A
Doutrina Espírita nos trouxe uma nova e extasiante visão da Vida. A certeza da
pluralidade das existências onde poderemos resgatar nossas faltas, nos
permitindo saber que a convivência com aqueles que são, de fato, nossos entes
queridos será eterna, que poderemos estar sempre juntos, mesmo que em planos
diversos, que nesta eternidade de oportunidades reencarnatórias poderemos adquirir
todo o conhecimento que desejarmos e ansiarmos, já cientes que vivemos outras
vidas e que muitas outras ainda teremos, onde nós mesmos escreveremos com
nossos atos, nossas escolhas o nosso presente e o nosso futuro, que todas as dificuldades
que possamos estar enfrentado hoje são meras consequências de nossas decisões
anteriores, aproveitando-as assim de ensinamento e preparo para novos e
importantes desafios que ainda nos aguardam, nos proporcionando o equilíbrio e
a paz para que saibamos aproveitar cada momento, mesmo que de dor, para avançarmos,
nos fortalecermos, aprendendo a cada dia a nos tornarmos efetivos artífices do
nosso próprio destino.
O
conhecimento doutrinário, entretanto, não pode nos tornar meros cumpridores de
obrigações, como um assalariado que sai para trabalhar todos os dias, sabendo
que, se realizar suas tarefas de acordo com o que se espera dele, receberá ao final
seu salário, sua recompensa.
Não
podemos nos subordinar a atitudes e escolhas estudadas e mecanizadas, falseando
externamente quem somos, apenas por saber como devemos agir para conquistar os
nossos objetivos, no caso, uma recompensa futura de uma vida tranquila e longe
de sofrimentos quando do retorno ao plano espiritual.
Evidente
que quando estamos na fase inicial de adaptação à nossa transformação espiritual,
precisamos nos policiar e nos disciplinar para não mais nos deixar arrastar por
nossos instintos e sentimentos inferiores, para não mais recalcitrarmos, não
mais repetirmos os mesmos erros, devemos até mesmo evitar pessoas, locais, situações,
que poderiam facilmente nos arrastar aos nossos antigos hábitos, fazendo com
que rapidamente se apagasse a indecisa chama representativa do nosso desejo íntimo
de renovação e mudança para o bem.
Precisamos
estar cientes, entretanto, que nossa transformação espiritual não pode
funcionar como moeda de troca, ou seja, por estarmos deixando para trás nossos
vícios, por não mais estarmos cometendo erros, por algo já estarmos fazendo em
prol de nós mesmos e do próximo, até mesmo já participando de forma efetiva das
lides cristãs, que nossa vida daqui para frente será baseada em momentos
felizes, que não mais sofreremos reveses, que seremos recompensados por nossos
esforços, que tudo de bom que a vida nos reserva ou poderá nos reservar será
concedido, ainda mais, quando nossa mudança se baseia especificamente nesta
intenção, da espera da gratificação ”salarial” pelos serviços prestados.
Precisamos
estar conscientes que promover a nossa renovação, a nossa transformação
espiritual para o bem, não é um favor, não é um serviço prestado, é uma obrigação,
mas não uma obrigação a ser cumprida para os nossos protetores espirituais,
para Jesus, para Deus, mas é uma obrigação para conosco mesmo, para o nosso crescimento,
para a nossa evolução, e o fato de estarmos dando os primeiros passos de uma
longa caminhada, onde até agora, por nossa vontade, tínhamos escolhido ficar
estagnados, parados, não quer dizer que estamos livres dos obstáculos, das
quedas, dos acidentes, dos assaltos que a jornada ainda nos reserva, ainda mais
pelas consequências dos nossos erros que plantamos no caminho quando dela insistíamos
em nos desviar, por atalhos que só nos distanciavam ainda mais do destino.
Nossa
renovação espiritual é uma ação íntima, que visa nos fortalecer, nos
equilibrar, remodelando nossa postura, a nossa forma de encarar a vida, os
problemas, as situações, as pessoas, é um renovação de prioridades, de preferências,
onde os conceitos cristãos passam a suplantar os desejos meramente humanos,
onde o amor, a fraternidade, a bondade, a sinceridade, a humildade, o respeito
passam a ser os sentimentos que norteiam todas nossas escolhas, nossas ações,
nossas reações frente às situações que a vida nos apresentar, e é sabido, pelo
atual estágio evolutivo deste planeta, que quem escolhe para si esta forma de
agir estará propenso a encontrar sérias dificuldades de relacionamento, pois passa
a esta sujeito ao escárnio, a traição, ao desprezo, a humilhação, por parte daqueles
que ainda supervalorizam o orgulho, a vaidade, a inveja, a prepotência, a
arrogante postura de se considerarem mais fortes, mais corajosos, superiores
aos demais.
A
transformação espiritual está baseada puramente em sentimentos, e estes não se
aprendem nos livros, não podem ser adquiridos em palestras, em estudos, onde só
encontraremos o caminho, a rota, mas nunca a efetiva mudança.
Não
adianta nos mostrarmos transformados, aparentarmos posturas, demonstrarmos nas
palavras e nas atitudes aquilo que esperam de nós, e que nós mesmos esperamos,
se, de fato, em nosso íntimo, ainda somos os mesmos mascarados, os mesmos
atores, enganando ao próximo, e principalmente, a nós mesmos.
A
batalha é árdua, mas é humanamente possível de ser vencida. O caminhar é difícil,
mas pode e deve ser contínuo, firme, disciplinado, persistente, porque é certo
que chegaremos ao nosso destino, e o melhor de tudo é exatamente isso, que pelo
amor e pela bondade divina, seremos exatamente nós mesmos, com nossa própria vontade,
que determinaremos quando e de que forma completaremos nossa jornada.
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