quarta-feira, 11 de março de 2015

"Família"





Reunidos em uma mesma família, cada um de nós é uma individualidade cósmica, com características próprias, e nossa forma de agir, mesmo sendo, por vezes, similar com os outros membros do grupo, devido a educação e a vida em comum, devido a transmissão de valores durante o crescimento, ratificada pela afinidade espiritual que possa existir, nos levará a interagir de acordo com nossa postura íntima, diferenciada e marcada por nossas experiências em vidas passadas, de acordo com nossas escolhas, nossos ideais, sentimentos que traçam naturalmente uma linha divisória real entre os componentes da mesma família, o que fará com que cada um siga seu caminho independente dos demais, o que não significa, necessariamente, que não se poderá manter a união, já que é exatamente no respeito as diferenças que se formam os mais firmes laços afetivos.



Diferenças de gostos, de ideologia política, religiosa, de personalidade, na forma de encarar os problemas, na manifestação dos sentimentos, inúmeras características pessoais que diferenciam entre si membros de um mesmo grupo, de qualquer grupo, e, principalmente, o familiar.



O mais importante, independente da forma com que cada um escolhe viver, é o respeito, a amizade, a fraternidade, o carinho, o desejo de ajudar, o amor, a sincera admiração que deve um sentir pelo outro, porque com estes sentimentos vivenciados e valorizados, todas as diferenças serão aceitas, mesmo que venham a ser contra os princípios de um dos demais componentes do grupo, quando todos aprendem a agir sempre em prol da harmonia em comum, formando um todo coeso, onde todos se apoiem, se valorizem, se protejam, sem desejar impor fórmulas de felicidade, formas absolutas de se viver, ainda mais se estas estiverem presas a dogmas e tradições familiares, quando passa a se pensar mais na aparências, nos costumes até então vividos, do que no real aproveitamento da potencialidade que cada um trás dentro de si, e que naturalmente difere, de alguma forma, do todo familiar.



De todas as diferenças, uma das mais difíceis de administrar e respeitar dentro de um círculo familiar se refere as diferenças de caráter religioso, sendo uma das que exige uma dose maior de respeito e de amor, onde muitos se deixam prender pelo radicalismo de ideias, desprezando aqueles que não pensam como eles, tentando impor-lhes sua forma de pensar a título de os “salvar” do mal, de sofrimentos maiores, de um futuro sombrio.
Infelizmente, ainda existem lares onde difícil se torna a aceitação por parte de seus membros, das escolhas que diferem daquelas que, o senso comum, resolveu determinar como sendo as “normais”, as “tradicionais”.



Difícil, ainda hoje em dia, que pais evangélicos venham a aceitar filhos que queiram se tornar espíritas, umbandistas, da mesma forma que pais espíritas venham a aceitar naturalmente que seus filhos venham a querer se tornar evangélicos, ou judeus, ou ateus e materialistas. Difícil até mesmo entre casais, como quando um dos membros, o marido ou a mulher, por circunstâncias inúmeras, venha a se interessar por uma corrente religiosa diferente da do outro, querendo que este também venha a mudar ou que aceite sua mudança sem objeções, ainda mais quando da aceitação desta religião, se faça necessária a mudança de hábitos, de costumes, como no exemplo de não mais querer frequentar festas, bailes, ou mudar a alimentação, e com isso, consequentemente, queira se esperar uma transformação radical na postura e na forma de viver, até então considerada normal pelo casal.



Natural, que aquilo que em nossa visão achamos ser o correto, também o desejemos para os nossos entes queridos, o que faz com que venhamos a pressionar para que eles também mudem, ou pelo menos nos deem ouvidos, ouçam o que temos a dizer, o que temos a propor, atitude que no fundo é válida, se realmente é nosso desejo sincero que venham a desfrutar a alegria e o equilíbrio que julgamos ter encontrado em nossa escolha.



O que precisamos entender é que não temos o direito de impor nossa opinião, nossa forma de pensar, porque ninguém é detentor da verdade, porque nem sempre o remédio que curou a nossa doença será aquele que irá curar a do nosso irmão do caminho, mesmo que a enfermidade seja a mesma, porque existem inúmeras particularidades que fazem com que uma pessoa reaja a determinado tratamento de forma diversa que a outra, isso se tratando de doenças do corpo, o que se dirá então de dificuldades íntimas da alma.



Temos o dever de buscar sempre o melhor para nós e para nossa família no que se refere ao nosso lar, e esse melhor deve estar condicionado ao que cada um aspira e sonha para a sua própria existência.



Ideias e sentimentos não se impõem, são frutos íntimos e decorrentes da experiência de vida, do que cada um trás dentro de si, de suas necessidades, de suas prioridades, dos sues desejos e sonhos.



Quando nossos filhos são pequenos, ainda não têm a capacidade e o discernimento de decidir e escolher por si mesmos seus destinos, temos a obrigação natural de orienta-los e educa-los, porém, quando eles crescerem, mesmo que tenhamos nossos sonhos íntimos sobre  o que consideramos ser o “melhor” para eles, em relação a relacionamentos, a profissão, a religião, a postura, serão unicamente eles mesmos que irão decidir e escolher, de acordo com suas tendências, suas intenções, seus desejos, aquilo que consideram ser o melhor, cabendo-nos sim, orienta-los e aconselha-los, mas acima de tudo, respeita-los a aceita-los, independente do que decidirem para suas vidas, assim como nós mesmos desejamos constantemente que os outros nos respeitem quanto as nossas escolhas e decisões.



O importante dentro de um lar, de uma família, sejam seus membros de uma mesma frente religiosa ou não, sejam eles espíritas, católicos, judeus, budistas, materialistas, é que, na essência, todos vivam de acordo com o sentimento cristão. Que todos alimentem o respeito, a caridade, a sinceridade, a amizade, que todos vivam, em suas diferentes escolhas e opções, no caminho do bem, da fraternidade, da igualdade de direitos e deveres, que todos busquem o entendimento, a paz, e que se unam nos mais fortes laços do Amor.



Quando uma família é forte e unida, independente de qualquer tipo de diferença, seus membros também estarão fortalecidos para encarar de frente o mundo e suas dificuldades, seus desafios, porque aqueles que vivem em um lar onde impere a humildade e o amor, tratarão a todos, seja em seu trabalho, no seu círculo de amizades, no lazer, com os mesmos nobres sentimentos que formam seu caráter, levando por onde passar, nos seus exemplos, nos seus atos, toda positividade que adquiriu na convivência pacífica e amorosa junto aos seus, sendo-lhe natural respeitar e aceitar cada um que vier a conhecer e conviver da forma que é, sem julga-lo, sem rotula-lo, sem tentar impor suas ideias, sem excluí-lo de seu convívio apenas porque não pensa e não vive de acordo com seus padrões ou seus costumes.



Nossa jornada é longa, ao olhar para trás vemos aqueles  que ainda cometem hoje os mesmos erros que cometíamos há tempos já vencidos e olhando para a frente, vemos irmãos que já conquistaram aquilo que ainda duvidamos que um dia iremos conseguir conquistar, mas com certeza, sem fórmulas e sem métodos infalíveis, o que podemos afirmar é que, se olharmos a ambos com amor, mais fácil e gratificante se fará o caminho que nos falta a percorrer, no bem, sempre no bem.    



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