terça-feira, 30 de julho de 2019

Sobre não mudar ao próximo, mas amar...






A vida humana, desde que tivemos a oportunidade de começar a enxerga-la sob a ótica espírita, ou seja, compreendendo a eternidade da alma, sendo que seu início se perde no tempo, de acordo com a lei da reencarnação, das vidas sucessivas, onde racionalmente temos a certeza que não há morte, não há fim, mas, apenas uma continuidade de existências, na busca do aperfeiçoamento, da melhoria íntima, da corrigenda dos erros, no ressarcimento dos débitos, passou a se basear fundamentalmente no trabalho, na positividade, na evolução, e não mais apenas, como na maioria das vezes até então, um campo repleto de dificuldades e limitações geradas pelo nosso passado culposo ou nosso presente inconsequente,com um fim limitado a um inferno eterno de dores ou um céu meramente contemplativo.

Ainda que hoje tenhamos que enfrentar a dor, se, de fato, compenetrados estivermos no desejo de transformação espiritual de acordo com os conceitos cristãos, o fazemos com equilíbrio, com a resignação necessária, sem deixar de lutar para vencê-la e superá-la, mas conscientes que o tempo para que isso ver a se tornar realidade irá variar de acordo com nossas necessidades evolutivas, quando, então, foge da nossa alçada o seu término imediato.

Porém, desde que conquistamos a este patamar de percepção e conhecimento, normal se faz que desejemos levar adiante, principalmente, aos nossos entes queridos mais próximos estes mesmos princípios que vieram clarear nossa mente e acalentar nosso coração.

Normal também se faz, entretanto, que encontremos resistência, que encontremos até mesmo desprezo e escárnio quanto a nossa mudança de postura, a mudança que a postura espírita cristã exige, principalmente, quando começamos a lutar contra questões que fazem parte da “normalidade” de nossa sociedade, como o afã excessivo da conquista dos bens materiais, assim como do poder, da busca do corpo perfeito, dos valores distorcidos que temos hoje atrelados aos conceitos de felicidade e sucesso.

Ainda mais, quando passamos a querer que nossos entes queridos e nossos amigos também passem a enxergar as ofensas, as perseguições, as agressões, que venham a sofrer, principalmente aquelas que não se consideram merecedores, como situações que mereçam ser encaradas e vivenciadas de forma pacífica, não revanchista, tentando despertar a caridade e a benevolência através do perdão, do esquecimento das faltas, do respeito as diferenças, aconselhando-os a não julgar, ou seja, que ajam, de fato, de acordo com os exemplos do Nosso Mestre Jesus.

Pouco há de se esperar que venhamos a conseguir caso nossos entes queridos ainda não estejam dispostos a mudar, a renovar seus sentimentos, ainda mais quando eles não se consideram em erro, quando eles pensam que estão certos, quando o olho por olho e dente por dente ainda é a lei que rege suas reações frente a qualquer mal sofrido, até mesmo quando ainda preferem se entregar a revolta, ao desespero, ao medo, quando tenham que enfrentar situações adversas na vida, sejam quais forem suas origens.

Precisamos relembrar o quanto tempo demoramos para nós mesmos, chegar a este estágio de, pelo menos, considerarmos a nossa necessidade de mudança, quanto tempo levamos para reconhecer nossos próprios erros, e quanto tempo demoramos para ligarmos a solução de nossos problemas íntimos às verdades cristãs, e agora ao seu complemento, os conceitos espíritas.

Fora os anos durante esta nossa atual existência, que ainda caminhávamos pelo caminho do erro, precisamos considerar o tempo que levamos em outras oportunidades, tanto como encarnados como desencarnados, entregues as paixões degradantes, aos vícios, aos sentimentos negativos, aos instintos inferiores, fazendo com que também agíssemos de forma contrária a qualquer tentativa de aproximação de nossos amigos interessados em nos fazer buscar nossa transformação para o bem.

Como qualquer mudança de postura íntima, fator primordial para que ela venha a se concretizar é o desejo daquele que precisa mudar, ele tem que tomar a iniciativa, ele tem que se programar, se disciplinar, e planejar os passos que deseja dar, os objetivos que deseja alcançar.

Podemos aconselhar, como somos aconselhados, podemos ajudar, como somos ajudados, podemos desejar e torcer, como torcem e desejam por nós, mas a mudança real depende única e exclusivamente de nós, assim como depende dos nossos irmãos do caminho a sua mudança.

Então, louvável, que desejemos levar adiante aquilo que recebemos e entendemos ser o melhor para a nossa evolução, de acordo com os conceitos espíritas cristãos, independente da instância onde estivermos, encarnados ou desencarnados, ainda mais quando passamos pela dor e pelo sofrimento para apender, quando assim tentamos fazer com que eles também não tenham que passar.

Mais louvável ainda quando este desejo se estende não só aos nossos amigos e entes queridos, mas, também a todos os nossos irmãos do caminho, principalmente, aos nossos antigos adversários e inimigos, porém, que o façamos sempre conscientes das dificuldades íntimas de cada um, compreendendo que todos nós vivemos um momento único, com suas próprias dificuldades, seus próprios desafios, suas próprias prioridades, cabendo, então, de nossa parte todo respeito advindo da caridade, do amor que deve nortear nossos passos, a cada ação que venhamos a decidir realizar em prol de alguém.

Nem todos querem ser ajudados mesmo sabendo que precisam, nem todos têm a mínima noção que precisam de ajuda, por se considerarem certos na sua forma de agir e de pensar, e nem todos têm atualmente a capacidade perceptiva de compreender a ajuda que estamos disponibilizando.

Desta forma, tenhamos muito cuidado com nossas palavras, com nossas ações, sabendo agir e reagir sempre baseados unicamente nos conceitos do Mestre Jesus, dentro da amplitude de possibilidades de tarefas que a Doutrina Espírita veio nos trazer, principalmente, no que tange a reencarnação e aos laços que nos unem aos nossos irmãos do caminho neste planeta de provas e expiações.

Todo cuidado é pouco quando se trata de interferirmos na vida de uma pessoa, seja ela ligada ou não a nós, porém, não devemos desistir, não devemos nos negar, não devemos nos recolher, porque será sempre pelo homem que Deus socorrerá e instruirá ao homem, sejamos, assim, sempre instrumentos do bem.  

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