Há
casos de obsessão espiritual, outros de predisposição orgânica, porém, em
muitas situações, as causas do desequilíbrio mental, geralmente, são
oriundas da fraqueza, da covardia, da aceitação, quando se busca fugir da provação,
do problema, não os enfrentando, entregando-se ao desânimo, ao desespero, ao inconformismo,
ao medo, a derrota.
Justificativas
poderão existir inúmeras, certo, porém, nenhuma que isente a total culpa do
enfermo, quando de alguma forma, teve dentro de si plena possibilidade de reação,
quando sua razão, seu esforço, sua luta, sua fé, seu discernimento, sua paciência,
o poderiam lhe ter sustentado, e assim, evitado o desequilíbrio e a eclipse da
razão.
Vemos
inúmeros casos nos exemplos de todos os tempos, com exceções, daqueles que
buscam a mendicância, que preferem viver nas ruas, não apenas pela incapacidade
de encontrar algo melhor, mas pela entrega íntima ao problema, a dor, a desilusão,
ao fracasso, dos quais não tiveram forças para suportar, superar, vindo a
ocorrer o surto, a entrega, a rendição, deixando-se arrastar pelo conformismo,
pela depressão, pela revolta, pela tristeza, perdendo a vontade e o desejo de
continuar e enfrentar as situações adversas com coragem e fé.
Vemos
entre eles pessoas notadamente instruídas, capazes, fortes, resistentes física e
organicamente, idosos ou jovens, homens ou mulheres, que se encontram não mais
sob o domínio da razão, vivendo em outra realidade, em outro mundo, muitos
deles, talvez sua maioria, entregues ao cativeiro de influências espirituais
negativas, inferiores, sejam estas com o intuito de prejudica-los, de força-los
a se manter nessa situação, ou simplesmente por serem cúmplices, associados,
por terem sido atraídos pelos mesmos sentimentos que os levaram a se entregar,
potencializando o desequilíbrio, tornando ainda mais difícil a recuperação, o
refazimento, mesmo quando irmãos do caminho deles se aproximam tentando
auxilia-los, não só com a ajuda material, mas também oferecendo meios que
recuperem a razão, a condição de reajustamento, até mesmo com a possibilidade de
localizarem seus familiares, a algum arrimo que os possa ajudar de alguma forma
retornar a normalidade de suas existências.
Muitos
são levados às ruas, a esse tipo de vida, arrastados pelos vícios, pela bebida,
pelas drogas, enquanto que outros seguem o caminho inverso, por terem se
entregues ao desânimo, a dor, por terem buscado nas ruas a fuga de seus problemas,
acabam buscando na bebida e nas drogas algum tipo de lenitivo que o auxiliem a
se manter nesta triste resolução.
São
enfermos atualmente, infelizmente, incapazes de reagir, a maioria, porque não
querem e não buscam esta reação, melindrados, magoados, ainda marcados pelo
fato gerador que os levaram a sucumbir, a decair, e são diversos estes fatores,
ligados a desilusões pessoais, familiares, profissionais, pelos vícios, pelo
mau uso dos bens que possuía, entre tantos outros.
Criticados
por aqueles que se julgando fortes os consideram fracos, vivem a margem da
sociedade, por ela ignorados, evitados, ainda mais por aqueles que passaram
também por grandes decepções, por grandes sofrimentos, por problemas graves
para conseguirem conquistar a vida que possuem hoje, o que lhes exigiu muito
esforço, muita disciplina, muita força de vontade, até mesmo muita fé em Deus,
e que por isso, passam a considerar e a exigir, que todos reajam a adversidade
como ele reagiu, não conseguindo encontrar desculpas e justificativas para
aqueles que preferem a entrega, a conformação, os considerando covardes, preguiçosos,
os agredindo pejorativamente com denominações como “vadios”, “vagabundos”, não
compreendendo que, na verdade, cabe a ele agradecer por já ter atingido a este
estágio, de já ter encontrado dentro de si forças para se superar, para contornar
obstáculos, por ser corajoso, forte, realizador.
Aquele
que conseguiu vencer precisa compreender que está vitória lhe traz ainda mais
responsabilidades frente aos seus irmãos do caminho ainda necessitados, porque,
por mais que esteja dominado pelo orgulho e pela vaidade, por mais que não
queira reconhecer, se venceu, não venceu sozinho, teve para isso ajuda direta
ou indireta de outros companheiros de jornada, no campo físico ou no espiritual,
o que mostra que somos todos interdependentes, interligados, tendo o mais forte
sempre o dever de auxiliar ao mais fraco e não esmaga-lo ou lhe infligir ainda
mais duras penas, mais duras provações, como se tivesse o direito de julgar, de
condenar, de arbitrar sobre o que é o certo ou o errado.
Aquele
que se encontra em desequilíbrio, já distante de ter condições de, por si
mesmo, encontrar o caminho de volta, precisa, essencialmente, de amor, de compreensão,
de muito carinho, de paciência, de tolerância.
Dificilmente
conseguiremos ao ajuda-lo, convencer a retornar a uma vida “normal”,
principalmente, porque serão raros os casos em que poderemos ter acesso quanto à
causa que os levou a derrocada física e moral, os verdadeiros motivos que o levaram
a buscar para si aquele tipo de vida.
Evidente
que muitos não querem ser ajudados, muitos até podem reagir de forma violenta,
ou de má fé para com aqueles que querem ajuda-lo, mas isso nunca deverá ser
motivo para que o tarefeiro de boa vontade venha a desistir de seu intento,
venha a se afastar do trabalho de ajudar e socorrer aos seus irmãos do caminho
que se encontram nas ruas, as margens da sociedade.
Evidente
que o governo, por ter subsídios, tem suas responsabilidades, mas também o tem
quanto a segurança, quanto a educação, quanto a limpeza urbana, quanto a saúde,
o que não significa com isso que todos nós, como membros efetivos da
coletividade onde vivemos, também não tenhamos nossas responsabilidades, também
não tenhamos condições plenas de algo fazer para transformar o mundo em um
local melhor de se viver, principalmente no que tange a auxiliar ao próximo, aos
que se encontram em situações mais difíceis que a nossa, da mesma forma que estamos
sempre sendo de alguma maneira auxiliados, por mais que insistamos em não admitir.
O
princípio da caridade, do amor, é sempre o mesmo, servir, doar, e seguir adiante,
sem esperar ou exigir soluções imediatas, agradecimentos, reconhecimentos, louvores,
elogios, ainda mais, que o efetivo resultado, a verdadeira recompensa,
pertencerá sempre ao Pai, a Deus.
Se
hoje podemos ajudar alguém caído na rua, tenhamos a absoluta certeza que, se um
dia em nosso passado milenar ainda não fomos ajudados, um dia o seremos, que o
desequilíbrio físico, espiritual, mental, não é privilégio ou castigo, que
todos estivemos, estamos ou estaremos a eles sujeitos, e quando assim o for,
poderemos ter também a certeza que, entre vaias, apupos, discriminação,
desprezo, condenação, teremos ao nosso lado aqueles que abnegadamente nos
apoiarão, conhecidos ou não, irmãos e amigos anônimos, que fazem de suas vidas faróis
a iluminar o caminho daqueles que se encontram na escuridão.
Agradeça
a Deus todos os dias se hoje você já pode iluminar em vez de precisar tatear, se
já pode servir em vez de precisar ser servido, que já pode renunciar em prol de
alguém, em vez de precisar implorar para que alguém renuncie um pouco do seu
tempo e de sua energia por você.
Simples
assim.
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