sexta-feira, 6 de março de 2015

De vez em quando elas voltam para matar a saudade...




“Duas mulheres...como se não bastasse uma!”
 Ano 2004


Cena 01
   


A
cendem-se as luzes, no palco uma mesa com uma garrafa térmica, jarra com suco e biscoitos. Evelyn sentada lê um livro, demonstra ansiedade. Entra em cena, cautelosa e sondando o ambiente, Evelise, as duas se olham rapidamente e desviam o olhar, Evelise olha à sua volta, indecisa.

Evelise: Bom dia!
Evelyn: Bom dia...
Evelise: Você também veio para a entrevista?

Evelyn fecha o livro demonstrando o desagrado por estar sendo incomodada.
                                                                
Evelyn: Que entrevista?
Evelise: Para o cargo de gerente...
Evelyn: Ah...sim...fui selecionada...
Evelise: Eu também...
Evelyn: Você também? Tem certeza? (irônica, olhando-a de cima a baixo)
Evelise: Fiquei tão nervosa, marcaram para as nove horas, moro longe, quase cheguei atrasada, que estresse...
Evelyn: Moro bem pertinho daqui, não terão nem a despesa com transporte...
Evelise: Para ter uma boa profissional como eu, isso não seria despesa e sim investimento...

Senta-se, as duas se olham em desafio.

Evelyn: Realmente o que eles procuram é uma boa profissional, só pelas exigências já nota-se...
Evelise: O que é normal para uma multinacional norte-americana e a vaga de gerente sendo exclusiva para mulheres, já demonstra como é moderna, o que encaixa perfeitamente em meu perfil...
Evelyn: Encaixamos, “meu bem”, por isso também fui selecionada...

Evelyn olha uma mesinha que está próxima a elas.

Evelyn: Acho que vou tomar um café, estes biscoitos devem estar deliciosos...
Evelise: Eu prefiro esperar, até me oferecerem...
Evelyn: Iniciativa, uma das fundamentais qualidades de um gerente...
Evelise: Saber esperar o momento certo de agir também é qualidade de um gerente...(pega o livro que Evelyn deixara sobre a mesa)...o que você está lendo? ”Como entrevistar um candidato”, isso é truque sujo, você vai manipular as respostas...
Evelyn: “Ohhh, que horror!” Quer dizer que não vou mais para o céu, mas, vou para a gerência, e seu currículo? Só diz a verdade?
Evelise: Claro que sim!
Evelyn: Bem, como é uma das exigências você fala espanhol e inglês fluentemente...
Evelise: Fluentemente...
Evelyn: “O sol está lindo, só que mais tarde pode chover”...
Evelise: Não entendi...
Evelyn: Como se fala essa frase em espanhol e em inglês?
Evelise: Bem, eu sei o básico...
Evelyn: E desde quando “fluente” é sinônimo de “básico”?
Evelise: Em compensação a poliglota deve ser uma “perfeita” usuária na informática, não é mesmo?
Evelyn: Eu? É cla..claro...
Evelise: Então você sabe usar o Word, o Excell, ou quem sabe no máximo tem facebook e twitter....
Evelyn: Estes biscoitos estão uma delicia...
Evelise: “Coitada”, não tomou nem café em casa? Acha que vão ficar com pena da sua pobreza?
Evelyn: E como você acha que eles vão saber que fui eu que acabei com os biscoitos? Somos duas aqui dentro...(abre a bolsa e começa a colocar os biscoitos dentro)...pelo  menos eu não saio de casa com esse negócio “esverdeado” que você tem ai no nariz...
Evelise: Verde?..(pega um espelho na bolsa)...ai meu Deus, por que você não disse antes?

Evelyn continua colocando biscoitos em sua bolsa, põe um inteiro na boca, Evelise sem saber o que fazer enfia o dedo no nariz, olha para os lados procurando um lugar para limpar o dedo, quando ouvem a voz, com sotaque americano, do Entrevistador.

Entrevistador: Bom dia, senhoritas...

Elas se assustam e olham em volta procurando descobrir de onde veio a voz; paralisadas na mesma postura.

Entrevistador: Vocês foram selecionadas para preencher a vaga que temos disponível em nossa gerência, somos uma empresa norte-americana que está iniciando suas atividades no Brasil e, seguindo nosso sistema inovador de avaliação, vamos a segunda fase de nosso processo de entrevista...
Evelyn: Segunda fase? Qual foi a primeira?
Entrevistador: Bem, para conhecermos vocês em um momento de descontração, estão sendo filmadas e analisadas desde o momento que chegaram...

As duas entram em pânico, Evelise, com o dedo sujo, olha desesperada em volta, como não encontra nada, passa as mãos pelos cabelos como se os tivesse ajeitando, enquanto Evelyn, coloca rápido os biscoitos de volta na bandeja, deixando cair alguns no chão, que ela chuta para longe, disfarçando.

Entrevistador: Agora gostaríamos que cada uma falasse um pouco de si, primeiramente Evelise...
Evelyn: Desculpe, é Evelyn e não Evelise...
Evelise: Como Evelyn? É Evelise mesmo...
Evelyn: Era só o que faltava, você quer saber melhor que eu? É Evelyn...
Entrevistador: Senhoritas, por favor, primeiro a senhorita Evelise, depois será a vez da senhorita Evelyn...

Uma olha para a outra, exclamam juntas.

Evelyn/Evelise: Ahhh...
Evelise: Bem, meu nome é E v e l i s e, gostaria de dizer que achei superinteressante esse processo seletivo, gosto sempre de iniciativas novas, combina muito comigo, tenho vinte e nove anos, sou solteira, moro sozinha e minhas experiências profissionais descritas no meu currículo podem ser facilmente comprovadas, tenho o que chamam de “liderança natural”, sou bastante equilibrada em minhas decisões e sempre fui elogiada por todas as equipes de trabalho que comandei...
Entrevistador: Fale-nos um pouco de sua vida pessoal, o que gosta de fazer...
Evelise: Eu adoro ouvir boa música, clássica de preferência...
Evelyn: Então você deve adorar “As Quatro Estações” de Bethoven?

Evelise fica indecisa.

Evelise: É claro, adoro Bethoven...
Evelyn: Só que “As Quatro Estações” são de Vivaldi...
Evelise: Foi o que eu disse, Rinaldi...
Evelyn: Vi...V i v a l d i !
Evelise: Intrometida...
Entrevistador: Por favor, Senhorita Evelyn, pode deixar que conduziremos a entrevista, prossiga senhorita Evelise...
Evelise: Adoro ver um bom filme e não gosto de “baladas” noturnas, sou bem “caseira”...ah...e não dispenso minha academia de jeito nenhum, faço religiosamente todas as noites, temos que manter a boa forma, não é mesmo? Corpo saudável, mente sã!
Entrevistador: Muito bem, senhorita Evelyn é a sua vez...
Evelyn: Meu nome é Evelyn, sou solteira, moro com meus pais, para mim família é fundamental, também tenho vinte e nove anos, também gosto de inovações, mas entendo que devem ser implantadas com muita responsabilidade, para não descaracterizar a imagem da empresa ou o equilíbrio do quadro funcional, estou acostumada a comandar e a gerenciar como devem ter notado em meu extenso currículo, sou uma pessoa que leva uma vida saudável, me alimento com moderação, o que tira a necessidade de ficar “malhando” horas em uma academia...
Evelise: No seu caso teriam que ser anos e mesmo assim...
Evelyn: Tenho total disponibilidade de horário e não ficaria na empresa, olhando toda hora para o relógio contando os minutos para ir “malhar”...
Evelise: Eu não disse isso, eu também tenho disponibilidade de horário...
Evelyn: Desculpe, “querida”, só que escutamos muito bem, ”não dispenso minha academia de jeito nenhum”, e prosseguindo meu relato, gosto de sair, conhecer gente nova, acho que só assim mantemos a mente aberta e não trancada dentro de casa...
Evelise: Chegando altas horas em casa, tendo que acordar cedo para trabalhar, desgastada, mal-humorada, prejudicando o bom andamento do trabalho...
Evelyn: Se me deixarem terminar, adoro ler, nada como um bom livro para relaxarmos e mantermos a mente sadia...
Evelise: É mesmo, ela trouxe um livro para ler aqui...

Pega o livro, se levanta e mostra a capa para todos os lados do palco, Evelyn se levanta e tenta tirá-lo de sua mão.

Evelyn: Devolva agora mesmo esse livro...

Consegue recuperar o livro e senta-se em cima dele, as duas ajeitam os cabelos e as roupas, olham-se com raiva.

Entrevistador: Já terminou senhorita Evelyn?
Evelyn: Ah...sim..sim...
Entrevistador: Daremos uma pequena pausa antes de prosseguirmos, vocês podem ficar à vontade, ao lado encontrarão café e biscoitos, até já...
Evelise: Já foram encontrados e “devorados” há muito tempo...
Evelyn: Como alguém pode ficar à vontade sendo filmado o tempo todo?
Evelise: Quem não deve não teme...

Servem-se de café, as duas ficam em silêncio se estudando.

Evelyn: Acho que estou indo muito bem, os americanos gostam de profissionais como eu, que sabem o que querem...
Evelise: Eles têm uma visão muito superior a nossa, sabem descobrir um talento como ninguém, vamos nos dar muito bem...
Evelyn: Nós?
Evelise: Eu e eles, é claro...
Evelyn: Evelise se eu fosse você, sinceramente, desistiria...
Evelise: Ótimo, exatamente o que eu esperava de você, é o que mais admiro em uma pessoa, reconhecer quando perdeu, mas, não desanime, eu mesmo usarei de minha influência como gerente para encaixá-la em outra vaga, de secretária ou telefonista, mais de acordo com seu nível, deixe seu currículo comigo...
Evelyn: Você só pode...
Entrevistador: Senhoritas, vamos dar prosseguimento com alguns testes, peguem as pastas que estão embaixo de suas cadeiras, retirem a primeira folha e recoloquem a pasta no mesmo lugar, agora resolvam o teste, boa sorte...

As duas começam a ler, Evelyse lê em tom baixo, Evelyn em silêncio.

Evelise: “Leia atentamente todo o texto e depois responda o mais rápido possível”...”Levante-se e de três voltas na cadeira...”(ela faz rapidamente e olha para Evelyn que continua lendo)...”dê três pulos e grite o mais alto possível EUREKA”...(Ela cumpre a tarefa e sorri triunfante, Evelyn continua lendo)...”vá até a frente pulando em um pé só e retorne correndo balançando os braços como asas”...(ela faz enquanto Evelyn escreve algo no papel, retira da bolsa uma lixa, cruza as pernas e displicente começa a lixar as unhas, Evelise olha para ela sem entender, dá de ombros e continua)...”grite três vezes: O que estou fazendo aqui?”...O QUE ESTOU FAZENDO AQUI? O QUE ESTOU FAZENDO AQUI? O QUE ESTOU FAZENDO AQUI?...(suspira cansada e lê a última questão)...”se você já leu atentamente todo o texto, desconsidere as quatro questões anteriores e escreva seu nome na parte superior desta folha”...

Enquanto vai lendo, senta-se discretamente.

Entrevistador: Terminaram?
Evelyn: Isso sim é um teste, diferente de algumas empresas que fazem aquele teste ridículo de desenhar árvores ou de um ponto fazer um desenho, dando um nome, essas coisas obsoletas, que só empresas antiquadas aqui do Brasil ainda usam...
Entrevistador: Agora, senhoritas, abram a pasta e retirem as três páginas restantes...

Evelise ao ler, levanta-se e vai até atrás da cadeira de Evelyn, que se encolhe.

Evelise: “Desenhe uma árvore”, ”agora desenhe outra árvore diferente da primeira”, ”forme um desenho dos pontos iniciais e nomei-os”, que interessante e ao mesmo tempo deprimente, achar uma multinacional americana “obsoleta” e “antiquada”, isso é que é ser “estabanada”...
Entrevistador: Senhoritas, vocês tem quinze minutos...

Evelise volta para sua cadeira tranquilamente, Evelyn, bufa e começa a desenhar, apagam-se as luzes.

Cena 02

A
cendem-se as luzes, as duas sentadas, Evelyn batendo o pé impaciente, Evelise, procurando conter o riso.

Evelyn: Eu não sei o que você achou de tão engraçado...
Evelise: Ah, faça-me o favor, você “tentar” desenhar um anjo, vá lá, mais o nome...”Como se fosse eu”...fala sério!
Evelyn: Outro dia vi em um carro um colante que tem tudo a ver com você, é a sua cara...
Evelise: A minha cara?
Evelyn: Estava lá, em letras garrafais, ”A inveja é uma merda!”

Levanta-se e caminha até a frente do palco, até o “espelho”, começa a arrumar o cabelo, abre a boca e tenta limpar os dentes com o dedo.

Evelyn: Esses biscoitos são uma delicia, mas, grudam nos dentes...
Evelise: Eu gosto muito de ver filmes policiais “americanos”, principalmente quando ficam vendo os bandidos por trás do espelho...

Evelyn fica de boca aberta, assustada, tira o dedo e estica mais a cabeça para frente como se quisesse ver através do “espelho”, dá um sorriso forçado, mostrando bem os dentes e vai caminhando de costas, sempre sorrindo, até chegar à cadeira e conseguir sentar, fala entre os dentes.

Evelyn: Você podia ter me avisado antes...
Evelise: Não perderia esse “mico” por nada no mundo...
Evelyn: Sabe, Evelise, acho que deveríamos dar uma trégua, afinal temos um objetivo em comum e apesar de estarmos competindo pela mesma vaga, poderíamos agir de forma amigável, deixando que eles escolham qual de nós é a melhor, de forma honesta, sem “puxarmos o tapete” uma da outra...
Evelise: É claro, Evelyn, uma competição saudável, sem brigar, quando sairmos daqui hoje, independente de quem for a escolhida, poderemos até nos tornar grandes amigas...
Evelyn: Concordo plenamente, “amiga”! Afinal é “só” uma vaga de gerente de uma multinacional americana...
Evelise: Isso...
Evelyn: Provavelmente com um excelente salário...
Evelise: Isso...
Evelyn: Com plano de saúde...
Evelise: Isso...
Evelyn: Cursos de aperfeiçoamento, provavelmente no exterior!
Evelise: Isso...
Evelyn: Ticket-refeição, plano de carreira...
Evelise: Isso...
Evelyn: Carro da empresa...
Evelise: É, talvez...
Evelyn: Para que brigar por isso, o importante não é ganhar, é competir...
Evelise: Por que você não desiste logo e vai embora, sua “mocréia”?
Evelyn: Vá você embora, sua bruxa “mal-acabada”...
Entrevistador: Senhoritas...                                             

As duas respondem em tom agressivo.

Evelyn/Evelise: O que foi?

Rapidamente mudam de atitude e sorriem.

Evelyn: Pois não...
Evelise: Sim?
Entrevistador: Após este intervalo iremos iniciar a última fase de nosso processo seletivo...
Evelyn: A última? Oh, que pena, está tão interessante...

Evelise fala baixo e rápido.

Evelise: “Puxa-saco”...
Entrevistador: Sim, a última e decisiva fase, senhoritas, nós iremos citar alguns temas polêmicos e gostaríamos que expressassem vossas opiniões e os debatessem, o primeiro tema para vocês analisarem é o aborto, por favor, fiquem a vontade...

As duas ficam em silêncio, uma olha para a outra, indecisas, falam ao mesmo tempo.

Evelise: Em minha opinião...
Evelyn: Eu considero esse assunto...
Evelyn: O aborto...
Evelise: Esse tema é...
Evelise: Por favor, “amiga”, você primeiro...
Evelyn: Não, faço questão, pode falar “querida”...
Evelise: Primeiro as mais velhas...
Evelyn: Nós temos a mesma idade...
Evelise: Só que faço aniversário em dezembro, logo, você é a mais velha...
Evelyn: Que dia?
Evelise: Dia vinte e nove...
Evelyn: Eu também faço aniversario dia vinte e nove de dezembro! Que horas você nasceu?
Evelise: Vinte e duas e quarenta e você?
Evelyn: É incrível, eu também!
Evelise: Jura? Isso é demais!
Entrevistador: Já que as duas nasceram, no mesmo dia isso quer dizer que não foram abortadas, isso não as faz lembrar de algo?
Evelise: Que somos “almas gêmeas”?
Evelyn: Que temos o mesmo destino?
Entrevistador: Não, que estamos aqui com a tarefa de escolher uma de vocês duas para ser a nossa gerente, então se Evelyn não se incomodar, gostaria que Evelise iniciasse dando sua opinião...
Evelise/Evelyn: Ahhhh.....
Evelise: Bem, minha opinião é, bem, acho que, isto é, eu...
Evelyn: Se conseguir sair alguma coisa daí, já poderemos considerar um verdadeiro aborto!
Evelise: Em minha opinião, para ser sincera...
Evelyn: Xiii...mentirosa...
Evelise: Como mentirosa? Eu ainda nem comecei a falar...
Evelyn: Todo mundo que diz, ”para ser sincera” antes de uma frase, matematicamente quando não fala, quer dizer que está mentindo.
Evelise: Isso é só modo de falar...
Evelyn: Modo errado, o subconsciente automaticamente forma a frase, de acordo com sua personalidade...
Evelise: Então “matematicamente” meu subconsciente ativou o meu sistema de defesa e mandou-me dizer, ”vá para a puta que a pariu”...
Evelyn: Que é isso? Você não está na periferia...
Evelise: E o que tem a periferia? Você é dessas “racistas” sociais que acha que no subúrbio só tem pobre e ladrão?
Evelyn: Eu não disse isso! Os ladrões já não moram na periferia há muito tempo, nem eles aguentaram tanta “baixaria”...
Evelise: Ah é, sua “perua”, você vai ver o que é “baixaria”...

Vai para cima dela e começa a puxar seus cabelos, Evelyn se levanta e começa a bater com a bolsa em Evelise, cai algo de dentro da bolsa, as duas se afastam, Evelyn tenta pegar, Evelise pega e se afasta até a frente do palco.
                                     
Evelise: O que é isso?...(quando começa a manusear vê que é pênis um de borracha)...ai meu Deus!...(joga-o para longe, Evelyn pega e põe na bolsa)...”caramba”, tamanho GG!
Evelyn: Cale a boca!
Evelise: Está na “seca”, ”coitadinha”...
Evelyn: Isso não é meu é da minha sobrinha...
Evelise: Sua sobrinha? É presente do dia das crianças?
Evelyn: Não, ela vai ter aula de anatomia, cada aluna vai levar uma parte do corpo humano...
Evelise: “Poxa”, pelo tamanho o “boneco” vai ter uns cinco metros de altura...
Evelyn: E o que você tem com isso?
Evelise: Nada, é que fiquei preocupada...
Evelyn: Preocupada com que?
Evelise: Se fosse para seu uso pessoal você poderia ser presa por auto estupro, é crime hediondo...
Entrevistador: “Oh, My God! Vocês duas são fantásticas!
Evelyn: So...so...somos?
Entrevistador: Sim, encaixam-se perfeitamente em nosso perfil, está cada vez mais difícil escolher uma das duas, vamos continuar, por favor, senhorita Evelise, o aborto...
Evelise: Ah sim, em minha opinião o aborto deveria ser proibido, afinal é uma vida e ninguém tem o direito de tirá-la...
Evelyn: Que absurdo, que pensamento mais retrógrado...
Evelise: Retrógrado por quê? É um assassinato...
Evelyn: É só um feto, ainda não tem vida...
Evelise: Já sei por que você é a favor do aborto...
Evelyn: E por que “sabidona”?
Evelise: Porque o “namoradão” de borracha, ai na sua bolsa é totalmente estéril, você não tem a menor chance de engravidar, talvez só de entalar...
Evelyn: Eu já disse que não é meu, é da minha irmã...
Evelise: Irmã? Não era da sobrinha? Ah, deixa pra lá “amiga”...
Entrevistador: Falem agora sobre assédio sexual...
Evelise: Bem, devo iniciar porque a Evelyn não deve nem mais se lembrar...
Evelyn: Tudo bem, a galinha pode falar primeiro, sexo é com ela mesma!
Evelise: Ter uma vida sexual saudável não quer dizer que eu seja uma galinha!
Entrevistador: Senhoritas, debatam então sobre prostituição...(ouve-se sua voz abafada, em tom mais baixo)...essa vai ser ótima, agora o “bicho” vai pegar...

As duas ficam indignadas e surpresas, percebem que estão sendo manipuladas.

Evelyn: Arrumem outra palhaça para o seu circo, e quer saber, já comi biscoitos muito melhores que esses...
Evelise: Os senhores me façam um favor, rasguem o meu currículo, e a propósito, as prostitutas cumprem o seu papel na sociedade, o pior não são elas e sim seus filhos...
Entrevistador: Não entendi...
Evelise: O pior são os filhos das prostitutas!
Evelyn: O pior são os filhos da puta que pensam que por causa do dinheiro podem fazer o que bem entendem.
Evelise: Não vamos mais ficar em um aquário divertindo um bando de gringos...
Entrevistador: Desculpem senhoritas, não foi a nossa intenção, se mudarem de idéia, entrem em contato, gostamos muito de vocês...

Evelyn faz uma banana, Evelise estica o dedo do meio, saem acintosamente de cena, apagam-se as luzes.

Cena 03

A
cendem-se as luzes, Evelise entra em cena cautelosa.
                                          

Evelise: Olá, tem alguém aí? Senhor americano eu mudei de idéia, esqueça o que eu disse, quero assumir a gerência, esperei meia hora para voltar para não correr o risco de que a outra “zinha” visse, é uma revolucionária, sem profissionalismo, e então quando posso começar?

Ouve-se a voz de Evelyn no lugar do entrevistador.

Evelyn(off): Desculpe senhorita a vaga já foi preenchida...
Evelise: Eu conheço essa voz de “taquara rachada”...
Evelyn(off): Aqui quem fala é Evelyn Cardoso, a nova gerente da Manhatan House Massagens Executivas.
Evelise: Sua traidora, sem caráter, como pôde ser tão falsa?
Evelyn(off): Minha falsidade só é diferente da sua por questão de quinze minutos, praticamente um empate técnico, sou ansiosa, não conseguiria esperar meia hora.
Evelise: Que humilhação! Fique com sua gerência, com seu plano de saúde, com seu carro, fique com tudo! Vou sair daqui de cabeça erguida, não preciso de você deste emprego, que porcaria, gerente de uma casa de massagens...
Evelyn(off): “Manhatan House Massagens Executivas” com filiais no mundo inteiro...

Evelise respira fundo, ajeita a roupa e o cabelo, fala mansa e sensual.

Evelise: É, sabe Dona Evelyn eu deixei de colocar no meu currículo que fiz um curso de massagem na Tailândia, por correspondência é claro...
Evelyn(off): Oh, que ótimo, me fale um pouco mais de você...
Evelise: Meu nome é Evelise, tenho 29 anos, moro sozinha...

Apagam-se as luzes

Cai a cortina.





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