Falaremos hoje sobre um tema antigo, milenar, mas muito atual, quando vemos diariamente inúmeros casos na mídia que demonstram o quanto ainda estamos, como individualidade e sociedade, distante de vence-lo e supera-lo: O Preconceito!
Abordaremos o tema sem a
pretensão de abrangermos todos os seus aspectos, devido a sua abrangência e
complexidade, mas o faremos direcionando-o para o nosso objetivo principal, o estudo
da Doutrina Espírita.
Consultando o dicionário, temos o significado literal da palavra:
-
Qualquer opinião ou sentimento concebido sem exame crítico;
-
Ideia, opinião ou sentimento desfavorável formado sem conhecimento abalizado,
sem ponderação ou razão;
-
Sentimento hostil, assumido em consequência da generalização apressada de uma
experiência pessoal, ou imposta pelo meio onde vivemos;
-
Intolerância.
Desta
forma, qualquer pensamento, palavra, opinião, atitude em relação aos nossos
irmãos do caminho que venha a julga-los de forma indevida e negativa devido a
sua cor, a sua preferência sexual, a sua religião, a sua classe social, a
região ou país onde nasceu, aos seus vícios, a sua aparência física, entre
tantas outras formas de segregação, é PRECONCEITO.
No
estudo da Doutrina Espírita, vemos várias passagens em todas as obras da
Codificação, como as que tratam da sucessão e aperfeiçoamento das raças, da
marcha do progresso, da necessidade da vida social, do avanço da legislação
humana, das leis da igualdade e da liberdade, esta que trata diretamente da
escravidão, lembrando que na época que as obras foram escritas a
escravidão ainda se espalhava pelo mundo, vemos que em nenhum momento, essas passagens tratam à evolução humana, física ou espiritual, se referindo a fatores ligados a cor, a
religião, a classe social, mas única e exclusivamente ao progresso moral, a
fatores ligados a honestidade, a caridade, a bondade, ao respeito, a igualdade
social, onde o mais rico tem o dever de auxiliar ao mais pobre e não esmaga-lo,
ou o que tiver melhor cultura, maior conhecimento, maiores condições físicas ou
materiais, o dever de compartilhar o que possuí, e não tirar partido vindo
a explorar ao próximo de alguma forma.
Temos
como exemplo, as questões 96 e 97 do “O Livro dos Espíritos”, que tratam da
classificação dos espíritos por ordens, de acordo com suas características morais
e de personalidade, reunindo-os em três grandes ordens, que depois são subdivididas,
que são: Espíritos imperfeitos, Espíritos bons, e Espíritos puros.
Em
todas essas divisões e suas respectivas subdivisões, em nenhum momento, o que difere uma classe da
outra são os fatores que já relacionamos acima que caracterizam a atitude e o
pensamento preconceituoso, e sim, os fatores morais, aqueles que diferenciam o
estágio evolutivo da individualidade em relação a sentimentos como o egoísmo, a
vaidade, o orgulho, a cobiça, a usura, a maldade, a prepotência, a
intolerância, e os sentimentos do bem, como a empatia, a tolerância, a
caridade, a humildade, e, principalmente, o amor.
O
principal conceito trazido pelo Espiritismo que vai contra o preconceito de
qualquer espécie, até mesmo mostrando sua total falta de lógica, é o conceito
da Reencarnação.
Como
pensarmos em nos colocar em qualquer situação de falsa superioridade em relação
aos nossos irmãos do caminho, indo contra a humildade preconizada pelo Cristo, que deixa claro que os últimos serão sempre os primeiros, se poderemos vir em
uma próxima existência em uma posição idêntica aqueles que no presente
perseguimos, desprezamos e violentamos?
Como poderemos afirmar em qual posição retornaremos em uma próxima vida? Pela lei da
causa e efeito, a probabilidade é grande que voltemos na mesma posição daqueles
que foram frutos do nosso preconceito, com a mesma raça, a mesma condição
social, a mesma preferência sexual, os mesmos vícios, nascidos nas mesmas
regiões ou países, entre tantas outras situações.
Algo
é certo, podemos considerar, neste sentido, a Lei da Reencarnação, como uma lei
que nos traz a empatia de forma
compulsória, como uma obrigação, ainda que vemos muitos irmãos do caminho
atualmente deixando claro que seus sentimentos preconceituosos ainda estão
arraigados em seu íntimo, mesmo fazendo parte do grupo que sofre com tais
ataques, como negros ou homossexuais que afirmam ser exagero ou mentira que
atualmente ainda haja discriminação, preferindo dar razão a seus opressores.
Precisamos nos analisar e ponderar o quanto ainda trazemos em nós pensamentos e sentimentos
preconceituosos, ainda que não admitamos ou externamos. O quanto ainda julgamos ao avistar uma pessoa como possível agressora apenas pela sua cor, o quanto mudamos o nosso grau de tratamento, de
respeito, de deferência de acordo com a profissão, o status social do nosso
interlocutor, de que forma nos postamos frente a um médico e a um gari, a alguém que se
veste com humildade e a alguém que está de terno e gravata.
Hoje
em dia temos uma legislação que visa proteger aqueles que são agredidos por sua
preferência sexual, por sua religião, por sua cor, mas como sociedade ainda
distantes estamos de aceitar as mudanças que se fazem necessárias para tirarmos
de nós essa postura preconceituosa que muitos consideram ser “normal” e que as
temos sem nem mesmo perceber.
Não
deve mais haver espaço para brincadeiras e piadas sobre a cor, o gênero, as
características físicas, a religiosidade, sobre
o nível cultural das pessoas mais simples, porque pode ser muito engraçado para
a grande maioria, mas será que também assim é para aqueles que estão sendo alvo
da piada?
Ouvimos
muitos afirmarem que antigamente se fazia piada sobre tudo e que todos viviam
de forma "normal", mas como afirmar que todas as crianças que se sentiram
excluídas, marginalizadas, pelo que sofreram com as "brincadeiras", não cresceram afetadas
psicologicamente e traumaticamente?
O
Preconceito existirá enquanto considerarmos “normal” a discriminação sobre
qualquer desculpa ou motivo, as mudanças se fazem necessárias, desta forma, a nossa postura no passado, ainda que inocente, era errada, era uma falta de respeito por aqueles que eram alvo
de nossas indevidas manifestações.
Se
somos cristãos, se desejamos ser pessoas de bem, precisamos caminhar para
frente, nos solidarizando com aqueles que ainda são vítimas de atitudes preconceituosas
e lutando para que estas sejam definitivamente extintas de nossa sociedade,
lembrando que lutar, para o espírita, significa agir com bondade, com caridade,
com tolerância, com respeito, para com aqueles que pensem de forma divergente
da sua, mas sem nunca compactuar e se acumpliciar com o mal, não reagindo na
mesma proporção na agressividade, mas não se omitindo frente a necessidade de
termos uma sociedade mais justa e cristã.
A
parábola do bom Samaritano é a mais explícita forma de como devemos tratar os
nossos irmãos do caminho, nunca deixando de algo fazer no bem devido a
julgamentos íntimos, nos relacionando sem preconceitos, sem
fatores condicionantes, compreendendo que todos vivemos estágios evolutivos
diferenciados, mas que nos cabe sempre respeitar e dar aquilo que de positivo
tivermos a nosso alcance.
O
principal é cada um fazer a sua parte, seguindo o Nosso Mestre Jesus, que nos
recomendou amar ao próximo como a si mesmo, com toda a pureza que esse amor
possa representar.
Que assim seja!
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