Não
podemos, ao nos referirmos ao conceito cristão em sua essência, deixar de falar,
além do amor, em outro sentimento que está intimamente ligado a ele, que vem a
ser a RENÚNCIA!
Ainda
que sejamos os responsáveis únicos por nossa transformação espiritual, por
nossa ascensão, fato é que não iremos avançar um único passo se não formos caridosos,
se não formos humildes, se não participarmos de forma ativa no melhoramento de
nossa sociedade, envolvendo claro o auxílio natural e direto aos nossos irmãos
do caminho.
Jesus
fez questão de frisar que o mandamento maior capaz de nos levar ao reino dos
céus, capaz de nos tornar efetivos tarefeiros de sua Seara, é aquele que diz
que precisamos amar a nós mesmos e ao próximo na mesma intensidade e proporção.
Desta
forma, de nada adiantará agirmos e pensarmos em nós mesmos se nossas conquistas
não forem compartilhadas, não forem distribuídas ao nosso redor, fazendo com
que o ambiente a nossa volta seja acolhedor e atraia nossos irmãos para que
eles se sintam motivados a também buscarem suas renovações.
Precisamos
compreender que precisaremos por inúmeras vezes abrir mão do que desejamos para
realizarmos aquilo que precisamos, não só para nossa evolução, mas também na
contribuição evolucional do próximo, e consequentemente do todo.
A
nossa felicidade, a nossa paz, está atrelada a felicidade e a paz de todos, não
só daqueles a quem amamos, mas de todos, sem exceção, porque nossa tarefa maior
está em trabalhar em prol do Cristo, em disseminar a essência dos seus
ensinamentos e exemplos.
Condicionados
a necessidade de amarmos ao próximo como a nós mesmos está o fato de perdoarmos
de forma incondicional, assim como de não julgarmos para não sermos julgados,
de não acusarmos caso também tenhamos cometidos erros, de amarmos aos nossos inimigos,
de oferecermos a outra face nos embates da vida, o que não deixa margens a qualquer
tipo de especulação ou ponderação à afirmativa que precisaremos muitas vezes
renunciar a nossa satisfação pessoal em prol da paz e do entendimento.
Na
parábola do bom samaritano vemos que um homem sem títulos, sem poderes maiores,
em uma posição desprezada pela sociedade, foi o único a renunciar do seu tempo,
de seus bens materiais, à favor de um desconhecido, saindo do trajeto que
seguia, acompanhando e alojando condignamente um irmão do caminho em dificuldades,
e garantindo as despesas que viessem a ocorrer até que ele estivesse em condição
de se recompor, tudo isso sem nada questionar, sem nada condicionar, sem nada
esperar em troca, nem mesmo a gratidão por parte daquele que estava auxiliando.
Fica
impossível falar do sentido amplo da renúncia cristã, assim como compreendê-la
e assimilá-la, quando ainda temos dentro de nós sentimentos tumultuosos como o
egoísmo, o orgulho, a vaidade, o preconceito, o medo ou a preguiça.
Renunciar
significa se sacrificar por algo ou alguém
em uma situação que talvez venha até mesmo prejudicar a nossa própria
felicidade, ao nosso conforto, a nossa aparente tranquilidade física ou espiritual.
Jesus
renunciou o direito a salvar a si mesmo, a combater a quem de forma gratuita o
agredia e caluniava, sendo humilhado e ferido, em prol de um objetivo maior, o
de nos deixar gravado na alma seus ensinamentos através dos exemplos da sua
vida.
O
Cristo renunciou para nos mostrar até onde o Amor pode superar a qualquer outro
sentimento que a nossa imperfeição ainda insiste em alimentar.
Nós,
como cristãos, como espíritas, temos que aprender a renunciar, por exemplo, ao
direito de defesa quando nossa reação ameaçar ser proporcional, igual ou maior
do que a agressão sofrida, ainda que tenhamos todas as razões, os motivos e as
justificativas para tal, pois precisamos definitivamente aprender que não
estamos aqui para julgar, para condenar, para justiçar ou apontar erros alheios,
estamos aqui para amar, para fazer emergir de dentro de nós o Amor em toda sua
pureza, em toda sua essência, ainda que para isso seja preciso sofrer, seja
preciso se humilhar, seja preciso renunciar momentaneamente ao direito da própria
felicidade.
Temos
que aprender a renunciar a prazeres imediatistas quando houver prioridades mais
importantes, mesmo que estas não nos tragam nenhuma recompensa, principalmente
as prioridades ligadas a caridade para com o próximo, seja através da palavra
ou da ação.
Precisamos
deixar de alegar que não temos tempo para servir, quando dele dispomos para
coisas puramente fúteis e sem sentido, por mais que as valorizemos.
Inúmeras
vezes deixamos de atender a uma pessoa necessitada, seja no que for, seja nosso
ente querido ou um desconhecido, porque temos que assistir a um capítulo da novela
ou ao jogo de futebol.
Somos
muito cristãos, somos muito espíritas, somos muito caridosos, somos muito
pacientes, quando fazemos as coisas na hora que queremos e do jeito que
queremos, abrindo mão do nosso tempo e de nossas energias desde que não atrapalhe
ou interfira em nossas “prioridades” sociais.
Se
nos consideramos espíritas apenas pela fachada, apenas para sustentar um título
ou uma posição, sem nos comprometermos em nada com o que seu conceito representa,
façamos um favor a nós mesmos e a Doutrina, “renunciemos” a este direito e
continuemos a viver nossa existência de acordo com que nosso atual estágio
evolutivo assim exige e determina, até que venhamos a despertar para a efetiva
necessidade de transformação íntima!
Muita
Paz!
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