Muitos
de nós temos, por indevido hábito, incessantemente buscar, até mesmo na mais
simples ações do dia a dia, a compaixão e a atenção dos outros, através da
supervalorização de enfermidades, de perdas sofridas, de fracassos em nossos intentos, de problemas reais e imaginários, de traições ou agressões sofridas.
Agimos,
constantemente, como se a dor maior fosse a nossa, a nossa enfermidade a mais
grave, a adversidade e o obstáculo a superar, os maiores, e os de
mais difícil transposição.
Diversos
são os motivos que levam a este proceder, porém, os excessos, invariavelmente,
estão baseados no egoísmo, no orgulho, na vaidade, e em muitos casos no medo, na
fraqueza, na inconstância, isso quando assim não agimos com plena consciência e de
forma planejada, utilizando-nos da má fé para atrair a atenção e o auxílio do próximo,
vindo a monopolizar o tempo e a energia daqueles a quem conseguimos manipular,
enredando-os em nossos problemas, em nossas necessidades, nos nossos desejos, pouco nos importando que estejamos ou não prejudicando àqueles que tanto se empenham em nos ajudar.
Os
que assim agem apenas levados por seus sentimentos íntimos, os que se deixam
dominar por suas adversidades, seus anseios, suas necessidades, seus medos, ou
seja, ainda que equivocados, são sinceros nos sofrimentos que geram para si
mesmos, e pela supervalorização das influências sobre sua existência, não param
para pensar que, de fato, sua dor nunca será menor ou maior que a de seu irmão
do caminho, que a adversidade a ser vencida e superada pouco difere das que
milhões de outros seres do planeta enfrentam diariamente, e que da mesma forma
que hoje sofre, ontem sorria, e amanhã deverá voltar a sorrir, ou novamente
sofrer, tal a infinita variedade de situações que a vida oferece, onde nunca seremos sempre a vítima, o algoz, quem perdeu ou quem ganhou.
O
egoísmo nos leva a querer e a esperar privilégios, muitas vezes não nos
conformando com uma doença, com um fracasso, com um amor não correspondido, com
uma agressão sofrida, quando nos voltamos para Deus ou a Ele renegamos, nos
considerando especiais, questionando o porquê da dor, da perda, sem ter a
percepção que ao nosso lado outros irmãos passam por dificuldades maiores, e
que mereceriam, teoricamente, a mesma proteção e o mesmo auxílio, pleno e
irrestrito, que desejamos e exigimos para nós.
Por
que outros podem perder um ente querido em um acidente ou por uma doença grave
e nós não? Por que perdemos um emprego de forma inesperada e nos consideramos
perdidos, enquanto que outros, diariamente, lutam para conseguir um que
consigam, de forma honesta, garantir o sustento de seu lar e de sua família? Por
que enquanto muitos se veem vilipendiados em seus direitos mais básicos, nós não
nos conformamos quando sofremos uma pequena contrariedade ou nos vejamos traídos?
Normal
quando a dor nos visite, que nos vejamos abalados, que adversidades dificultem
a conquista de nossos sonhos, o que não podemos fazer é nos deixar dominar pela
revolta, pelo inconformismo, pelo desânimo, pelo medo, por achar que não
mereçamos ou que estejamos sendo injustiçados, compreendendo que não somos
melhor ou pior que alguém, mas sim, que todos estamos sujeitos a vitórias e a
derrotas, a bons e maus momentos, de acordo com o atual estágio de nosso
planeta, sendo que o momento diferenciado que hoje nos encontramos em nossa jornada
evolutiva é o que caracteriza aquilo que hoje vivemos, sendo sempre decorrentes
de nossas escolhas, de nossas necessidades, muitas delas ligadas e originárias
de outras vidas, de outras encarnações.
Realmente,
o fato de um irmão caminho estar em situação pior que a nossa, não diminui a
dor que sentimos, não substitui como que por encanto ou norma ao sentimento que
nos domina, porém, se estivermos abertos para o aprendizado, para os exemplos
que temos a nossa volta, poderemos perceber as nefastas consequências que
aguardam aqueles que se entregam a reações negativas, submissas ou violentas, e em contrapartida, as conquistas auferidas aos que suportam os reveses de forma
equilibrada, lúcida, otimista, se esforçando para, corajosamente, o mais breve
possível, reverter o que lhe aflige em aprendizado para novas conquistas, se
resignando com o que não pode mudar, e transformando aquilo que depende dele a
mudança.
Como
cristãos, e mais ainda como espíritas, temos a plena convicção, pela fé
raciocinada, que o fardo que precisamos carregar, seja ele qual for, nunca será
superior as nossas forças, que se hoje enfrentamos obstáculos de vulto que não
sabemos qual é a origem, é porque temos que por isso passar, seja para resgatar
antigos débitos, ou simplesmente como aprendizado e estímulo, para que venhamos
a almejar a mais altos voos, mais fortes, mais conscientes, mais experientes,
mais capacitados para sermos tarefeiros efetivos no planeta ou no plano que formos
convidados a estagiar.
Algo
é certo, a revolta, a lamentação, a tristeza, a raiva, em nada acrescentará de
positivo para nós, mas sim, dificultará ainda mais para que venhamos encontrar o
equilíbrio necessário para superar a adversidade, sem contar que assim agindo,
por afinidade espiritual, estaremos atraindo para nós aqueles que se comprazem com
os mesmos sentimentos negativos que supervalorizamos, fazendo com que cada vez
mais, por suas influências, nos vejamos emaranhados em sentimentos e
pensamentos que nos acorrentarão a inferioridade que nos impedirá de avançar.
Escolhamos
assim o bem, a paz, a humildade de reconhecer que não somos especiais, ou
melhor, se o somos, também todos os demais irmãos do caminho também o são, sem
exceção, e se nascemos para vencer e brilhar, assim eles também nasceram, o que
nos leva a considerar a necessidade de lutarmos por nossa transformação, e tudo
também fazermos ao nosso alcance para que todos aqueles que estiverem ao nosso
lado também o façam.
"Amar
a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo", realmente a receita
da felicidade é muito simples, nós é que somos os complicados.
Então, esta na mudança, mudemos!
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