O arrependimento não é a cura, não é o remédio que fará
desaparecer milagrosamente todas as dores, ainda mais quando o espírito culpado
se deixa abater pelo remorso destrutivo, quando mesmo ciente de seu erro não se
predispõe a se modificar, a se transformar, apenas lamentando-o porque está
sofrendo, porque não mais pode viver da forma que vivia, por se ver manietado,
afastado, impedido de continuar, pois, se caso tivesse a oportunidade, muito
provavelmente persistiria em sua postura indevida.
Este remorso dá acesso aos espíritos inferiores interessados
em nossa queda, em nos manipular e usar como cúmplices, como instrumentos de
seus desejos inconfessos, permitindo que de nós se aproximem e atravessem a
barreira fluídica que até então nos protegia de suas investidas, aproveitando
do nosso estado de ânimo para nos atingir de diversas maneiras, de acordo com
seus objetivos e carências, que podem se basear na vingança, na desforra, na
parceria para seus desatinos, na associação para seus crimes, suas loucuras,
agravando desta forma nosso estado, dificultando nosso equilíbrio e discernimento,
postergando por tempo indeterminado nossa recuperação espiritual.
O arrependimento é o início da jornada de recuperação do
espírito culpado, da avaliação da postura que até então se utilizou para as
escolhas e decisões, da mudança do seu padrão vibratório, é o primeiro passo
para se desligar de seus instintos e paixões inferiores, assim como dos
sentimentos negativos que alimentou.
O arrependimento surge quando nos conscientizamos que fizemos
algo errado, quando no íntimo nos sentimos insatisfeitos com nossas ações,
sejam elas prejudiciais apenas a nós mesmos ou a nossos irmãos do caminho,
variando o grau e a intensidade da culpa com a nossa fragilidade, como nosso
desequilíbrio, quando grandes erros podem ser encarados de forma tranquila e
consciente, vindo a ser, desta forma, mais prontamente, corrigidos ou
ressarcidos, enquanto, pequenas falhas, podem gerar “monstros” de desânimo, de
complexos, de fobias, fazendo que levem um tempo maior do que o necessário e exigido
para serem quitadas, superadas e esquecidas.
Uma agressão, uma traição, um engodo, uma calúnia, um crime,
uma simples mentira, alguém que deixamos de ajudar ou que viemos a prejudicar,
um bem que poderíamos ter feito e não fizemos, vários são os erros e desacertos
que nos levam, quando já interessados em praticar o bem, a conviver com este sentimento
que é gerado por nossa consciência, quando nos avisa que estamos em desacordo
com a verdade divina que carregamos em nosso íntimo desde os remotos
tempos de nossa criação e que aos poucos vai desabrochando, surgindo, nos
fazendo ver o quanto se faz necessário melhorar para atingirmos estágios superiores,
objetivo maior de todos que buscam a evolução.
O mais importante ao reconhecermos nossos erros e deles nos
arrependermos, é não nos deixar abater, não desanimar, conscientes que este é o
primeiro passo de nossa recuperação, que não há uma justiça implacável e nem
uma eternidade de penas e castigos, que todos nós estamos habilitados para a renovação,
para ressarcimos todos os débitos que gerarmos, sejam eles referentes a nossa
própria personalidade, aos nossos irmãos do caminho, ao local onde vivemos, a
um ideal que nos comprometemos a atingir ou a promessas e objetivos não cumpridos.
Vale ressaltar que não basta apenas o arrependimento, por
mais sincero que ele seja, para a quitação do nosso débito, ele é apenas o
ponto de partida para que possamos através do resgate, do esforço, do trabalho,
do sofrimento, da dor, do amor, pagar as nossas dívidas e reassumirmos o
equilíbrio junto a nossa consciência e a consciência cósmica, nos habilitando
para avançar na busca de novos compromissos, novos desafios, novas condições de
estudo e aprimoramento individual.
Todos nós somos devedores, somos credores, se hoje prejudicamos
a alguém, ontem, fomos prejudicados, não há ninguém isento de culpa, não há
ninguém que hoje sendo a vítima, não tenha sido um dia, o agressor. Devemos
satisfação de nossos erros, de nossos débitos, apenas a Deus, não cabendo o direito
a mais ninguém, por mais que se julgue prejudicado, se arvorar de juiz, não
podendo assim condenar ou querer aplicar a justiça com as próprias mãos.
Devemos, sim, procurar o perdão e a reconciliação com quem
prejudicamos, quitando o débito que temos para com ele.
Devemos, sim, perdoar e aceitar o pagamento quando aqueles
que nos prejudicaram nos procuram para saldarem suas dívidas, mas, sempre
agindo reciprocamente, aceitando sua ação com caridade, com respeito, com
paciência, com fraternidade, com tolerância, com amor.
Não há vítima que tenha o direito, dentro da justiça divina,
de humilhar seu agressor, de tripudiar sobre seu arrependimento, de
persegui-lo, de querer pagar na mesma moeda aquilo que sofreu, já que, para
este que se julga tão prejudicado, um dia também surgirá em sua lembrança cármica,
seus erros, tão ou mais graves do que aqueles que lhe foram impostos e que hoje
se julga no direito de cobrar, e quando isso ocorrer, muito provavelmente,
também esperará, por sua vez, um tratamento brando e cristão por parte daqueles
que são ou foram suas vítimas.
Quando nosso arrependimento é sincero, quando predispostos a
nos transformar, a quitar nossos débitos, a nos agregarmos as forças do bem,
caso não sejamos perdoados por nossas vítimas, e estas, por sua vez, queiram
assumir o papel de algoz, poderão se ver impossibilitadas de nos
maltratar, de nos perseguir, de nos castigar, porque a justiça pertence somente
a Deus e Ele sempre mantem a porta da renovação aberta ao espirito delinquente,
não cabendo a ninguém mais o direito de julgar, por mais que se entregue a
revolta, a lamentação, ao queixume.
Desta forma, resta a estas pretensas vítimas, caso não queiram
piorar ainda mais a sua situação, não mais desperdiçarem sua jornada evolutiva,
perdoar ou esquecer o mal que lhes foi imposto, para que não venham a ficar estacionadas no tempo, enquanto
vêm àqueles que julgavam seus inimigos, seus algozes, se distanciarem, por estarem estes lutando e se esforçando para melhorar, vindo a agir como verdadeiros trabalhadores
do bem.
Arrependamo-nos, sim, de nossos erros, de nosso passado culposo,
mas, sempre olhando para frente, para o futuro, para o alto, buscando a
renovação, objetivando um novo começo, livrando-nos do mal que, até então,
impensadamente tínhamos alojado em nosso coração.
Jesus não quer que nenhuma de suas ovelhas fique sem retornar
ao redil, nos voltemos desta forma para Ele e tudo façamos para nos apresentar
límpidos, já quites com nossa consciência e prontos para avançar rumo a perfeição
que Ele almeja para todos nós.
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