Quando no plano físico, encarnados, dificilmente
conseguiremos compreender na íntegra, as infinitas possibilidades que a vida no
plano espiritual nos oferece, as diferenças que ela possui em relação a nossa
em inúmeros aspectos, e a potencialidade realizadora que nos é auferida quando
nela estamos plenamente integrados.
Mais difícil ainda se torna essa compreensão por não
trazermos na atualidade em nós, qualquer resquício em nossas lembranças deste mundo
paralelo do qual todos nós temos origem, e pelo qual já passamos inúmeras vezes,
muito provavelmente com atuações muito mais marcantes e atuantes da que
atualmente temos como encarnados.
Para quem estuda a Doutrina Espírita, fácil é o
entendimento do porque deste esquecimento momentâneo, o porquê deste véu que
nos impede de recordar quem fomos, o que já fizemos, quais caminhos já
percorremos, e qual o grau de intimidade que situações e pessoas atuais têm em
relação ao nosso passado de outras existências.
Se vivemos em um mundo de provas e expiações, ainda
muito ligado a inferioridade humana, normal se faz que nossas maiores
responsabilidades e necessidades estejam ligadas a erros e crimes a serem
resgatados e ressarcidos, nos dando uma previsão de não ser nada lisonjeira a
lembrança de um período em que acostumados estávamos ao crime, a ações ligadas
ao mal, a escolhas indevidas, onde não deve ser pequeno o número de pessoas que
consta em nossos atuais relacionamentos, que não tenham conosco um vínculo pretérito,
onde nos confundimos em posições alternadas de vítimas e agressores, traidores
e traídos, sendo que mais de um a quem tenhamos prejudicado ou que tenha a nós
ofendido esteja, hoje, embaixo do nosso teto, na posição de entes queridos ou
amigos.
A ignorância, o esquecimento, são assim necessidades
benéficas para que venhamos a tomar decisões puramente baseados nos atos
presentes, sem nos deixar levar por prevenções ou preconceitos, não tendo assim
que passar por situações constrangedoras e limitadoras, que em nada iriam
acrescentar de positivo para nossa existência atual, assim como as dos nossos
irmãos do caminho.
Entretanto, ainda dentro do estudo da Doutrina
Espírita, para que não estejamos totalmente desvinculados desta nossa vida, a
do plano espiritual, todos temos a oportunidade de algumas horas de nossa
existência diária, poder compartilha-la de alguma forma com nossos amigos, benfeitores,
associados, e até mesmo, quando os tivermos, com nossos adversários e inimigos
que lá se encontrem presentemente.
Este tempo se refere ao período em que estamos libertos
pelo sono físico, quando estivermos dormindo, momento em que nosso espírito se
vê parcialmente liberto das amarras que o prendem ao vaso de carne, podendo, em
certas circunstâncias, vir a participar de forma efetiva em diversas outras
atividades, mais ou menos importantes, no plano espiritual.
Evidente que muitas vezes nossos sonhos nada mais
são quem reflexos condicionados de nossa mente em relação as atividades e
preocupações que alimentamos enquanto despertos, mas, é inegável também, que
inúmeras são as vezes que somos nós, em espirito, que atraímos ou somos
atraídos por situações ocorrentes na espiritualidade, geralmente afinadas com nossos
gostos e tendências, não aqueles que fingimos alimentar enquanto despertos, mas
as que valorizamos, de fato, em nosso íntimo, longe do conhecimento e dos
olhares daqueles que desfrutam de nosso convívio na existência terrena.
Ainda que inconscientes, e com poucas lembranças claras
quando despertos, quase todos nós, mais ou menos intensamente, temos esses
momentos paralelos quando dominados pelo sono físico, vindo a usufruir de
situações inúmeras, satisfazendo nossas vontades, ou de acordo com o que nossa
mente nos impõe, podendo assim passar momentos agradáveis ou não junto a outros
irmãos do caminho que estejam desencarnados, ou que, igualmente a nós,
desfrutem de uma relativa liberdade espiritual enquanto adormecidos estão.
Aprofundando-nos um pouco mais no estudo do Espiritismo,
de seus conceitos, passamos a ter o conhecimento que nesta libertação
momentânea pelo sono físico, passamos a conviver na espiritualidade nos
utilizando de nossa veste espiritual, do períspirito, e com ele agimos tão
livremente e comumente como se estivéssemos despertos na carne, tanto, que
muitas vezes confundimos as ações, os pensamentos, crendo estarmos plenamente
despertos, em situações de nossa existência material, sem atinar no momento
que, vivos estamos sim, mas em outro plano, sob outras circunstâncias.
Compreendendo essa capacidade de realização que todos
nós encarnados temos, não podemos deixar de ressaltar as diferenças de posturas
e atividades que podem vir a ser levadas a efeito por cada um de nós, afinal, livres,
vamos onde desejarmos ir, e fazendo exatamente o que os nossos desejos
determinarem, podendo assim utilizar deste tempo para o enriquecimento de nosso
espírito, com o estudo e atividades ligadas ao bem e aos preceitos da caridade
cristã, ou nos entregando aos desvarios das mais variadas matizes, alimentando
paixões, vícios, desregramentos, ou simplesmente a ociosidade, a displicência,
e o gozo da inércia e da inatividade.
Aqueles que possuem adversários ou inimigos podem se
envolver em brigas, discussões ou perseguições, seja na posição de vítimas ou
algozes, enquanto que outros se entregam as atividades de lazer que gostam,
desfrutando a companhia de amigos, nas relações afetivas, vivendo situações
paralelas, mas não menos reais das que vivem quando despertos no plano físico.
O mais importante para quem busca sua transformação
espiritual, para quem tem a intenção sincera de atuar e crescer dentro das
possibilidades que o Espiritismo oferece, é o condicionamento que pode buscar para
si para que venha a aproveitar destes momentos de liberdade espiritual durante
o sono físico, para enriquecer seu espírito, sua personalidade eterna, através
do estudo das mais variadas matizes, além, de poder se candidatar a tarefas que
estejam de acordo com sua capacidade realizadora, sendo assim útil para o
melhoramento de si mesmo, como também de outros irmãos do caminho.
Quanto mais estiver compenetrado nestes objetivos enquanto
desperto e atuante, maiores serão as probabilidades que sua mente seja a isso
atraída quando adormecido, ainda mais se reforçar a esta pretensão com a oração
sincera, buscando atrair para si o auxílio de seus amigos e benfeitores
espirituais, vindo assim a ver crescer as suas chances de que venha a participar
de forma ativa e efetiva quando liberto estiver parcialmente das amarras da carne.
Relevante sempre, em nosso atual estágio evolutivo,
é a intenção, o desejo sincero, porque dificilmente teremos plena lembrança do
que fizemos enquanto dominados pelo sono físico, não tendo assim a absoluta
certeza se estamos ou não aproveitando este tempo para os objetivos a que nos
propomos.
Desta forma, façamos o melhor esperando em contrapartida
o melhor, lembrando que ao trabalhador do Cristo cabe o plantio, sendo a responsabilidade
pela colheita dos frutos obra Daquele que tudo faz para que venhamos a crescer e
evoluir, o Nosso Amado Pai, a Deus.
Que assim seja!