segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Perdoar...





Temos o vício, a tendência, de julgar, de questionar, a conduta e a postura de nossos irmãos do caminho, e se agora algo tentamos fazer em prol do bem e das Verdades Eternas, não podemos esquecer que isso ocorre depois de vidas, séculos, perdidos em desequilíbrios e desatinos, que até hoje, temos dificuldade em sanar. 


Precisamos estar sempre atentos e levar em consideração, neste período de transformação espiritual a que nos dedicamos, o que Jesus Cristo, em diversas passagens, nos advertiu, chamando a atenção para que, por amor, por respeito, por caridade, para com todos aqueles que cruzarem nossa caminho, soubéssemos compreender e aceitar os diferentes estágios evolutivos em que cada um se encontra.


“Não julgueis afim de não seres julgados”


“Aquele que estiver sem pecado que atire a primeira pedra”


"Não perdoais apenas sete, mas setenta vezes sete"


“Vês a palha no olho do teu irmão e não enxergas a trave que te prejudica a visão”



“Perdoais a fim de seres perdoados”


Se não nos preocupássemos tanto em julgar, em alimentar preconceitos, conseguiríamos, com muito mais probabilidades, entender e amar o nosso próximo, enxergando além da máscara que ele assume para se defender e agir quando na sociedade, onde por vezes, ele cai, ele fracassa, por um ato, uma palavra, uma ofensa, um crime, que comete em momento de desespero, de dúvida, de falta de vigilância, erros que muito provavelmente também cometeríamos se nos encontrássemos em situações idênticas a dele.


Quanto mais julgamos, mais nos afastamos do nosso irmão do caminho, assim como fez o sacerdote quando, na parábola do bom samaritano, se afastou afim de não se envolver e ser confundido com o que ele julgava ser o mal, onde na verdade havia simplesmente um ser humano precisando de ajuda.


Um malfeitor, um agressor, um vizinho nervoso ou um parente agressivo, estão muitas vezes passando por sérios problemas físicos ou espirituais, que os levam a cometer os mais graves crimes, os mais agressivos desatinos, e mesmo não corroborando e não acumpliciando o mal, devemos ter a atitude e a postura cristã, que são, nessas oportunidades, fundamentais para que não julguemos, não nos envolvamos emocionalmente na questão, e com discernimento e bom senso, procurarmos fazer o de melhor, o de mais produtivo para auxiliar na recuperação de nosso irmão.


Dependendo do grau, da intensidade da situação, um conselho, um abraço fraterno, uma orientação, uma ajuda material, disponibilizar nosso tempo e nossa energia para auxiliar, podem fazer com que ele repense e recue em suas atitudes e ações negativas.


Nós temos que fazer a nossa parte para auxiliar todo e qualquer companheiro de jornada, colocando os resultados, as consequências, sempre nas mãos de Deus, que sabe sempre o que é melhor para cada um de nós.


Se Jesus fosse tomar como base as atitudes daqueles que eram seus companheiros, seus discípulos, seus acusadores, onde o medo por parte de alguns, o desprezo e ódio por parte dos outros, levaram-no ao Calvário, poucos restariam para poder contar a história daquela época, tal o que Ele poderia ter feito com seu poder e seu conhecimento espiritual, se fosse reagir como nós, “paladinos da justiça”, frente aqueles que se afastam do bem em nossa sociedade. Nós, no lugar do Mestre, em situação similar, gritaríamos por justiça, buscaríamos o poder dos homens e de Deus para sermos auxiliados, salvos e devidamente ressarcidos e respeitados, enquanto que Ele, do alto da cruz, no limite do seu martírio, docemente apenas pediu ao Pai que perdoasse a todos, sem exceção, sem condicionantes, porque eles não sabiam o que estavam fazendo e ainda teve tempo de socorrer espiritualmente a um dos malfeitores que expirava ao seu lado, descortinando a ele em seu último suspiro a certeza da existência de um mundo melhor, onde não somos julgados e nem excluídos, presos ou condenados, onde nos amam e onde tudo é feito, para que, mais prontamente possível, nos recuperemos e voltemos abraçar a novas oportunidades de crescimento, de elevação, de resgate e ressarcimento de nossas dívidas.


Infelizmente, anda hoje, como espíritas, ainda não só julgamos, como prejulgamos trabalhadores, artistas, desportistas, celebridades, crimes e criminosos, nossos amigos, nossa família, nosso lar, nosso trabalho. Julgamos as pessoas por suas ideias ou por seu silêncio, por sua riqueza ou por sua pobreza, por sua coragem ou por seus medos, por seu status social ou por sua exclusão da sociedade, por sua religião, por sua atitude política, por sua visão do mundo, nos convencendo que, por algo sabermos do evangelho, da codificação espírita, dos seus ensinamentos, já estamos aptos à separar o joio do trigo, o bom do ruim, o certo do errado, simplesmente por algo já nos consideramos superiores, mais informados, melhores preparados. Ilusão, pura e destrutiva ilusão.


Nunca saberemos o que se esconde por trás de um sorriso, de uma lágrima, de uma fuga, de uma agressão, de um crime, de um suicídio, é apenas a insistência de nos escoramos em nosso conhecimento, em nossa vaidade, em nosso orgulho, em acharmos que tudo que fazemos é o certo, que tudo que nossos irmãos enfermos realizam é errado, é desnecessário, que faz com que viciemos a nossa conduta atual, para determinar e julgar, a conduta do próximo. Se nós já conseguimos superar um vício, achamos que ele também tem a obrigação de logo superar, se não mais somos impacientes, consideramos que ele tem a obrigação de também tentar deixar de ser.


Se Jesus julgasse todos os nossos atos com a mesma severidade que costumamos julgar os atos do próximo, talvez estivéssemos mesmo, como no passado tentavam nos convencer, todos condenados a um inferno de chamas eternas, sem remissão, porque Ele tudo conseguiu, Ele tudo ensinou e ainda assim permanecemos excepcionalmente distantes de Sua capacidade de amar, de realizar, de construir.


Temos que ler e reler insistentemente até que consigamos, não só entender, mas incorporar seu significado em nosso espírito eterno, a mais sensível e profunda Verdade que o Mestre nos apresentou e ai, talvez, nós consigamos recomeçar a agir como um verdadeiro cristão, como um verdadeiro espírita:


“Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”


Comecemos por nos amar, transformando nossos séculos de erros e indecisões, em outros tantos, de amor, de trabalho e de realizações, permitindo que nosso irmão também encontre por seu próprio esforço, seu caminho, sua paz.




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