Inúmeros são aqueles que vivem sob o critério da
postergação, ou seja, adiando aquilo que no momento não quer realizar, ou para
tal não está preparado, ou prefere julgar que não está, principalmente, quando
aquilo do que abre mão de fazer exige, por suas características, tempo e energia,
esforço próprio e disciplina, o que em um primeiro momento é visto mais como
uma obrigação do que uma tarefa prazerosa e que trará recompensas ou resultados
imediatos.
Muitos, por exemplo, apesar de se sentirem atraídos
para a profissão de médicos, quando vislumbram as dificuldades que terão que
enfrentar, a capitalização de recursos, quando estes não estão facilmente
disponíveis, o tempo da preparação para ser aceito na instituição de ensino, a
disciplina que terá que se impor, geralmente, deixando para trás diversões e compromissos
sociais, se distanciando naturalmente dos amigos de folguedos, preferem
desistir, ou adiar, ou buscar outra profissão que lhe tragam um retorno
imediato e que lhe exijam menos teóricos “sacrifícios” para que venha a ser
concluída, mesmo que em um primeiro momento se afastem de seus ideais.
Quando isso acontece, corre-se o risco de se estar
enganando a si mesmo, convencendo-se de que é tudo “igual”, que mais tarde
poderá realizar sua meta, buscando justificativas que corroborem com sua decisão,
com sua escolha, ainda que no fundo, sua consciência grite contrária a sua
atitude, ou, aos motivos que levaram a toma-la.
Como espíritos eternos, todos nós, por estarmos
ainda enfrentando inúmeras dificuldades dos mais variados tipos enquanto encarnados,
e no momento estagiando em um mundo de provas e expiações, com certeza nos
encaixamos neste grupo, ressaltando, inclusive, que só por este fato, já
representa para nós uma significativa vitória, afinal, poderíamos ainda estar
na fase de não desejarmos nenhum tipo de mudança para o bem, sendo que hoje, por
estarmos aqui juntos, escrevendo ou lendo, pelo menos, já a aspiramos, porém, confessemos,
não com a convicção necessária, já que ainda nos escondemos atrás de desculpas
e justificativas para o adiamento das atitudes necessárias para nossa efetiva
transformação espiritual.
Precisamos estar atentos, entretanto, para não cairmos
no erro de nos iludir, de acharmos que teremos tempo para começar, que são válidas
nossas razões, nos acomodando na postura inerte de nada fazer
para melhorar, ainda que nada estejamos fazendo para piorar.
Existe um ideal a ser alcançado em relação a renovação
para o bem, dentro dos parâmetros estabelecidos pelo Cristo através de seus ensinamentos
e exemplos, e precisamos ter consciência que a cada atitude errônea, assim como
a cada adiamento, mais nos desviamos do caminho que nos levará a esta conquista.
Somos livres para tal, é fato, ninguém irá nos
obrigar a avançar constantemente, porém, não nos será permitido também avançarmos
quando e da forma que desejarmos caso não estejamos nos portando de acordo com
aquilo que se faz necessário, dentro dos critérios estabelecidos pela Verdade Cristã.
Jesus deixou claro que precisaremos carregar a
nossa cruz, e se nossa vontade no momento é estagnarmos, ainda que não
estejamos prejudicando a ninguém, não poderemos esperar que a mesma distância
seja mantida de nossos irmãos maiores devido ao tempo que desperdiçarmos com a
nossa indevida ação.
A vida prossegue de forma contínua, aqueles que hora
estão ao nosso lado e que optam por avançar vão construindo novas obras,
conseguindo novas conquistas, e para no futuro os alcançarmos, teremos que
percorrer os mesmos caminhos que eles percorreram, só chegando até eles quando
estivermos no mesmo estágio, o que se tornará cada vez mais difícil, porque o
caminhar deles é interrupto, e assim, quanto mais tempo ficarmos parados, mais
tempo e esforço teremos que dispor, já que não é justo que eles parem para nos
esperar, já que foi nossa opção estacionar e desperdiçar nosso tempo.
Muitos se iludem pelo fato de que, já que são
eternos, e que as oportunidades sempre lhes serão dadas, que poderão tomar a
decisão de mudar após ter tomado até a última gota do cálice da inferioridade
espiritual, sem pressa, sem pressão.
Para isso, gostaríamos de lembrar que a porta do
erro é larga e florida, e a do acerto, é estreita e exigirá sempre muito esforço
para ser transposta.
Em uma melhor comparação, o desvio que tomarmos do
caminho do bem será uma descida que percorreremos em menos tempo e mais
facilmente, nos dando prazer e uma enganosa leveza, porém, com o tempo, ela se
tornará escorregadia, o que nos levará a tomar diversos tombos e sofrer inúmeras quedas, consequentemente,
nos trazendo dor e adversidades.
Poderemos até parar, estacionar, refletir, nos
cansar dos erros cometidos, do desvio tomado, porém, para voltarmos ao caminho
do bem ninguém poderá nos carregar, não haverá um veículo nos esperando para
confortavelmente regressarmos, teremos que ter disposição, vontade, disciplina,
porque os primeiros passos ainda serão em um terreno escorregadio, sem esquecer
que agora teremos que subir, teremos que percorrer todo o caminho de volta em
ascensão, o que exigirá muito mais trabalho e muito mais tempo. É a porta
estreita!
Só que Deus é bondade, é Amor, e como diz a Lei, Ele
não quer a morte do pecador, mas a sua redenção, por isso também o apóstolo anunciou
que o Amor cobre uma multidão de pecados, e desta forma, para retornarmos por
este desvio até o verdadeiro caminho da redenção e da evolução, não
precisaremos necessariamente sofrer, mas sim trabalhar, nos esforçar, nos
sacrificar em prol do próximo, em prol da coletividade onde vivermos, perdoando
e sendo perdoando, nos redimindo através do esforço no bem, nos redimindo com
nossa própria consciência com suor e as lágrimas do trabalho realizado.
Não há favorecimento ilícito ou privilégio de qualquer
tipo na Justiça Divina, e, sempre, sem justificativas ou desculpas que a isso
modifique, será dado a cada um exatamente de acordo com suas obras.
Que assim seja!
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