Sabemos o quanto é difícil desculpar a
quem nos ofende, a quem, deliberadamente ou não, nos prejudica, o quanto é
complicado relevar maus tratos, injúrias, difamações, humilhações, o quanto
ainda lutamos para seguir a máxima do Cristo que ensina-nos para “não julgar afim
de não ser julgado”, o quanto ainda estamos distantes de conhecer e vivenciar o
sincero e verdadeiro perdão, ainda mais quando somos agredidos fisicamente ou
moralmente.
Foi o Mestre Jesus que trouxe à
humanidade terrestre a necessidade do Amor, do Perdão, do oferecer a outra face,
do desculpar aos inimigos, e, foi Ele, pela inferioridade dominante em sua época,
pela dificuldade de compreenderem e de aceitarem seus sublimes conceitos,
considerado pelos que dominavam e comandavam, que detinham o poder temporal,
político e religioso, considerado um fraco, um louco, um revolucionário, sendo,
por isso, consequentemente, punido e castigado, pelos que não conseguiam
entender sua sublimidade e simplicidade, preferindo abafar através da
agressividade, motivados pelo orgulho, as Verdades Eternas que Ele lhes trouxe, como
se pudesse, as trevas, apagar ou tirar o brilho do Sol, já que, mesmo que posteriormente
seus discípulos continuassem a ser perseguidos e manietados em seus ideais, seus
conceitos e exemplos, sobreviveram e se espalharam pelo mundo, se mantendo até
hoje em toda sua plenitude, ainda mais agora que foi corroborado, ampliado e devidamente
explicado pela Doutrina Espírita, pelo Consolador que Ele nos prometeu e enviou,
apontando na lei da causa e efeito, da reencarnação, da pluralidade dos mundos,
a ideia básica da necessidade de se reconciliar com os inimigos e adversários
enquanto na carne, de perdoar não sete mais setenta vezes sete, para conscientizar
a todos que todo o mal, toda a dor, todo sofrimento que não é esquecido ou relevado,
tende a se arrastar por inúmeras existências, gerando vínculos entre aqueles
que por não esquecerem as ofensas, acabam por se enredar em longos processos de
perseguições sistemáticas, de obsessões, de relacionamentos baseados no ódio e no
desejo de vingança.
Jesus é até hoje o espírito mais
perfeito que esteve encarnado entre nós; toda sua jornada foi de
amor, de ensinamentos sublimes, de exemplos inesquecíveis, trazendo-nos na
plenitude, todo o Amor com que devemos traçar nosso caminho para que alcancemos
o reino dos céus, a espiritualidade superior, e foi Ele também até hoje, o
Modelo Maior desta necessidade de perdoarmos as ofensas a fim de também sermos
perdoados por quem ofendemos, já que, sendo o mais perfeito, foi também, consequentemente,
o mais injustiçado, e tendo o poder conferido por Deus para escapar do martírio
que lhe foi imposto, preferiu tudo sofrer, para deixar bem claro qual o único
caminho que nos levará a salvação, a evolução, que é, exatamente, o de carregarmos
valorosamente a nossa própria cruz, e como Ele, quando formos perseguidos ou
agredidos, erguer os olhos aos céus e suplicar a Deus que perdoe a todos,
porque como nós, eles não sabem ainda o que fazem.
Infelizmente, quis a história, que as ações de seus seguidores, ao longo do tempo, invertesse a posição de perseguidos, para perseguidores, gerando séculos de terror e
violência, usando para isso, indevidamente, o nome do Mestre para justificar
seus desatinos, em ações belicosas e violentas que se baseavam em uma pretensa
defesa aos princípios cristãos, os mesmos conceitos que colocam bem alto em sua
bandeira, o amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo.
As cruzadas, as guerras santas, a idade
média com suas fogueiras, com sua caça as bruxas, as perseguições aos
seguidores de Lutero, o silêncio de cumplicidade junto às atrocidades contra os
escravos, os índios; as guerras, situações onde a Verdade Cristã foi posta de
lado e o ódio, o preconceito, o poder temporal estiveram sempre em primeiro
plano em detrimento aos sublimes ensinamentos do Mestre, entre eles, aquele que
mandava atirar a primeira pedra quem estivesse sem pecado, aqueles que,
purificando os pecadores aconselhava-os a se reerguerem e não mais errar, que
colocava acima de tudo o Amor e o respeito incondicional, independente da raça,
da classe social, da cor, da religião, tratando a todos como o bom samaritano
em sua inolvidável parábola.
O Pai é supremo Amor e até hoje nos
aguarda, pacientemente, que nos voltemos para Ele e assumamos de vez o nosso
papel nas tarefas do bem, que nos tornemos soldados do seu exército e que
aprendamos a dar valor aos verdadeiros parâmetros do amor e paz, priorizando a
caridade, a fraternidade, a igualdade de direitos entre todos, que, de fato,
nos tratemos e nos relacionemos como irmãos, o mais forte protegendo o mais
fraco, o mais inteligente ao ainda ignorante, nos unindo em uma extensa
corrente onde nenhuma das ovelhas do Cristo se perderá, chegando todos aos
píncaros da perfeição humana, cada um dentro de suas possibilidades, traçando o
caminho que escolher para si, levando o tempo que precisar, tendo, porém, a
certeza, que dependerá sempre do seu próprio esforço esta conquista, esta
efetiva transformação espiritual.
Somos todos irmãos, cúmplices, amigos,
companheiros de jornada, não cabendo a ninguém o papel de juiz, de censor,
porque se hoje somos vítimas, ontem fomos os agressores, ou poderemos vir a ser
amanhã; se hoje já compreendemos o que fazer, pelo estudo, pelo discernimento,
outros, que nem mesmo sabem ler, já agem, já sentem, já vivenciam aquilo que
apenas agora alcançamos em teoria.
Somos iguais na criação e no destino,
sendo, porém, diferentes na forma que escolheremos para percorrer o caminho de um
extremo ao outro, tendo, porém, na atual fase que o nosso planeta vive, uma única
certeza, a que está no Mestre Jesus a resposta para nossas dúvidas e incertezas,
pois, será Ele, sempre, o nosso Caminho, a nossa Verdade e a nossa Vida.
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