Em um determinado momento FUTURO de nossa existência secular,
quando concretizarmos as possibilidades de algo fazer em benefício do próximo,
favorecendo desta forma o nosso próprio crescimento espiritual, e
merecidamente, possibilitando com isso, o arrimo, o auxílio e a orientação por
parte de nossos benfeitores espirituais, passaremos a nos sentir mais fortes e
capacitados, para que venha a ser, com mais assiduidade, maior o nosso desejo
de doar, do que a nossa carência do receber, quando conseguiremos, finalmente,
superar nossas deficiências, nossos defeitos, nossos erros, controlando e vencendo
nossas paixões inferiores, fazendo com que, resolutos e determinados, galguemos
alguns degraus em nossa jornada evolutiva.
Nesta fase, quando mesmo ainda faltando, uma distância imensurável
a conquistar e a aquisição em termos de conhecimento e de sentimentos do mais
alto grau de benevolência e moralidade, não mais corremos o risco de voltarmos
a nos chafurdar nos vícios e nos instintos degradantes que por séculos nos fizeram
ficar, quase que totalmente, dependentes da proteção e dos conselhos, da
intercessão e da orientação irrestrita, por parte de nossos mentores espirituais.
Passamos, entretanto, neste período, quando já conseguimos
vencer e sair da escuridão em que, por vontade própria, por várias existências
físicas e espirituais escolhemos permanecer, a correr um novo risco, uma nova
sombra volta a rondar a nossa capacidade plena de ascensão a novos desafios
cármicos, e ela vem, exatamente, da luz que nos vislumbra, das claridades
espirituais as quais nos defrontamos, das possibilidades de realizações e
crescimento no estudo e no trabalho, das companhias renovadas de companheiros
de jornada também propensos ao bem, de uma felicidade tal, que podemos passar,
mesmo que imperceptivelmente, a nos tornarmos insensíveis para com a dor e o
sofrimento dos nossos irmãos do caminho, com o próximo, tal o desprezo e a
repugnância pelas energias negativas e os miasmas espirituais que acompanham e
fazem parte determinante da personalidade daqueles que ainda se entregam aos
mais degradantes desvarios, vícios, ainda presos que eles estão à indisciplina,
aos sentimentos inferiores.
Corremos o risco de viver então, esquecidos do nosso passado
recente, onde, talvez, e muito provavelmente, nossa situação fosse muito pior
e, assim, muito mais preocupante e de difícil acompanhamento por parte de
nossos amigos e benfeitores espirituais, passando a desconsiderar nosso empenho
maior junto aos nossos irmãos mais desfavorecidos de possibilidades de
crescimento, e isto, mesmo que eles estejam, por suas inconsequências, nada
mais que enfrentando as reações dolorosas naturais a que fizeram jus, o que,
pela lógica irrefutável cristã, não nos cabe o direito julgar, e sim, auxiliar
com o máximo de nossas possibilidades e seguir adiante.
Desta forma, mesmo já tendo dominado nossas tendências
inferiores, mesmo estando mais distantes de corrermos o risco de vir a sucumbir
e recalcitrar em nossos erros pretéritos, teremos como dever nos manter em
constante vigilância, atentos aos nossos pensamentos, as nossas palavras, a
nossa postura, aos nossos atos, aos nossos sentimentos mais íntimos, para que
não venhamos a cair em outro erro, o da indiferença, gerado pelo egoísmo de nos
preocuparmos e focarmos apenas em nosso bem estar, em nossa evolução, vindo,
indevidamente, e mesmo que inocentemente, nos julgarmos superiores aos nossos irmãos
do caminho, somente pelo fato de já termos conquistado um certo controle e uma
certa compreensão de nossas necessidades individuais de transformação. Desta
forma, precisamos nos precaver para não nos tornarmos indevidos censores ou
juízes para com os erros e crimes do próximo, não nos permitindo esquecer que
já fomos tão ou mais ignorantes das leis e dos conceitos da moral cristã, do
que eles são agora.
Sem dúvida, a melhor forma que todos nós possuímos para nos
precaver para não cair neste tipo de armadilha, onde nos deixamos levar pelo
deslumbramento apenas pelo fato que algo termos conquistado em termos de
evolução espiritual e transformação individual, é aquela que nos serve de
proteção e guia para enfrentar e superar qualquer dificuldade, que nos orienta em
qualquer escolha ou decisão que tenhamos que tomar, que é a de seguir o exemplo
de Nosso Amado Mestre Jesus, sendo Ele o espírito mais perfeito que já esteve
entre a humanidade terrestre desde os primórdios dos tempos, Aquele que tudo
fez, tudo sacrificou, tudo suportou, para que viéssemos a compreender qual o
real sentido da nossa existência, qual a Verdade, o Caminho e a Vida que levará
a todos superar e suplantar todas as dificuldades que ainda os prendem a
inferioridade terrestre, Aquele que tudo fez, por Amor, por Vontade própria,
sem medir esforços, indo até o sacrifício extremo de se deixar injustamente
imolar, para que compreendêssemos que somente a renúncia do individual nos
levará a conquistar a verdadeira felicidade, nos mostrando que apenas a vitória
do todo, da realização produtiva do coletivo, trará a verdadeira vitória espiritual
de cada um.
Impossível sermos plenamente felizes se qualquer irmão do caminho,
seja ele próximo a nós ou não, estiver sofrendo, estiver precisando de arrimo,
de auxilio, seja ele material ou espiritual, do corpo ou da alma. Enquanto
existir entre nós o ódio, o ciúme, a inveja, o egoísmo, o orgulho, a
prepotência, o preconceito, a humanidade não conseguirá fazer o bem suplantar o
mal, o superior não conseguirá sobrepujar, numericamente, o inferior, não terá
atingido o estágio evolutivo ao qual nosso planeta está predestinado a atingir,
o que nos traz a certeza, que ninguém, mesmo que já tenha conseguido vencer
suas tendências inferiores, conseguirá alçar um pleno voo para as mais altas
paragens celestiais enquanto se sentir intimamente ligada àqueles que de alguma
forma estiveram caminhando ao seu lado.
Quem, de fato, se superou e evoluiu não consegue, por natural
consequência, ser egoísta ao ponto de desejar a felicidade só para si, não
conseguirá se sentir plenamente realizado enquanto a sua retaguarda ainda
existir e ouvir o choro e o ranger de dentes daqueles que não conseguiram se
livrar da inferioridade que alimentaram e fizerem crescer dentro de si.
Ninguém consegue dormir totalmente despreocupado e em paz se
alguém, no leito ao lado, estiver gemendo e se lamentando de dor, ninguém
consegue viver totalmente em paz, no meio de uma guerra, ninguém consegue
desfrutar totalmente de seu conhecimento, no meio da ignorância, ninguém viverá
totalmente equilibrado se aquele que está ao seu lado está demente e entregue a
loucura.
O progresso, o crescimento, a evolução só são reais quando
acompanhados e alicerçados, nos sentimentos básicos que formam e estão
presentes em todos os conceitos cristãos, em todos os preceitos espíritas, baseados
na lei de causa e efeito, na pluralidade das existências, dos mundos, sentimentos
como a humildade, o respeito, a bondade, a caridade, a tolerância, a paciência,
o perdão e principalmente o Amor, como nos exemplificou e aconselhou Jesus, ao próximo
como a nós mesmos e a Deus sobre todas as coisas.
Nosso aprendizado deve ser constante, nosso estudo, nosso
trabalho, nossa disposição de crescer, de melhorar, de progredir, tudo fazendo
e tudo conquistando, não só para o bem individual, para o bem de si próprio,
mas, principalmente, para o bem coletivo, expandindo nosso conhecimento, nossa
experiência, nossa capacidade produtiva, nossa possibilidade de realização,
pois, aquele que, seja o que for que conquiste, o faça somente para si,
pensando meramente em sua satisfação pessoal, mesmo que não faça mal a ninguém,
restringe o bem, impede, em seu egoísmo, que os outros também possam vir a
crescer, não dividindo, insensatamente acumulando, vindo com isso, apesar de
todas as suas possibilidades de avançar, ter extrema dificuldade de se manter
equilibrado e encontrar o que todos almejam, a verdadeira paz de espírito.
Tudo que conquistamos na Terra, mesmo que com nosso esforço
próprio, pertence a quem de fato criou, ou seja, a Deus, somos meros usufrutuários,
recebemos da bondade divina os empréstimos necessários para que conquistemos a
vitória espiritual tão almejada, e como tal, ao ser pago, ao ser devolvido,
será levado em conta o que fizemos deles, como os gerimos e o quanto deles poderemos
devolver, em condições de que continuem a serem utilizados pelo todo, para que
só assim, tenhamos plenamente a consciência do nosso saldo perante o universo
cósmico, vindo a saber o quanto de positivo ou negativo acumulamos para a continuidade
de nossa jornada evolutiva.
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