sábado, 2 de junho de 2018

Família Espiritual...




Muitas vezes, dirigimos o nosso pensamento, as nossas dúvidas, os nossos anseios, descrevemos as nossas necessidades, àqueles a quem amamos e confiamos intensamente, e que, pela desencarnação, retornaram antes de nós ao plano espiritual.

São eles nossos avós, nossos pais, irmãos, amigos, até mesmo filhos, que já encerraram o seu ciclo no plano físico, e que, sabemos nós, com a fé e a razão que nos move, estão dando continuidade em suas existências na espiritualidade.

Normal, pelo amor que a eles dedicamos e que a nós eles dedicam, que julguemos, que esperemos, onde se encontrem, que mantenham o mesmo sentimento e a mesma preocupação que tinham por nós quando encarnados, a mesma atenção e o mesmo carinho, e, consequentemente, esperamos, também, o mesmo arrimo, que intercedam por nós em nossas dificuldades ou anseios, que dividam conosco o esforço para que venhamos atingir aos nossos objetivos, como muitos o faziam quando ao nosso lado percorriam o caminho no corpo da carne.

Quando já desencarnados eles estão, temos por hábito esquecer seus defeitos, suas limitações, a forma como pensavam e agiam, como priorizavam a vida, quais seus ideais e sonhos, passando a santifica-los, a julga-os em um estágio superior, isso sem intenções inferiores, mas, por desejarmos que eles estejam bem, não enfrentando dificuldades ou sofrendo, passando, então, a supervalorizar suas qualidades, ou aquelas que pensávamos ou que, enxergávamos que eles possuíam.

Essa nessa postura independe de nossa corrente religiosa, mas se potencializa, quando somos espíritas, quando somos sabedores da continuidade e das tarefas depois da vida no plano físico, conscientes que eles podem estar ao nosso lado, e assim o desejamos, esperando que continuem se interessando por nossos sucessos ou fracassos cotidianos, muitas vezes, e indevidamente, os escravizando a nossa personalidade, exigindo, mesmo que carinhosamente, que nos sejam anjos tutelares, protetores, agindo como crianças, transferindo a eles responsabilidades que pertencem unicamente a nós mesmos, nos portando de forma egoísta e insensata, por continuar a querer exigir que se mantenham cúmplices de todas as nossas decisões, dos nossos atos.

Agindo assim, acabamos por acarretar, para ambas as partes, uma dificuldade maior de desligamento, de compreensão de que a situação sofreu uma expressiva mudança, e que não podemos, assim como eles, continuar a viver como o fazíamos quando juntos desfrutamos os momentos da existência na matéria.

Desta forma, tanto os que desencanaram como os que permanecem no plano carnal, precisam se libertar e compreender, que vivem agora uma nova situação, para que possam dar continuidade natural as suas existências, mantendo o vínculo e o carinho que os unem, através de gratas recordações, sem manter algemas que tenham por objetivo a obrigatoriedade da ligação, não esperando por uma sequência que não mais pode existir, tal o grau de diferenciação que caracteriza agora seus objetivos e suas necessidade maiores.

Os nossos seres queridos que desencarnaram, possuíam, em seu íntimo, situações e pendências que não temos condições de aquilatar, por desconhecermos detalhes de sua existência, como também de seu passado cármico, desta forma, muitos daqueles que julgamos ser pessoas de bem, pessoas equilibradas, merecedoras das mais altas considerações por parte da espiritualidade superior, podem, na verdade, estar vivendo situações dolorosas, degradantes, oriundas de suas ações quando encarnadas, situações estas que desconhecíamos, ou que preferíamos ignorar, devido ao hábito que temos de sempre supervalorizar ao que somos e temos, em detrimento ao próximo, o que faz com que muitas vezes não consigamos enxergar a verdade dos fatos.

Devemos tirar por base nós mesmos, o quanto somos, de fato, sinceros, o quanto externamos daquilo que sentimos, e o quanto mantemos em segredo, fechado a sete chaves, os nossos sentimentos, os nossos anseios, as nossas atitudes quando estamos sozinhos, isso, em relação ao que demonstramos em nossas ações e nossas escolhas quando em relação com aqueles com quem convivemos, sejam eles íntimos ou não.

Quantas pessoas do nosso relacionamento, podemos afirmar, categoricamente, que nos conhecem exatamente como somos? E da mesma forma, quanto podemos afirmar, sem margem de erro, que conhecemos das pessoas do nosso convívio?

Isso só vem reforçar o conceito cristão que devemos amar e respeitar a todos como são, sem julgar, sem esperar que venham a pensar e agir como nós, o que facilita que as aceitemos com seus defeitos, com suas imperfeições e limitações, fazendo com que venhamos a valorizar suas qualidades, e potencializar aquilo que de positivo possam trazer para nós, da mesma forma que assim também deveriam passar a nos ver, facilitando que passemos a agir, todos, de forma mais sincera e transparente, fazendo com que deixemos de gerar falsos ídolos, falsas expectativas, diminuído a possibilidade que venhamos a nos decepcionar, facilitando que venhamos  vencer os nossos objetivos individuais, e os que temos como como coletividade, como sociedade.

Assim pensando, passa a ser natural, também, que não venhamos a alimentar falsas expectativas e esperanças quanto a situação de nossos amigos e entes queridos que vivem hoje no plano espiritual, não os avaliando pelo conceito que tínhamos deles quando estavam entre nós, seja ele positivo ou negativo, não correndo o risco de supor que estejam eles em condições plenas de nos ajudar, de nos orientar, como, também, que estejam sofrendo, precisando urgentemente de nosso auxílio, de nossa intercessão.

O plano espiritual é mera continuidade da vida que tínhamos no plano físico, ninguém melhora ou piora como ser humano pelo fato de ter desencarnado, apenas passa a viver de forma a potencializar tudo aquilo que alimentou em seu íntimo durante sua existência carnal, passando a estar exatamente no ambiente e nas companhias daqueles que atraiu para si com seus desejos, seus pensamentos, sua forma de viver, evidente que não aquela que aparentava, mas sim, a que realmente sentia e vivenciava em seu íntimo.

De nada adianta esperar que nossos entes queridos que vivem no plano espiritual passem a ser nossos anjos protetores ou aqueles que vão nos auxiliar em sonhos e dificuldades, porque não sabemos quais as reais situações que enfrentam no plano espiritual, sendo grande a probabilidade que venhamos a prejudica-los de alguma forma com estes inconsequentes chamados através do pensamento e da oração, porque podem estar vivendo um delicado período de adaptação, e podem se sentir ainda mais fragilizados com os nossos chamados que chegam até eles, ainda mais se estiverem, no momento, impossibilitados de responde-los e atende-los.

Se já compreendemos, como espíritas e como cristãos, os deveres maiores da caridade, da compreensão, da tolerância, e do amor, assim devemos agir com os nossos entes queridos que já partiram pela desencarnação para o outro plano, nada deles exigindo ou esperando, como devemos agir quando vivos e ao nosso lado eles estão, endereçando-lhes apenas pensamentos e sentimentos de paz e de esperança, de agradecimento e de amor, lhes desejando equilíbrio, força e coragem para vencer seus desafios, e se algo desejarmos deles, que seja a reciprocidade desses sentimentos, desses pensamentos, para que venhamos também a nos sentir mais fortes e mais capazes para superar nossas adversidades, para realizar nossos objetivos e nossos sonhos, com a certeza de estarmos o fazendo de forma a não voltarmos a nos entregar aos nossos desejos e instintos inferiores, nos auxiliando a nos manter firmes e resolutos no caminho do bem, sem nada pedir, sem nada esperar.

Tudo o mais, deverá acontecer de forma natural e segura, sem vir assim a prejudicar a jornada evolutiva de ninguém, tendo nós a certeza que sempre que possível, e permitido, eles estarão ao nosso lado, com o mesmo amor e o mesmo carinho que sempre nos uniu, tendo agora a mais ampla visão sobre o que desejamos, e o que, de fato, nós, como eles, precisamos para nossa vitória espiritual.

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