Na ausência das lembranças de nossas existências e experiências
pretéritas, de outras existências, no imediatismo do mundo, na ânsia de
conquistas efêmeras, quase sempre voltadas para as riquezas e o poder temporal,
desejando sorver de um só gole ao cálice das paixões e dos vícios, na busca
incessante da efêmera felicidade, no orgulho doentio e na vaidade corrosiva, deixamos
de compreender, de perceber, por não nos aprofundarmos no estudo dos conceitos
hoje trazidos de forma racional e lógica pela Doutrina Espírita, quantas e
quantas oportunidades já tivemos, por quantas vidas físicas já alimentamos a
mesma inferioridade no proceder, facilmente provada pelos sentimentos
inferiores que até hoje nos dominam e nos mantém afastados da necessária
renovação íntima, da transformação espiritual para o bem.
Ainda analisando nossa personalidade atual, as
nossas tendências, as nossas prioridades e desejos, nos cientificamos que
vivemos e revivemos os mesmos erros, mesmo que em situações e graus diferentes,
certamente com alguns avanços, porém, deveras imperceptíveis, tal o conforto
que ainda sentimos ao alimentar as satisfações pueris que os desafios puramente
materiais e carnais trazem em si.
Ainda nos deixamos dominar facilmente pelo egoísmo,
por desejar unicamente o nosso bem estar ou o de nossa prole, teimando em
ignorar a necessidade do próximo, o seu anseio, como se fosse possível conquistarmos
a verdadeira felicidade em meio de revoltas, de impropérios, de gemidos e
sofrimentos, de dor e de ódio, situação na qual ainda vivem inúmeros irmãos do
caminho, companheiros de jornada terrena, e que preferimos manter afastados da
nossa porta, como se não fosse a felicidade coletiva um dos fatores principais
para conquistarmos também a felicidade e o bem estar individual.
Ainda nos entregamos à mágoas injustificáveis, ao desprezo
pelo sentimento alheio, pela sua forma de agir e de pensar, nos
envolvemos em julgamentos sumários, condenando posturas e ações sem nos atentarmos
que também nós assim estaremos sujeitos a sermos julgados, tal a nossa inferioridade
ainda latente, o que nos leva fatalmente a reincidência em erros, em desvios de
conduta, deixando de valorizar o ensinamento cristão que nos diz para atirar a primeira
pedra aquele que estiver sem pecado.
E são exatamente estes exemplos e ensinamentos, que
insistimos, ainda hoje, em ignorar e menosprezar, os do Cristo, agindo muitos de
nós como os religiosos de todos os tempos, egípcios, romanos, judeus, católicos,
islâmicos, evangélicos, nos prendendo a letra, a fachada, a títulos, a rituais,
nos esquecendo de vivenciar, de fato, a sublimidade dos conceitos da justiça, da
paz e do amor, que norteiam basicamente todas as frentes religiosas de nosso
planeta, tendo sua sublimidade no cristianismo, quando o perdão, a igualdade de
direitos, a humildade, a caridade, o respeito e o amor, trouxeram-nos uma nova
forma de encarar o mundo e as pessoas, inclusive aos nossos adversários e
inimigos.
Vivemos hoje ainda as prioridades da carne, de
acordo com os dogmas criados pela sociedade em nosso dia a dia, em uma
velocidade cada vez maior, dada a modernidade dos meios de comunicação e
interação social oferecido pela internet, futilizando cada vez mais nossa existência,
ocupando nossa mente com informações e situações de pouco proveito para nosso
desenvolvimento íntimo como individualidade eterna, empobrecendo as artes, a
cultura, os relacionamentos humanos, generalizando banalidades em uma
velocidade tal que poucos conseguem manter o foco em um objetivo mais sério, em
um fator real e duradouro que norteie sua existência, que o faça ser participativo
e ativo não só para sua evolução, como para a da coletividade na qual está inserido.
Nossa responsabilidade vai muito além dos poucos
anos que estamos desfrutando no plano físico, uma das principais razões do
advento do Espiritismo foi exatamente fundamentar a Lei da Reencarnação, da
multiplicidade de existências, alicerçada pela lei da causa e efeito, da colheita
constante e inevitável de tudo aquilo que plantarmos, sejam ações positivas ou
negativas, o que nos faz, hoje, compreender a forma imperativa pela qual precisamos
nos ater às conquistas espirituais, no enriquecimento de nossa personalidade,
na transformação benéfica de nossos sentimentos, de nossa forma de pensar e
agir frente as situações diárias, vivendo no mundo físico de acordo com suas
necessidade e possibilidades de realização, mas, sem nos deixar contaminar pelo
materialismo, pelo egocentrismo, pelo egoísmo, pela ignorância das leis maiores
que comandam nossa existência, nos mantendo equilibrados e seguros no caminho
que nos leve a combater e vencer as nossas tendência inferiores, conquistando
novos valores, e consequentemente, novas e maiores possibilidades de estudo, de
trabalho e de realização.
A maior dificuldade está em nos conhecermos, em reconhecermos
nossas limitações, aquilo que está nos impedindo de avançar, que nós mesmos
estamos alimentando de forma negativa e que está refreando nossa capacidade
criativa e realizadora, deixando-nos arrastar por influências negativas, vinda
do ambiente que criamos, de forças espirituais interessadas em que não
avancemos, assim como também por influências de nosso próprio passado culposo,
tentando nos arrastar a reincidência e a prostração, alimentando o nosso receio
em deixar para trás a nossa zona de conforto, aquela que nos impele a estacionar,
a estagnar.
Estamos aqui hoje para mudar, cada nova experiência física
é oportunidade de correção, de renovação, de transformação, façamos por merecê-la,
valorizando-a, nos concentrando em nossos objetivos e ideais, e que estejam
eles sempre voltados e alicerçados no bem, de acordo com tudo aquilo que o Mestre
Jesus nos deixou como exemplo e guia, sendo Ele, na essência do seu Amor, nosso
caminho, nossa verdade e nossa vida.
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