Espíritos recém-desencarnados, bons ou ainda presos à inferioridade
de paixões ou sentimentos, que já possuem certo conhecimento, uma capacidade já
ativa de discernir sobre novas situações, de entender mudanças e oportunidades
que o plano espiritual oferece, conseguem perceber e se adaptar com mais facilidade,
as diferenças existentes ente a vida no plano físico e a do plano espiritual,
em se tratando de posturas tidas como normais para qualquer ser humano, como no
trato com a alimentação, dos hábitos da higiene pessoal, das necessidades
fisiológicas, do vestuário, da saúde orgânica, da locomoção, quando tudo passa
a derivar, basicamente, da força de vontade, da determinação, do controle que
cada um tem sobre sua mente, que faz com que consigam mais prontamente
conquistar aquilo que desejam e viver da forma como escolherem, dentro é claro,
daquilo que lhe está reservado quando do retorno a espiritualidade, pelo que
fez quando encarnado, podendo ocorrer, apesar de seu livre arbítrio, situações
onde será manietado e obrigado a suportar sofrimentos, desgostos, dores,
agressões, perseguições, vexames, de acordo com o que plantou, com o que gerou,
quando de sua passagem pelo plano físico, na colheita que todos temos que
fazer, conforme está prescrito na lei da ação e reação que comanda nosso
histórico cármico.
Há espíritos que já conseguem sobreviver, por sua pureza, sem
a necessidade de alimentos, retirando sua força e seu sustento da própria
atmosfera, enquanto outros, por mais que tentem se alimentar, retirar energias
de encarnados ou dos ambientes onde vivem, sofrem com a fome e a insatisfação
de forma contundente e dolorida. Há alguns que conseguem forjar sua própria
vestimenta de acordo com seus desejos, enquanto que outros sofrem, por se verem
despidos ou com roupas em frangalhos. Há alguns que conseguem se locomover por
distâncias imensuráveis apenas com a força do pensamento, enquanto outros se arrastam
não conseguindo nem mesmo caminhar como faziam quando encarnados. Há uns que
dispensam quaisquer tipos de atitudes voltadas a higiene, mantendo sempre seus
corpos espirituais límpidos e brilhantes apenas com a força de suas vontades,
enquanto que outros são verdadeiros dejetos humanos, por mais que se esforcem
para manterem-se limpos. Alguns não mais sentem nenhum tipo de dificuldade orgânica
ou física, enquanto outros, ainda sofrem doentes como na Terra ou suportando os
defeitos físicos ou mentais que possuíam quando encarnados.
Dentro destes opostos, inúmeras são as situações intermediárias
que nós, espíritos ainda em transformação espiritual para o bem, enfrentamos
quando do nosso retorno e readaptação na espiritualidade, uns se acostumando
mais rápido com os novos hábitos, outros, até mesmo por preferência, vivendo de
acordo como viviam na Terra; uns tentando mudar aos poucos, outros não
procurando estas mudanças, mais preocupados que estão de aprender os conceitos
do bem, em resgatar seus débitos, em ressarcir seus erros, em auxiliar suas vítimas,
todos, sempre donos de seus destinos, vivendo de acordo com sua razão, com que
sua consciência determina, mesmo que ainda disso não tenha plena percepção,
julgando até mesmo estar sendo castigado ou obrigado a enfrentar as
dificuldades por sua conduta errônea, quando na verdade, não está recebendo
nada mais do que aquilo que gerou para si mesmo, com seus atos e suas escolhas
inconsequentes, quando ainda encarnado.
Ainda quanto a esta adaptação aos novos patamares que deverá
enfrentar e conhecer quando do retorno a pátria espiritual, o Espiritismo se
faz presente como agente facilitador, oferecendo através de sua extensa e rica
literatura, assim como também nas possibilidades de intercâmbio que todos têm
com o plano espiritual através das reuniões mediúnicas, exemplos de como é a
vida no plano espiritual, o que nos aguarda, o que poderemos fazer e realizar, parâmetros
para desde já modelarmos nossa postura, nossa forma de viver, aprendendo a
buscar, antes mesmo de desencarnarmos, o devido preparo para as mudanças, assimilando, como é a existência no mundo
espiritual, principalmente, quanto ao fato de que, tudo irá depender da forma
como nos portarmos, como fizermos por merecer, de acordo com nossos desejos e
ações, com nossas escolhas e nossas realizações, cientes que será a nossa
vontade, a nossa determinação em aprender, em conhecer, em mudar, em
transformar, em ouvir os conselhos de nossos benfeitores, de nossos amigos, de
seguir os seus exemplos, que farão com que mais prontamente nos sintamos a vontade
com as novas obrigações, com os novos deveres, com os novos direitos, com as
novas possibilidades de atuação, aprendendo mais rápido a agir e a reagir nas
mudança naturais do meio, aprendendo a viver de forma espontânea, aprendendo a
nos vestir, a nos alimentar, a nos locomover, da melhor maneira possível, sempre
lembrando que quanto mais envolvidos estivermos com o bem, quanto mais nos
afastarmos do mal, maior serão as nossas possibilidades de atuação e mais fácil
será o nosso aprendizado e a nossa adaptação, nos deixando mais prontamente
habilitados para novos desafios, novas tarefas, sempre voltados ao nosso melhoramento
individual e da coletividade onde formos chamados a viver.
- 0 -
Quantas vezes, quando os problemas ou as enfermidades nos
assaltam, os fracassos e as decepções nos atingem, as perdas, as aparentes
injustiças, nós blasfemamos e questionamos à bondade e a justiça Divina, duvidando
de Sua Excelsa Existência ou Sua preocupação para com nossa vida?
Culpamos a Deus, culpamos aos nossos pais, aos nossos filhos,
aos nossos amigos, aos nossos inimigos, a sociedade, o ambiente onde vivemos, a
nossa condição profissional e financeira, ao destino, a sorte, ao azar, nos
engolfando em pensamentos sombrios, destrutivos, negativos, em atitudes
desequilibradas, tentando desesperadamente justificar nossos desatinos, nossos
desvarios, nossas ações impensadas, precipitadas, egoístas, preconceituosas,
voltadas ao orgulho, a vaidade, nos escondendo e não assumindo nossas culpas e
responsabilidades pelos erros cometidos e as consequências deles advindas.
Se assim agimos comumente quando encarnados e somos
surpreendidos pela morte, não se operará milagres, ninguém se modificará ou se
transformará só porque desencarnou, o choque natural do fato só interfere ou
algo modifica em nossa personalidade, quando já nos encontramos, no momento,
preocupados, receosos, confusos, em dúvida se o nosso proceder é correto ou
válido, quando já, pelo menos, estivermos em uma fase de questionamento, de
reflexão, fazendo com que a mudança de plano nos sirva como fator incentivador
e motivacional, para nos modificarmos e mais prontamente nos adequarmos, com o
auxilio dos benfeitores espirituais, ao novo ambiente onde fomos chamados a
viver.
O mesmo não acontece quando estamos acostumados a jogar a
culpa de nossa infelicidade nos outros, não admitindo nossas falhas, nossos
erros, estando em constante revolta contra pretensas injustiças, perseguições,
não aceitando de forma humilde e cordata a dor, a dificuldade, o sofrimento, o
fracasso, a perda, vivendo como se fossemos o centro do Universo, onde tudo
gira em nosso sentido, onde todos devem viver ao nosso dispor e unicamente para
satisfazer nossos desejos e exigências.
Agindo assim, quando adentramos o plano espiritual, sofremos
um longo período de desequilíbrio, de estagnação, propensos a ingressarmos em
falanges de espíritos inferiores ou de atrairmos para nós espíritos tão
desequilibrados como nós, unindo-os às nossas queixas e lamentos, desperdiçando
tempo, energia, capacidade produtiva, nos afastando daqueles que poderiam nos
auxiliar e nos fazer compreender o quanto estamos equivocados quanto ao nosso
destino e a nossa existência, preferindo nos afundar em charcos de revolta, de
dor, de culpa não manifesta, dando ouvidos apenas aqueles que querem nos
manipular e aproveitar nosso desequilíbrio para suas nefastas ações ou àqueles
que conosco ficaram presos e inúteis por similaridade de atitudes improdutivas
e estacionárias, cúmplices de nossos equívocos e de nossa teimosia.
O tempo é sempre o melhor remédio e ele nos auxiliará a compreender
o quanto estamos distantes, por nossa exclusiva culpa, da felicidade e do equilíbrio
que Deus, em sua infinita bondade, reserva a todos seus filhos, a toda sua
criação.
Nosso Pai, entretanto, não esquece e não desampara a nenhum
de nós, mesmo os mais renitentes e endurecidos espíritos, e mesmo com nossa
rebeldia e teimosia, permite que nossos amigos e benfeitores espirituais
exerçam suas ações benéficas no sentido de nos despertar para nossas
necessidades e responsabilidades, quando agindo com paciência e discernimento,
respeitando nossa vontade e nosso livre-arbítrio, geram situações onde nosso
interesse comece a se voltar, a despertar, para uma situação diferente da qual estamos
entregues, fazendo ver o quanto estamos distantes e diferenciados daqueles que
já se adiantaram e avançaram nas suas jornadas evolutivas, enquanto que nós,
estacionados, estagnados, continuamos a desprezar as mesmas oportunidades que
eles tiveram, de nos transformar, de assumir e assimilar as reais posturas que também
nos levariam a crescer.
Não fazendo deliberadamente o mal, não nos entregando aos
vícios, aos crimes, as perseguições, aos processos obsessivos, as vingança, não
prejudicando a ninguém, além de nós mesmos, mais fácil se fará a intercessão
dos benfeitores espirituais em nosso auxílio, entre elas, as oportunidades de, nos
convidando ou suavemente nos constrangendo, comparecer a reuniões mediúnicas
onde seus integrantes trabalham de forma digna e cristã, para que junto a
energia do plano físico, junto aos amigos ainda na carne, tenhamos mais ampla
percepção de nossa situação, do rumo indevido que estamos dando para nossos
pensamento e nossas ações, recebendo assim a orientação para que revertamos o
nosso quadro, nos interessando por novas perspectivas, novas possibilidades,
novas frentes de trabalho e estudo que nem mesmo imaginávamos existir no novo
mundo onde fomos chamados a viver, quebrando a redoma em que nos envolvemos e
abrindo a mente e o espírito para novas e importantes realizações.
Bom para aqueles que ainda encarnados já vivem de forma cristã,
de forma espírita. Que já conhecem seu destino, que já sabem o porquê da dor,
da adversidade, da dificuldade, tentando sempre melhorar, enfrentar, superar,
agindo de forma resignada quando não consegue reverter uma situação difícil,
escorado na fé, na certeza que Deus nunca lhe dará um fardo superior as suas
forças, que tudo faz parte de sua necessidade cármica, e que, na humildade, na
paciência, na tolerância, no amor, na coragem, no equilíbrio, conquistará a si
mesmo e vencerá toda e qualquer dificuldade, mesmo que só venha a conseguir pleno
êxito depois que, vitorioso por sua conduta frente a dor, ao mal, retorne a
pátria espiritual.
Nenhum comentário:
Postar um comentário