quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Com a palavra Kardec...






Dissertação encontrada no Livro dos Espíritos elaborada por Kardec, logo após a respostas referentes as questões 147 e 148 que tratam sobre o materialismo.





"Por uma aberração da inteligência, há pessoas que só veem nos seres orgânicos a ação da matéria e a esta atribuem todos os nossos atos. No corpo humano apenas veem a máquina elétrica; somente pelo funcionamento dos órgãos estudaram o mecanismo da vida, cuja repetida extinção observaram, por efeito da ruptura de um fio, e nada mais enxergaram além desse fio.

Procuraram saber se alguma coisa restava e, como nada acharam senão matéria, que se tornara inerte, como não viram a alma sair, como não a puderam apanhar, concluíram que tudo se continha nas propriedades da matéria e que, portanto, vinha o fim do pensamento com a morte. Seria uma triste consequência, porque então o bem e o mal nada significariam, o homem teria razão para só pensar em si e para colocar acima de tudo a satisfação de seus desejos materiais; os laços sociais estariam quebrados e as mais santas afeições se romperiam para sempre. 

Felizmente, essas ideias estão longe estão de ser comuns, que se podem mesmo ter por muito reduzidas, sendo apenas opiniões individuais, pois que em parte alguma ainda formaram doutrina. Uma associação fundada nisso traria em si o gérmen de sua dissolução e seus membros se devorariam uns aos outros como animais ferozes.

Por instinto natural, o homem tem a convicção de que nem tudo acaba com a vida e o nada lhe provoca horror. É em vão que teimam contra a ideia da vida futura. Ao soar o momento supremo, poucos são os que não se importam do que vai ser deles, porque a ideia de deixar a vida para sempre é algo doloroso. Quem realmente poderia encarar com indiferença uma separação absoluta, eterna, de tudo o que foi objeto de seu amor?

Quem poderia ver, sem terror, abrir-se diante si o imensurável abismo do nada, onde se sepultassem para sempre todas as suas capacidades, todas as suas esperanças, e dizer a si mesmo: “Ora, pois! Depois de mim, nada, nada mais, senão o vácuo, tudo definitivamente acabado; mais alguns dias e a minha lembrança se terá apagado da memória dos que me sobreviverem; nenhum vestígio, dentro em pouco, restará da minha passagem pela Terra; até mesmo o bem que fiz será esquecido pelos ingratos a quem beneficiei. E nada, para compensar tudo isto, nenhuma outra perspectiva, além da do meu corpo comido pelos vermes!”.

Este quadro não é mesmo horrível e frio? A religião ensina que não pode ser assim e a razão confirma. Mas, uma existência futura, vaga e indefinida não apresenta o que satisfaça ao nosso desejo do positivo. Essa, em muitos, a origem da dúvida. Possuímos alma, está bem; mas, que é a nossa alma? Tem forma, uma aparência qualquer? É um ser limitado, ou indefinido? Dizem alguns que é um sopro de Deus, outros uma centelha, outros uma parcela do grande Todo, o princípio da vida e da inteligência. Que é, porém, o que de tudo isto ficamos sabendo? Que nos importa ter uma alma, se, acabando nossa vida, ela desaparece na imensidade, como as gotas d’água no Oceano? Portanto, a perda da nossa individualidade não equivale ao nada? Dizem também que a alma é imaterial. Ora, uma coisa imaterial carece de proporções determinadas. Desde então, nada é, para nós. 

A religião ainda nos ensina que seremos felizes ou desgraçados, conforme ao bem ou ao mal que houvermos feito. Que vem a ser, porém, essa felicidade que nos aguarda no seio de Deus? Será uma vida de beato, uma contemplação eterna, sem outra ocupação mais do que entoar louvores ao Criador? As chamas do inferno serão uma realidade ou um símbolo? A própria Igreja lhes dá esta última significação; mas, então, que são aqueles sofrimentos? Onde é esse lugar de aflição? Numa palavra, que é o que se faz, que é o que se vê, nesse outro mundo que a todos nos espera?

Dizem que ninguém jamais voltou de lá para nos dar informações É erro pensar assim e a missão do Espiritismo é precisamente nos esclarecer acerca desse futuro, em fazer com que, até certo ponto, o toquemos com o dedo e o penetremos com o olhar, não mais pelo raciocínio somente, mas pelos fatos. Graças às comunicações espíritas, não se trata mais de uma simples presunção, de uma possibilidade sobre a qual cada um cria à vontade, que os poetas embelezem com suas ficções, ou pintem de enganadoras imagens alegóricas. 

É a realidade que nos aparece, pois que são os próprios seres de além-túmulo que nos vêm descrever a situação em que se acham, relatar o que fazem, nos deixando assistir, por assim dizer, a todas as peripécias da nova vida que lá vivem e mostrando-nos, por esse meio, a sorte inevitável que nos está reservada, de acordo com os nossos méritos e deméritos. 

Haverá nisso alguma coisa de antirreligioso?

Muito ao contrário, pois os incrédulos encontram aí a fé e os mornos a renovação do fervor e da confiança. O Espiritismo é, pois, o mais potente auxiliar da religião. Se ele aí está, é porque Deus o permite e o permite para que as nossas vacilantes esperanças se revigorem e para que sejamos reconduzidos à senda do bem pela perspectiva do futuro."

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