Muito
difícil para o ser humano, encarnado ou desencarnado, mesmo quando já ciente e participante
das lides cristãs, das tarefas espíritas, quando tenta se adaptar a uma nova concepção
de vida, baseada na renovação de sentimentos, de postura íntima, tentando
superar e vencer seus vícios, suas tendências inferiores, manter-se plenamente
equilibrado e pacificado quando é visitado pela dor, pelo sofrimento, pela
enfermidade, por um grave problema, pela perda de um ente querido, pelo
fracasso profissional ou dos sonhos pessoais.
Complicado,
também, neste período inicial de transformação, controlar e sadiamente conviver
com a ansiedade, com o medo, com a dúvida, quando se vê frente a frente a um
novo desafio, a uma situação que o tira de sua zona de conforto, que ameaça sua
paz, sua rotina, seus planos.
Para
o espírita, mais em particular, mesmo que já participe das atribuições doutrinárias
no centro, mesmo que seja um estudioso consciente e esforçado, mesmo que no
pensamento, nas palavras e nas atitudes, já consiga de certa forma se
identificar com o equilíbrio e a paz que a Doutrina traz àquele a que ela se
dedica, também estas surpresas e estes imprevistos que a vida costuma trazer, são
ainda fatores que potencializam sua dificuldade em se manter dentro da conduta
que condiga com seus objetivos de renovação, tal ainda a dificuldade de assimilar
e vivenciar a fé, a paz, a passividade objetiva que precisa ter para que não se
veja afetado e ameaçado, de desperdiçar todo o tempo e a energia que até então
acumulou, ao visar sua evolução como individualidade.
Quando
contrariados em nossos objetivos, quando perdemos o emprego, quando somos traídos
por entes queridos, por amigos, quando somos surpreendidos por uma enfermidade
grave, ou sofremos um acidente de maiores proporções, quando perdemos
repentinamente alguém que amamos pelas portas da morte, quando somos roubados
ou violentados de alguma forma, difícil se faz ainda, apesar de todo preparo, de
todo estudo, de todo conhecimento adquirido, que nos mantenhamos plenamente
identificados e equilibrados com os sentimentos cristãos, que na essência, nos
fariam manter, independente do grau da situação, plenamente tranquilos e
conscientes quanto a forma de agir, sem nos deixar levar em nenhum momento pela
revolta, pelo desespero, ou por qualquer outra reação que tenderia a que agravássemos
ainda mais o nosso quadro, seja em relação as questões meramente físicas e
materiais, como também, e, principalmente, as mentais e espirituais.
Ainda
estamos acostumados, neste período de transição transformativa em que vivemos, em
querer o mais prontamente possível, e sem medir a forma e as consequências, nos
livrar do problema, curar de qualquer maneira a enfermidade, vindo também a
reagir, no mesmo grau de proporção, da mesma forma pela qual fomos tratados ou
prejudicados, deixando-nos arrastar, mesmo sem a perfeita noção disso, pelas
mesmas tendências inferiores que alimentamos já por séculos, por vidas, e que
comprovadamente, pouco nos trouxeram de paz, de conquistas efetivas, tal o grau
de dificuldade que ainda temos de manter o autocontrole, a disciplina, a paz de
espírito, a serenidade frente as adversidades.
O
que precisamos compreender, porém, que todo o nosso esforço em estudar, em
adquirir conhecimento, em nos dedicar as tarefas cristãs e espíritas, serve,
principalmente, para nos capacitar e preparar, exatamente, para enfrentar de
forma firme e segura os problemas e as inquietações que a vida nos apresentar,
provando para nós mesmos que conseguimos algo positivar de nossos sentimentos,
na nossa forma de pensar e de agir, e que não mais somos simples joguetes das
circunstâncias e das nossas paixões, que já nos encontramos mais fortes que
antes, e que não mais nos desviaremos do caminho, dos nossos objetivos, apenas
porque as coisas não aconteceram como desejávamos ou que as pessoas não vieram
a agir como esperávamos.
O
que mais deve nos fortalecer e motivar neste período de renovação íntima e de
confrontação com o nosso passado culposo, com a forma de agir que estávamos acostumados,
é a certeza que, por mais que as dificuldades surjam, que o sofrimento e as enfermidades
nos ameacem, o fardo a suportar e superar, como prometido por Jesus, nunca será
superior as nossas forças, e que teremos sempre plenas condições de vitória,
independente do quanto seja difícil a situação e o momento que estivermos
enfrentando.
Muitos
fracassam e recuam neste período devido a falsa concepção que passam a ter
sobre suas ações, sobre seus esforços, quando começam a se considerar merecedores
de privilégios, de proteção, de conquistas, só porque agora resolveram trilhar
o caminho do bem, só porque agora são estudiosos e esforçados tarefeiros cristãos,
só porque agora na igreja ou no centro que frequentam passaram a dispor de
algumas horas semanais para levar o auxílio físico, material e espiritual ao próximo,
supervalorizando suas ações, deixando-se assim levar pelo orgulho e pela vaidade,
mesmo que seu discurso aparente seja o oposto, ao assumir um postura de simplicidade,
de humildade, que só a sua insatisfação, sua reação frente aos problemas e as
decepções, deixa bem claro o quanto distantes ainda estão dessa realidade íntima.
Precisamos
estar conscientes que a nossa determinação e o nosso esforço em melhorar, em
evoluir, através do estudo e do trabalho, não nos isentará de problemas, mas
sim, nos fortalecerá para que venhamos a enfrenta-los condignamente, e assim,
vindo, o mais prontamente possível, supera-los e assimila-los como experiência
e aprendizado para o nosso próprio adiantamento.
O
mais importante para nossa efetiva renovação individual, não passa pelo conhecimento
que venhamos a adquirir através do estudo, e nem pela experiência conquistada através
do trabalho, mas, sim, pelo esforço da transformação interior, dos sentimentos,
da forma de pensar, de agir, da sinceridade de nossos pensamentos, de nossas
palavras, de nossos atos, potencializando nossos esforços não para
demonstrarmos que somos pessoas melhores, mas para que, de fato, venhamos a ser
pessoas melhores, focando mais no que sentimos do que no que fazemos, porque
nossos atos, nossa postura, nossas reações, nada mais serão que meras consequências
do que sentimos, do que temos em nosso coração.
A
luta precisa ser constante e disciplinada contra nós mesmos, contra a nossa
negatividade e inferioridade alimentada e acumulada durante séculos, sabedores
das dificuldades que iremos enfrentar, dos erros que ainda iremos cometer, dos
fracassos que ainda poderão advir, mas sempre sendo sinceros na vontade e na
determinação de vencer, baseando todos os nossos esforço na pureza dos sentimentos
cristãos, o mais prontamente possível compreendendo e assimilando que só na
humildade, na simplicidade, na honestidade, na fraternidade, na caridade, na
paz e no amor, conseguiremos alcançar o patamar onde nada mais nos afetará,
nada mais irá fazer com que venhamos a nos afastar do nosso objetivo maior, a
perfeição a qual todos estamos destinados.
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