sexta-feira, 13 de maio de 2016

Uma pitada no momento político...




O atual momento político do nosso país me fez lembrar um caso da minha juventude quando, em um dia lá pela década de 70, na sala que eu estudava, no Colégio Escolástica Rosa, em um intervalo de aula, toda a minha turma cantava e batucava nas carteiras, e eu e um "amigo" meu, sentados na mesa da professora acompanhávamos o ritmo batendo os pés na lateral da mesa, quando então, eis que surge, nos surpreendendo, não o temível inspetor de alunos, mas o próprio Diretor, o que fez que toda classe ficasse em segundos em um absoluto silêncio, lembrando apenas que estávamos em pleno regime militar, o que refletia naturalmente no regime escolar, onde um fato que poderia ser facilmente resolvido com uma conversa, se tornava naturalmente um caso de punição.





Bem, como toda classe não poderia ser punida, o Diretor resolveu levar os "líderes " do movimento, os que estavam na mesa da professora para a diretoria, e ambos já sabíamos que o ocorrido geraria uma suspensão, porque anteriormente já havíamos sido "detidos" por transitar nas dependências do Colégio sem avental, isso mesmo, avental, ou guarda pó como muitos possam preferir.





Mas, como na época já éramos revolucionários, sim, apesar de contar apenas com 15 anos já éramos politizados, não politizados de memes de Facebook, politizados mesmo, de discutir com os pais, com os professores, o período de opressão e medo que todos viviam, afinal Santos recebeu até a alcunha de Moscou brasileira, o que nos fez enfrentar a eminente punição de cabeça erguida, ainda mais porque nossa escola era de frente a praia, e como fizemos da última vez, já havíamos planejado não contar para os nossos pais da suspensão, passando o período das aulas nos jardins internacionalmente conhecidos da Praia de Santos.





Porém, e sempre há um porém, o serviço de inteligência do Colégio já deveria estar informado destas artimanhas dos alunos, porque nosso diretor nos suspendeu, mas não por um ou dois dias, mas por tempo indeterminado até que nossos pais comparecem à escola.





Bem, acho que posso pular a parte do desespero, do terror, do pânico, já que naquela época um pai ter que ir até a escola, isso mesmo, o Diretor não queria a mãe, mas o pai, já nos esquentava as orelhas e as costas, sim, porque nossos 15 anos não nos garantiam privilégios ou concessões, apenas cintas, e com sorte, tapas.





Bem, lá estávamos no dia seguinte, eu e meu pai, esperando para falar com o Diretor, quando a porta se abriu e da sala saíram meu "amigo" e o seu pai, e passaram por nós rapidamente, sem que ele tivesse nem ao menos olhado pra mim. Respirei fundo, engoli seco e entramos, meu pai se sentou a convite do Diretor e eu fiquei de pé, na expectativa.
O Diretor perguntou ao meu pai se ele sabia o motivo pelo qual tinha sido chamado, e após ele responder que sim, se dirigiu a mim e pediu que eu contasse, com minhas palavras o ocorrido.





Contei a verdade, que estava sentado na mesa da professora, e que acompanhava com os pés a música que estava sendo cantada pela classe. E algo a relevar, é que em minha concepção nada fizera de mal, afinal estávamos nos divertindo pacificamente no intervalo, nada de mais, mas, eram outros tempos, onde a alegria coletiva não era muito bem vista, então, lá estava eu na mea culpa.





Depois de ter contado, o Diretor olhou bem nos meus olhos e perguntou, e seu amigo? Estava batendo com os pés na mesa também?





Instintivamente, talvez porque tenha crescido na rua, no meio da molecada, respondi que não lembrava, que não sabia e não tinha prestado atenção, código de honra, quem é da minha época sabe.





E, para minha surpresa, ele se levantou, tirou os óculos, apertou minha mão e me deu um tapinha nas costas:





- Parabéns meu filho pela sua sinceridade e coragem, porque seu amigo que acabou de sair daqui falou que estava só encostado na mesa, e que era você que estava batucando, e além disso, o pai dele, citando o nome de um seu amigo Capitão do exército, "pediu" para que fosse retirado qualquer observação da ficha do seu filho.





Ao final, meu pai que entrou na sala furioso com o filho, dela saia orgulhoso, e até pagou até um refrigerante na cantina!




Quanto ao meu amigo...ah deixa pra lá...como eu, seguiu a vida dele, e lembro até hoje do seu nome, Norberto, mas sem diferença nenhuma, poderia bem se chamar Michel Temer...

Um comentário: