquanto minha namorada, quer dizer, aquela senhora continua de pé, no meu tempo levantávamos na hora e cedíamos o lugar...

- Não acredito...

- Como?

- É, “Armandinho”, não acredito que no seu tempo vocês eram assim, tão educados...

- Eu sou um cavalheiro, vou lhe mostrar...- levanta-se atrapalhado pelos sacolejos do coletivo, 
Maurício dá de ombros e volta a colocar o fone no ouvido e encostar a cabeça na janela -  senhora, por favor, ”ei” espera ai...- senta-se novamente, dando outra bengalada no jovem -  ”Ei”, você!

- Ai...essa doeu!

- Sua consciência é que devia estar doendo, para de me enrolar, vamos logo, levante daí e dê o seu lugar, mostre de uma vez que os jovens de hoje ainda tem um pouco de respeito...

- Lá vem o senhor de novo com esse preconceito...

- Preconceito? Que preconceito?

- É “velho”, não existe essa de jovem ou coroa, existem tanto os jovens que não tem respeito...

- Como é o seu caso...

- Como também existem idosos...

- O que não é o meu caso...

- Tem certeza?

- Claro que sim!

- “Ah” é? E quem foi que atrapalhou minha meditação me batendo com uma bengala, me intimidando, sem mesmo perguntar por que estou sentado no seu lugar “preferencial”? Sem querer saber se eu estou com algum problema ou não? Poderia ter falado educadamente, com “respeito” e se eu estava distraído e não percebi a sua “placa”? E se eu estou passando mal, tonto de fome, por não ter dinheiro para tomar um café da manhã decente?

Armando abaixa a cabeça, envergonhado:

-Desculpe, eu nem tinha pensado nisso, você tem razão! Você não está passando bem? Não comeu nada até agora? Vamos descer em algum lugar, damos um jeito de você tomar um lanche...

- Não, obrigado, Armandinho, tomei um café da “hora” que a mamãe me preparou, dois mistos, suco de laranja, mamão, eu estou “cheinho” fica pra próxima...

- Seu “moleque” mentiroso!

- A questão não é essa, não estou, mas poderia estar...

Armando começa a tossir, tem dificuldades para respirar, levanta-se apoiado no banco, Maurício se assusta:

- O que foi “Armandinho”? Fala comigo “velho”...

Maurício também se levanta, Armando tenta sentar em seu lugar, mas tromba com ele, uma freada brusca do ônibus e os dois caem sentados, juntos, nos mesmos lugares onde estavam.

- Que “sujeira”...- agora é Maurício que está indignado -...isso é trapaça! Nunca poderia esperar isso de uma pessoa idosa...

- Quem é o preconceituoso agora? Você acha que já nasci velho? Já fui “moleque” como você...

- “Ta” vendo? E ainda pega no meu pé!

- Só que nunca deixaríamos uma mulher, velha ou jovem, de pé, e naquela época, pelo respeito que tínhamos, nem mesmo precisavam existir lugares preferenciais...

- Mas pulavam do bonde sem pagar...

- Bem, eu...

- Depois quando virou “buzão”, desciam correndo pela porta de trás, também sem pagar...

- As vezes nós...

- E acabaram se acostumando de tal forma, que agora, depois de “velhos”, querem continuar andar de ônibus sem pagar e ainda por cima, querem ir sentadinhos, ah tio, faça-me o favor!

- Você está distorcendo tudo, agora é lei, mesmo vocês não tendo respeito, nós temos direito mesmo assim...

- E se eu fosse idoso? Sua namorada teria que ficar de pé do mesmo jeito ou você ia dar o lugar para ela?

- Se nós dois fossemos idosos, outras pessoas poderiam lhe ceder o lugar, o problema é exatamente esse, hoje em dia é cada um por si, ninguém se preocupa com o próximo...

- “Armandinho” você não pode “chiar”, tem “cadeira cativa”, se tem mais passageiros “preferenciais” que vagas disponíveis, o pessoal não tem culpa...

- São poucos lugares preferenciais, é um absurdo!

- Também acho, deveria ter um ônibus exclusivo para a “velharia”...

- Está vendo? “Velharia”! Isso é jeito de falar? Espero que um dia você chegue à minha idade...

- E de preferência com um “carrão” do ano, assim não precisarei ficar perturbando o sossego dos outros nos transportes coletivos...

- Eu tenho carro, só que estou indo jogar com os amigos e...

- Já sei, é bem melhor ir de graça, pra que gastar gasolina? Ter que arrumar vaga para estacionar? Dar uma “gorja” pro “flanelinha”, só que enquanto o senhor vai jogar, se divertir, sua “namorada” está ali, de pé, que vergonha!

- Você que é um sem-vergonha descarado! “Moleque” atrevido!

- Calma, “Armandinho”, olha o coração! Sabe, é sempre assim, sempre achamos que na nossa época as coisas são melhores, que hoje as pessoas não sabem aproveitar a vida, é tudo igual, a minha geração daqui alguns anos estará recitando essa mesma “ladainha”...

- No meu tempo era melhor mesmo...

- Só que as coisas mudam Armandinho, as prioridades são outras...

- O certo será sempre certo e o errado sempre errado, principalmente na moral e nos bons costumes...

- Eu não acho...

- Pois, eu sim! Veja só as meninas de hoje como se vestem, indecentes, e ainda são crianças, jovens...

- Isso é questão de moda...

- Moda não, antigamente quando eu era jovem e ia aos lugares de meretrício...

- Traduzindo, ”zona”...

- Isso mesmo, lá as mulheres se vestiam para provocar os homens, se vestiam de forma diferente, com tudo de fora...

- Saltava aos olhos, não é “Armandinho”?

- Só que de longe você sabia quem era mulher da vida e quem era moça de família, e hoje?

- E hoje?

- Ora, basta você ir na “zona”...

- Eu nunca fui, mas pelo jeito o “tio” ainda deve ir muito, lá o senhor também tem lugar preferencial?

- Eu não vou mais lá há muito tempo, seu abusado! Eu vejo quando passo por lá de ônibus, é só comparar, hoje se vestem todas iguais, não dá mais para saber quem é quem, é tudo de fora, para quem quiser ver...

- O senhor está exagerando...

- Exagerando? Você não vê?

- Não presto muita atenção nessas coisas...

- Não presta atenção nas mulheres? – surpreso – O que há com você, meu filho? Você é “bicha”?

- Tá louco “velho”? Claro que não, só não consigo prestar atenção nestes detalhes...

- “Detalhes”? – repete irônico – deixa pra lá e filhos então? Essas meninas engravidam como se estivessem pegando um resfriado, aos treze, quatorze anos e olha que engravidar hoje em dia é o menor dos males, ainda tem a AIDS...

- Neste ponto eu concordo, mas não vai querer me convencer que na sua época era diferente...

- Lógico que era diferente! As mulheres se resguardavam para o casamento, até mesmo alguns homens se casavam virgens!

- Armadinho...Armandinho, a quem o senhor quer enganar?

- Como assim?

- É o mesmo caso da violência, essas coisas sempre existiram só que era tudo “enrustido”, ”fala sério”! Quantas crianças nasceram de “sete meses”, no seu tempo?

- Bem, tinham alguns partos prematuros, a medicina não era tão avançada...

- Mas as mulheres eram bem “avançadinhas”, era parto prematuro que não acabava mais, uma verdadeira epidemia de bebês de sete meses, tudo “papo furado”, como dizia minha avó, ”comeram a sobremesa antes do jantar”...

- Era diferente...- Armando suspira inconformado -...era muito diferente...

- Ta, não fica tristinho Armandinho, concordo que algumas coisas passaram dos limites, mas a culpa não é dos jovens e sim desse poder oculto que faz a gente dançar de acordo com a música que eles escolhem tocar...

- Poder oculto? Isso é coisa de Jânio Quadros...

- O poder da grana! Hoje em dia, para o senhor ver, inventaram a “pré-adolescência” e sabe por quê? Eles não querem esperar, eles querem transformar as crianças em consumidores o mais rápido possível, por isso eles enfiam esse “lixo“ na televisão, em qualquer horário, novela que era das oito eles reprisam na parte da tarde, ”malhações” e tantas outras porcarias mais, fora a internet, que a maioria dos pais não se “liga”, deixando seus filhos navegarem em cada site...

- Estou até impressionado com sua inteligência menino, você acha que é essa intenção? Só para as crianças gastarem mais cedo? Isso seria um crime!

- Ora, posso ser “mal-educado”, mas não sou burro, ”ta” na “cara” se crescermos mais cedo, teremos exigências mais cedo, roupas da moda, celulares, bijuterias, isso vai longe...

- No fundo você quer é mudar de assunto, as coisas são como tem que ser, as pessoas que estão erradas, nós também tínhamos televisão, jornais e nunca nos deixamos nos influenciar...

Enquanto eles conversam, entra no ônibus um indivíduo estranho, olhando desconfiado para todos, mulheres seguram suas bolsas com mais força junto ao corpo, ele começa a estudar o ambiente, olha para pulsos atrás de relógios, pescoços atrás de colares, bolsos atrás de carteiras. O coletivo ainda está cheio, há pouco espaço para se movimentar, corpos se esbarram e se empurram. O suspeito chega mais próximo do banco onde estão Armando e Maurício, que distraídos com a discussão que travam, não percebem o perigo que os ronda.

- É o que estou dizendo meu jovem, isso tudo é fantasia de sua cabeça...

O homem chega bem perto e levanta rapidamente a camisa mostrando a cintura, eles finalmente percebem a sua presença e também a presença de um revolver.

- Quietos! Estou armado, é um assalto, não se mexam!

- Mexer para onde? Como? – Armando se queixa - O ônibus está lotado!

- Vamos senhor, da pra passar a grana logo, por favor? Primeiro os mais velhos...

- Está vendo? – olha triunfante para Maurício - Isso que é educação, “primeiro os mais velhos”, que lisura, deveria seguir o exemplo...

- Está falando do que? – o ladrão olha confuso e desconfiado

- Não concordo! – Maurício protesta - Veja bem, “seu” ladrão, ele já não paga passagem, tem cadeira cativa e ainda vai ser o primeiro a ser assaltado? É por isso que nós, os jovens, somos rebeldes, não há lugar para nós neste país...

- Não seja por isso! –o educado meliante – passa logo a “grana”, meu jovem, e o relógio também...

- De jeito nenhum! – o indignado Armando - Tenho mais de sessenta anos...- mostra a identidade para o ladrão -...tenho meus direitos garantidos por lei, temos preferência nos ônibus, nos bancos, nos cinemas, nos teatros...

- Hospitais, asilos, necrotérios...- completa Maurício

- Que é isso rapaz! – o ladrão chama a sua atenção - Que falta de respeito, ele tem idade para ser seu avô!

- Mas não é...

- Sorte sua, se eu fosse o seu avô já teria aprendido há muito tempo como tratar os mais velhos...

- Meu pai mesmo...- o saudosista ladrão -...quando estava sóbrio, sempre nos obrigava a respeitar os mais velhos, a ajuda-los na rua, dar lugar nas filas...

- Exatamente o que eu estou dizendo a mais de meia hora a este “moleque”...

- Claro...- Maurício sorri compreensivo -...e seu “sóbrio” pai também ensinou a rouba-los, não é mesmo?

- Esse é o meu trabalho, é diferente...-olha para Armando friamente -... o senhor não concorda?

- Bem, isto é, veja bem...

- Essa foi boa, vamos lá, Armandinho, concorda ou não?

- Cada caso é um caso...- Armando tenta ainda argumentar

- Eu também quando ficar velho...- o sonhador ladrão -...quero ser bem tratado e respeitado...

- Continue desse jeito que com certeza vão te tratar muito bem...- o irônico Maurício -...comida, roupa lavada, televisão...

- E uma “velhinha” do meu lado para um “cafuné”...

- Aí já é mais difícil, ainda não existem presídios para casais...

- Escute aqui seu “moleque”...- o indignado ladrão

- Não ligue para ele...- o solidário Armando -...os jovens são assim mesmo, pensam que sabem tudo, que nós não prestamos para mais nada...

- Eu já não acho...- o orgulhoso ladrão -...os mais velhos devem ser nossos exemplos, temos que admira-los e aprender com eles...

- Até me emociono ao ouvir isso...- o emocionado Armando

- Escadinha, Fernandinho Beira-Mar e o mais famoso de todos os tempos, Al Capone, meu herói...

- Agora quem ficou emocionado fui eu...- Maurício cutuca o Idoso -...não da vontade de chorar?

- Então, meus amigos? – o equilibrado ladrão - Já decidiram quem vai ser o primeiro?

- O senhor me convenceu...- o esperto Maurício -...primeiro os mais velhos...

- Que é isso! – o arrependido Armando - Para depois falarem que não damos chance para a juventude de nosso país? Faço questão, primeiro “Mau-Mau”...

 - “Mau-Mau”?

- É o meu apelido...

 - Legal! – o animado ladrão - O meu é “Tiro-Certo”, nunca errei nenhum...

- Ai...ai...- Armando em pânico

- E...e...foram muitos? - o gaguejante jovem

- Ah, não muitos, comecei minha carreira tarde, já tinha quinze anos, foram só cinco...

- Só? – o apavorado jovem

- Benza Deus! – o mais apavorado idoso.

- Calma, senhor...

- O nome dele é Armando...

- Armando? – eufórico Ladrão - Era o nome do meu pai!

- “Ufa”, que bom...- Armando suspira aliviado

- Ele me dava cada surra, tenho as marcas até hoje, foi o primeiro tiro certo...

- É, sempre digo, nome não quer dizer nada...- quase enfartado Armando

- Como eu ia dizendo “seu” Armando, fique calmo, até hoje só “apaguei” os folgados por dois motivos, sou um ladrão de princípios éticos, o primeiro porque eles reagiram...

- Ah, eu nunca faria isso...- esperançado Armando

- E o segundo? – o curioso Maurício

- Os folgados estavam “duros”, sem um centavo, é a maior falta de respeito com a gente!

- Aiii...

- “Fica frio”, “Armandinho” – o jovem tenta anima-lo -...mostra sua “carteirinha”, idoso não paga...

- Como não? Posso até cobrar meia, mas alguma coisa tem que “rolar”, vamos logo, tenho outros lugares para trabalhar, e ai “coroa”, não enrola, passa logo a grana!

- “Coroa” – o contrariado Maurício - E o respeito que o seu “sóbrio” pai te ensinou? Isso lá são modos de falar?

- Tem razão, desculpe “seu” Armando, por favor, me forneça o seu dinheiro ou serei obrigado a matá-lo, com todo respeito...

Um homem, um pouco afastado de onde estavam, percebe o assalto em andamento, também tem um revolver na cintura, vai passando por entre os outros passageiros, tentando se aproximar sem chamar atenção.

- É que me pegou desprevenido...- o suado em bicas Armando -...só recebo a aposentadoria segunda-feira...

- Desculpe, mas não posso abrir exceções...- o incorruptível Ladrão -...tenho um nome a zelar, vamos lá “seu” Armando, só um realzinho...

- Não...não tenho...- o apavorado idoso

- Cinquenta centavos? – o benévolo assassino

- Estou indo jogar baralho, sempre é a vez de um de nós pagar o aperitivo ou um café...

- “Seu” Armando! Eu entendi mal ou o senhor não leva dinheiro só para poder filar dos outros? – o espantado Mauricio - Que vergonha!

- Eu...eu...

- Olha “seu”Armando, sinto muito, mas...

Tiro Certo é agarrado por trás, o homem armado o pega de surpresa, o desarmando e algemando:

- Quieto! Polícia! Te “manjei” de longe seu malandro...

- Calma, doutor, por favor, eu me entrego!

- Viu só, “Armandinho”! “doutor”, ”por favor”, depois o senhor diz que não se respeita mais a polícia...

- Quem é que não me respeita? É você velho? - o desrespeitoso policial

- Velho? – protesta Tiro Certo - Poxa doutor, mais respeito com “seu” Armando!

- Cala a boca malandro!

Dá uma tapa na cabeça do Tiro Certo

- Ai, olha os direitos humanos! - reclama o injustiçado ladrão

- Está vendo, “Armandinho”? - Maurício comenta - É por isso que ninguém respeita mais a polícia...

- Antigamente respeitavam...

- E ai daquele que não respeitasse...- o saudoso policial

- Respeitavam não, tinham medo, era diferente... – esclarece o politizado Maurício -...na época da ditadura a polícia fazia e desfazia e ficava na “boa”...

- Bons tempos! – também saudoso policial - Tinha até esquadrão da morte..

- É verdade, bons tempos...- o irônico jovem -...matavam ou prendiam por qualquer coisa, sem provas, culpado ou inocente, é por isso...

- Por isso o que? – o curioso Tiro Certo

- Que se tinha respeito! – o convicto Armando

- Que vocês se “cagavam” de medo da gente! – o também convicto policial

- É por isso que quando acabou a ditadura e as pessoas puderam começar a manifestar suas opiniões, que a “represa” transbordou, que o conceito de liberdade foi levado a extremos, que o “respeito” acabou, isso porque na verdade ele nunca existiu, o que existia de fato era o medo e isso prova que respeito não se impõe, se conquista...- completa o plenamente convicto jovem

- Queria ter um filho assim...- Tiro Certo enxuga uma furtiva lágrima

- É incrível! – o surpreso Armando - Esse “moleque” consegue enrolar todo mundo...

- O papo está bom, só que está na hora de colocar este espertinho na “cana”, motorista, pare neste ponto ai próximo ao distrito, temos que arranjar um novo lar para esse “sem-grade", vamos malandro! - o policial vai empurrando Tiro Certo

- Tchau, “Mau-Mau”, “seu” Armando, fiquem com Deus, desculpe qualquer coisa...

Os dois descem do ônibus por entre os assustados passageiros, Armando sorri pensativo:

- É “moleque” se desse para juntar a sua inteligência com a educação do Tiro Certo o mundo seria perfeito, este mundo está “virado” mesmo, essa violência, não dá nem mais para sair na rua...

- Uma hora a coisa muda Armandinho, só o bem é eterno, o mal, mais cedo ou mais tarde, “pia” fora...

- Bem com essa confusão toda você conseguiu o que queria, ficou ai “esparramado” no meu banco preferencial o tempo todo, vai descer onde?

- No ponto final mesmo...

- Eu também, estamos quase chegando...

- Sua “namorada” resistiu heroicamente ficar de pé?

- Ela acabou de descer, e não era minha namorada, o que é uma pena, até que ela ainda dava um bom caldo...

Os dois riem, Maurício lamenta:

- Que pena, logo agora que eu ia dar meu lugar para ela...

- Muito engraçado, agora nem ia precisar, está cheio de lugar para sentar, acho que a maioria desceu antes por causa do ladrão...

- “Tiro-Certo”...

- Apesar de tudo parecia ser um bom sujeito, educado...

- É, talvez em outras situações, com um pai totalmente sóbrio, ele teria seguido outro caminho, vai saber...

- Engraçado, você é um garoto inteligente, às vezes até “parece” educado, não entendo porque a falta de consideração com os mais velhos, a falta de respeito...

- Eu tenho respeito e não só pela “velharia”...– sorri brincalhão antes que Armando reclame -...respeito a todas as pessoas, é assim que tem que ser...

- Só que não parece...

- Respeito “Armandinho” não é só ceder o lugar aos mais velhos...

- Já é um bom começo...

- Sim, sem dúvida é importante termos lugares reservados aos idosos, aos deficientes, garantir o acesso, a locomoção...

- Agora que estamos chegando que você vem com esse discurso...

- Acho que é preciso, principalmente, acabar com essas filas nos balcões da previdência, garantir um atendimento digno na saúde, auxiliar na inclusão efetiva na sociedade, para serem mais participativos, mais atuantes, a experiência de vida de vocês, dos que lutam para superar deficiências, é muito importante para auxiliar na nossa formação, para nossa juventude...

- A maioria das pessoas olha para nós já com impaciência, pensando que vão ter trabalho redobrado, querem se livrar logo da gente...

- E isso acontece até dentro da própria família, achando que os mais velhos são incapazes, que não sabem mais tomar decisões, são tratados como crianças, como inúteis e isso não ocorre só com eles, com os deficientes também, confundem deficiência com inutilidade, poucos são os que os estimulam a tomar suas próprias decisões e procurar viverem de forma normal, participativa...

- É verdade, o que mais sinto falta quando estou com meus filhos e netos é conversar, em poder dar minha opinião, participar das decisões, sinto-me meio que excluído...

- É, sei como é se sentir a parte, isolado...

- Sabe? Como?

- Deixa pra lá, falta muito ainda pra gente chegar?

- Já chegamos, não está vendo? Também com esses óculos escuros...

Armando se levanta, Maurício o acompanha.

- Posso até dizer que apesar de tudo foi um prazer te conhecer “Mau-Mau”...

- É isso ai “Armadinho”, também gostei de te conhecer, o senhor e a sua bengala...

- Da próxima vez já sabe, é só não sentar nos lugares preferenciais, vê se deixa de ser folgado e de fingir que não enxerga aquele enorme colante que bem ali...- aponta para o colante que identifica os assentos preferenciais -...jovens como você ainda me fazem acreditar que nosso mundo ainda não está totalmente perdido...

- Olha o preconceito, Armandinho! Idade não tem nada com isso!

- Pode ser, talvez, bem como vocês dizem...- estende a mão para Maurício -...toca aqui “velho”! – Maurício continua impassível – Vamos lá “moleque”, teve uma recaída ou não quer apertar a mão de um pobre idoso?

- Opa “tio” desculpe...- estende sua mão longe da de Armando, que olha-o sem entender, apertando a mão de Maurício, que lhe dá um forte abraço -...fica com Deus, Armandinho, a gente se cruza por ai...

- Está tudo bem com você?

- Claro “velho”, a vida é só alegria, vou nessa...

Ajeita o fone no ouvido, tira da mochila uma bengala dobrável e vai tateando até chegar na porta do ônibus, desce os degraus e vai calmamente caminhando pela plataforma, desviando dos obstáculos com uma facilidade incrível, até sumir por entre a multidão. Boquiaberto, Armando o acompanha o tempo todo com o olhar:

- Mau-Mau é...é...você...é...

Está sozinho no ônibus, perplexo, até que uma voz em alto brado o faz despertar:

- E ai, “coroa”! Vai descer ou continuar passeando de graça o dia todo? Não tem mais o que fazer?

- Já vou seu mal-criado, seu trabalho é dirigir esse ônibus e só, bem caladinho, isso é jeito de falar com os mais velhos? Fique sabendo que respeito é bom e eu gosto!


FIM