Durante
séculos, estivemos acostumados de acordo com alguns dogmas da frente religiosa
dominante, a simplificar a nossa remissão frente aos erros perpetrados apenas
através do nosso arrependimento, ou melhor, da demonstração do arrependimento
frente aos condutores espirituais que gerenciavam o culto, confessando nossos “pecados”,
e recebendo deles, de acordo com a gravidade da falta, a penitência imposta
pelo confessor, absolvendo-nos assim, logo após seu cumprimento, que poderia
ser quantidades determinadas de orações, ou, doações substanciosas aos projetos
e serviços elaborados e levados a efeito pela organização.
Toda
essa preocupação, no entanto, por parte do pecador derivava mais do medo de ter
que suportar no futuro os castigos impostos pelos gênios do mal no eterno fogo
do inferno, do que o real sentimento de culpa, aquele gerado por reconhecer que
procedera mal, com uma situação ou com o próximo, o que o faria sofrer, através
do arrependimento sincero, o pesar por ter praticado o mal e dele de alguma
forma, indevidamente, ter se aproveitado.
Desta
forma, depositando comodamente sua confiança no poder espiritual de seu condutor,
do ministro de sua congregação, não avaliava potencialmente o que seu erro, de
fato, prejudicou a si mesmo, e a aquisição dos reais e nobres sentimentos que o
elevaria perante a humanidade terrestre, escorando-se em um falso poder de absolvição,
enganando temporariamente a sua própria consciência, e o pior, com isso se considerando
livre para novamente recalcitrar, agravando seus débitos, na certeza que depois
poderia vir novamente quita-los através da negociação com seus confessores.
Estes
simplórios conceitos, entretanto, são tão frágeis em seu conteúdo, de tão difícil
aceitação pelo positivismo atual da nossa sociedade, que acabaram perdendo seu
efeito vindo por afastar vários de seus antigos seguidores, principalmente
aqueles que deles se aproximavam pelo medo de castigos futuros, pois por não mais
acreditar em infernos e diabos, não mais se julgavam da necessidade de buscar
salvação ou absolvição, caindo para o lado da descrença sistemática, desprezando
a autoridade da organização religiosa e de seus representantes, não mais dando
o direito de julga-los, absolve-los ou condena-los por seus atos.
Infelizmente,
porém, a grande maioria ao desacreditar do poder do mal, também passou a,
indevidamente, descrer do poder do bem, de seus representantes maiores, ou
seja, se não mais acreditavam no diabo, também não criam em Jesus, na sua amada
Mãe Maria, nos baluartes históricos de seus conceitos, assim como dos seus representantes
maiores, muitos deles santificados por este mesmo pseudo poder religioso, que
hoje não mais consegue fazer com que muitos venham ser seus seguidores de forma
cega, aceitando seus dogmas sem discussão ou avaliação, muitos deles desmentidos
pela ciência ou pela lógica do raciocínio.
O
Consolador Prometido, o Espiritismo, entretanto, nos trouxe em seus preceitos a
Verdade Cristã em sua forma mais pura, na sua essência, como era entendida por
seus seguidores no princípio de sua estadia na Terra, logo após o advento do
Mestre Jesus entre os homens, ratificando o que era dito na época e retificando
o que hoje é dito, deixando claro que somos nós mesmos os responsáveis pelo
nosso destino, pelas nossas escolhas, por nossas decisões, e se delas forem derivados
sofrimentos, dores, culpas, remorsos, apenas nós mesmos, com trabalho, com
esforço, com disciplina, com a mudança íntima em nossa forma de agir e de pensar, poderemos corrigir,
resgatar, ressarcir.
Somos
assim artífices do nosso caminho, cultivadores da plantação que representará nossa
existência, colhendo hoje exatamente o que ontem plantamos e cultivando o que amanhã
iremos auferir, para nossa felicidade ou infelicidade, para nossa alegria ou
nossa dor, não por castigo, por recompensa, mas por consequência natural e lógica
sobre a ação que realizamos.
Não
existem infernos ou demônios eternos a nos esperar após a morte se nos
entregarmos ao erro, ao “pecado”, mas poderão existir demônios e infernos
dentro de nós mesmos, do nosso íntimo, colocados lá pelos nossos sentimentos,
nossos pensamentos, nossas ações, que nos levarão exatamente onde eles
desejarem, até que retomemos o controle de nosso destino, de nossa consciência,
transformando nosso proceder, dando espaço para que as forças do bem que vivem
dentro de nós se sobressaiam e assumam o controle da nossa postura, da nossa
personalidade única e eterna.
Ninguém
tem o poder de nos condenar ou absolver, ninguém tem o direito de nos
recompensar ou castigar, mas o nosso descontrole ou nossa disciplina atrairão para
nós aqueles que se afinam e se comprazem com nossa forma de ser, serão meros
convidados a compartilhar nossa existência, amigos do bem ou do mal, prontos a
satisfazer nossos anseios, nossos desejos, de acordo com o poder e o direito
que nós mesmos, conscientemente ou inconscientemente, lhes outorgarmos através
de nossas escolhas e decisões.
De
fato, o primeiro passo para alcançar nossa renovação, nossa transformação
espiritual para o bem, geralmente é derivado do arrependimento sincero de
nossos erros, de nossas faltas, dos desvios que demos comandados por nossos
sentimentos e instintos inferiores, porém, este remorso, este arrependimento,
por si, não será o suficiente para trazer a paz da consciência e o decorrente equilíbrio
espiritual.
Não
teremos ninguém a nos julgar, seremos nós mesmos que iremos buscar em novas ações
as novas reações, no novo plantio uma diferente colheita, recomeçando, refazendo,
reconsiderando, remodelando, até que nos sintamos plenamente aptos e preparados
para novos projetos, novos voos, disciplinados e conscientes que erramos e que
ainda estamos propensos a novos erros, humildes o suficiente para admitir nossa
inferioridade atual, para pedir perdão a quem prejudicamos ou ofendemos, mas
sem nos entregar ao desânimo, a dúvida, ao medo, e principalmente, não dando o direito
de ninguém nos condenar, amputar penas ou punições, porque ninguém está isento
de erros, e se, não ferimos leis humanas, apenas códigos divinos, fica claro
que é o único ser que tem o direito de nos julgar e punir é Deus, e Ele também não
o faz, porque é só Amor e Bondade, como um dia também poderemos aspirar a ser,
dentro das devidas possibilidades e
limitações auferidas a cada um de nós na coletividade cósmica.
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