terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Apenas quando passamos por uma situação...






Associação, cumplicidade, afinidade, simpatia, diversos são os fatores que nos unem, que nos aproximam de irmãos nossos do caminho, sejam eles entes queridos, amigos, meros conhecidos, ou que apenas temos contatos esporádicos, e por vezes, até mesmo, parceiros de um fúlgido momento de nossa existência.



Independente do grau, do que nos faz iniciar ou manter a relação, o certo é que, qualquer um deles, em um determinado momento, dependendo da necessidade que o gerou, pode se tornar alguém de significativa importância em nossa vida, dividindo e compartilhando as mesmas sensações, as mesmas energias, as mesmas necessidades e prioridades, atraídos que são para nós ou nós por eles, por pensamentos, atitudes, escolhas, desejos, pelo que se busca, pelo que se luta, por um ideal.



Encarnados ou desencarnados, nos associamos muitas vezes levados pelo calor do momento, sem nada planejar, sem premeditar, apenas movidos pela paixão, pelo medo, pela revolta, pela euforia, pelo desejo, pelo prazer, por vezes em tal volume e intensidade que ações são geradas até mesmo com graves  e coletivos efeitos, como guerras, levantes, protestos, linchamentos públicos, vigílias, na busca de alguém perdido, ou no salvamento de vítimas de catástrofes.



Em menores proporções, diariamente, estamos sujeitos a situações que nos levam a atitudes fora da nossa normalidade, seja em nosso lar, no nosso trabalho, com nossos amigos, no lazer, ou em esporádicas situações de nosso cotidiano, como no trânsito, na rua, em estabelecimentos comerciais, quando o ineditismo da situação faz com que precisemos sair de nossa zona de conforto e reagir, levados por sentimentos que nos fazem acelerar os batimentos cardíacos, aguçam nossa sensibilidade, provocando reações adversas, motivadas pelos sentimentos acima descritos, como o medo, a revolta, a indignação, a solidariedade, assim como também a ganância, a cobiça, a sexualidade, entre tantos outros fatores positivos e negativos que formam a personalidade comum do ser humano.



Para situações extremas ou inesperadas, ninguém poderá afirmar de forma categórica e absoluta, qual será a sua posição, a sua reação, antes de efetivamente enfrenta-la, algo que costumamos fazer de forma constante, quando chegam a nós notícias de fatos diversos, nos colocando na posição de analistas, críticos, censores, promotores, advogados e juízes, assumindo uma postura que condiz com nossa forma de pensar, de ver o mundo, mas sem, de fato, conseguirmos nos colocar na posição daquele que é alvo de nossos comentários, até mesmo porque isso é impossível de se fazer.



Assim, quando externamos a nossa posição e declaramos qual seria a nossa reação, o fazemos baseados unicamente na teoria, naquilo que até então fizemos de agentes norteadores de nossa personalidade, o que na verdade poderá vir a ocorrer de forma totalmente diversa caso venhamos a enfrentar uma situação similar, como exemplo, o fazem muitos de nós, ao comentar um assalto, afirmando, e nisso acreditando, que não reagiriam e que entregariam tudo aos irmãos infelizes que os estão assaltando, quando na verdade, no momento que isso venha a acontecer, seus sentimentos, suas emoções, o imprevisto da ação, poderá leva-los a reagir, a tentar evitar a agressão sofrida, vindo dai a ocorrer consequências diversas, negativas ou positivas, de acordo com os fatos que daí em diante ocorrerem.



Assim também ocorrerá sempre em inúmeras situações que enfrentamos em nossa existência, onde em muitas vezes alardeamos coragem e ação, quando poderemos ser paralisados pelo medo ou pela surpresa fazendo com que reajamos de forma idêntica aquele que até então criticávamos e julgávamos.



Apenas quando passamos por uma situação, saberemos, de fato, qual será a nossa reação, e até mesmo quanto a isso poderá haver variações, porque dependerá do nosso estado de espírito no exato momento que ela ocorrer, pois há momentos em nossa existência que suportamos as maiores provocações de forma equilibrada e lúcida, enquanto que em outros, uma única brincadeira infeliz pode nos tirar do sério, com reações imprevisíveis.



O conhecimento de nossas limitações, e a consciência que não teremos nunca a absoluta certeza de como reagiremos a uma situação sem antes passar por ela, quando determinados a buscar nossa renovação e transformação espiritual, nos facilitará que venhamos a desenvolver a tolerância e a paciência, aprendendo a conviver com as diferenças, com aqueles que pensam e agem em desacordo com os conceitos que norteiam a nossa existência, e, principalmente, nos auxiliará a nos colocarmos no lugar daquele que é motivo de nossa atenção, olhando-o, assim como a vida no geral,  com outros olhos, analisando cada situação de forma mais profunda e ampla, evitando a superficialidade de análise, e a irresponsabilidade nos comentários sobre pessoas e fatos que não conhecemos a fundo a origem e a verdade, qual os motivos e as razões que os motivaram a agir e reagir de tal maneira.



Não podemos afirmar categoricamente que somos a favor ou contra algo, ou que não somos preconceituosos, radicais, exagerados, porque não sabemos, na prática, qual será o sentimento que nos motivará quando passarmos pelas situações, ainda mais, quando nelas estiverem envolvidas pessoas que nos são caras, como nossos filhos, nossos pais, nossas mães, nossos cônjuges.



Como espíritas, como cristãos, temos, se sinceros em nossas convicções, as bases, as ferramentas, os conceitos, daquilo que precisamos desenvolver em nosso íntimo para que venhamos a perseverar no caminho do bem, a agir e reagir, em qualquer situação, sob qualquer pressão, de forma equilibrada, pacífica, caridosa e positiva, um conhecimento que poderemos adquirir com o estudo, com a perseverança, com o trabalho, estendendo estes sentimentos a nossa vida íntima, profissional, social, das mais comezinhas ocorrências diárias, aos mais graves embates que possam surgir.



Mas, o que na Doutrina Espírita adquirimos, assim como poderá ocorrer com aquele que busque os mesmos princípios em outras correntes espirituais ou filosóficas, serão sempre meras ferramentas, simples mais importantes guias de conduta, bússolas que nos poderão orientar o caminho ao qual desejamos percorrer, porque o que sentimos, o que, de fato, formará a nossa personalidade, aquele quem somos e quem seremos, dependerá do uso que fizermos de toda informação que recebermos e que buscarmos, isso até mesmo se já forem anos de estudo e de trabalho que formam nossa atual jornada, porque poucos são aqueles que conseguem, naquilo que se propõe a realizar, aliar a teoria a prática, alinhar o que deseja com o que realiza, e, principalmente, com o que precisa, para atingir aos seus objetivos.



Não somos unicamente o que externamos, somos basicamente, o que sentimos, e muitas vezes nos confundimos de tal maneira, que até mesmo nós mesmos temos dificuldade em nos definirmos, quando passamos a acreditar que desejamos e enxergamos a felicidade em um determinado proceder, levados por inúmeros fatores externos, sem querer admitir que aquilo que nos faz bem se encontra em outro lugar, muitas vezes até no oposto daquele que hoje vivenciamos.



Admitindo que somos falíveis, aprendemos a considerar e já esperar a falibilidade alheia, aprendemos a respeitar reações, escolhas, mesmo que não concordemos com elas, mesmo até que agridam todos os níveis conhecidos de civilidade, já que cabe a justiça, humana e divina, tratar com aqueles que buscam caminhos contrários ao respeito ao amor que devem nortear as relações humanas.



Temos direito, e até mesmo a necessidade, de termos nossas opiniões, de nos colocarmos como ser pensante e atuante em nossa sociedade, mas como espíritas e cristãos, temos o dever de nortear nossa visão, nossa postura, nossos sentimentos, através da ótica do Mestre Jesus, onde a paz, o perdão, o entendimento, a tolerância, estão sempre presentes, não só para quem amamos ou que vivem de acordo com nossos princípios, mas, essencialmente, para com quem não pensa e não age de acordo com os conceitos que norteiam a nossa existência.



Orar e vigiar, para que não venhamos a cair em tentação, para que não venhamos a falir, para que não venhamos a no momento que mais precisarmos, reagirmos contrariamente aquilo que acreditamos e entendemos ser o melhor, cientes que a disciplina e o esforço próprio, o trabalho e a atitude, serão pontos primordiais para que isso venha a se realizar, tudo sustentado e abalizado pela fé raciocinada no Poder Maior que nos comanda, e que nunca dará a nenhum de nós um fardo que seja pesado demais para nossas forças.


Que assim seja!

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