terça-feira, 8 de setembro de 2015

Não combateremos o mal com mais mal...




Muitos ao sofrerem reveses clamam por justiça, muitos nas calamidades, nos crimes que chegam ao seu conhecimento, prestamente, se arvoram de juízes, acusando de forma peremptória aqueles que, de fato indevidamente, de forma explícita, se entregaram ao mal, ao erro, alimentando a violência, nas diversas formas que ela se expressa em nossa sociedade, violentando direitos alheios, por vezes ceifando, sem nenhuma razão de ser, vidas inocentes.



Infelizmente, temos ainda em nossa sociedade moderna, como tivemos em todos os tempos, aqueles que se entregam, por diversos motivos, a agressividade e ao desprezo as normas básicas de civilidade, preferindo o crime, a usurpação do que não lhe pertence, magoando de forma, por vezes fatal, aos seus irmãos do caminho, trilhando um caminho distante de Deus, dos conceitos cristãos, de honestidade e amor.



Inúmeras são as origens que levam a que se desviem do bem, vindo a se entregar de forma deliberada ao crime, com atenuantes ou não, é certo, porém, que nada justifica tal procedimento, e todos, por mais difícil que tenha sido a situação inicial, poderiam, com esforço, sacrifício, dedicação, ter buscado alternativas outras para superarem suas dificuldades, permanecendo assim de forma licita a trilhar sua jornada na sociedade em que estão inseridos, conquistando aos poucos seu espaço, crescendo e evoluindo como individualidades eternas.



Porém, motivados muito pelos excessos cometidos pelos meios de comunicação, inúmeras são as pessoas que tomam para si um direito que não lhes pertence, que é o de julgar e condenar ao próximo, exigindo uma punição e uma corrigenda que muitas vezes vai muito além das próprias leis vigentes, carregando em seu íntimo um ódio e um desejo de revanche, de vingança, que extrapola até mesmo em inferioridade ao sentimento que motivou ao atual criminoso a agir em desacordo com a lei.



Citado foi o “atual criminoso”, exatamente porque este é um dos princípios básicos do cristianismo, o fato de ter direito apenas a atirar pedras, aquele que estiver sem pecado, ou seja, que julgue ao próximo apenas quem, em nenhum momento, tenha cometido algum um crime, não tendo ferido as leis humanas estabelecidas, ou de forma subjetiva, tendo vindo ferir aos princípios divinos de amor, de tolerância, de honestidade, de fraternidade, de amor.



Indo ainda mais a fundo neste conceito básico de justiça, se formos levar em conta, como o devemos fazer de fato, a lei da reencarnação, das vidas sucessivas e interligadas, menores e mais ínfimas serão as possibilidades de estarmos sendo afetados de alguma forma em nossa existência atual, sem que o que esteja nos prejudicando, não seja mero reflexo e consequência do que indevidamente cometemos em nosso passado, o que vem trazer à tona a culpabilidade ampla de todos nós que estamos vivendo este atual estágio evolutivo do nosso planeta, onde como tão bem frisou o Cristo, dificilmente encontraremos a alguém que esteja isento de culpa, que também de alguma forma não tenha sido em algum momento o agressor, o criminoso, aquele que lesou a justiça dos homens ou a divina.



Quem hoje está sofrendo uma injustiça, ontem pode ter feito algo injusto contra um irmão do caminho, ou ainda poderá vir a fazer, o que nos torna acumpliciados na necessidade de compreensão, de tolerância, de perdão, tentando fazer com que os sentimentos que nos guiem nestes difíceis momentos em que nos vemos prejudicados, ou que vejamos situações onde o mal de alguma forma prevaleça e se estenda, não sejam os de ódio, de revanchismo, de vingança, para que não venhamos a nos igualar na inferioridade do agressor, para que mantenhamos a paz de espírito, fazendo prevalecer o bom senso, buscando sempre soluções, agindo em prol da recuperação e do soerguimento das vítimas e dos culpados, e não simplesmente nos preocupando com punições, com flagelos, com atos que venham agravar ainda mais a negatividade atmosférica do nosso planeta.



É evidente que não devemos de forma alguma nos acumpliciar, compactuar ou buscar justificativas para o mal, para o crime, ainda mais em situações que vemos a agressividade dos criminosos, fugir totalmente de qualquer noção de civilidade. 


Temos e precisamos, do justo direito a indignação, a não concordância, agindo de todas as formas possíveis, diretas ou indiretas, para evitar o mal, porém, nossa reação precisa se basear no mais puro sentimento cristão, não podemos em nenhum momento nos equiparar à negatividade de intenções que motivou o crime, buscando de alguma forma efetiva minimizar os efeitos do ato frente às vítimas, e a reeducação dos culpados, tratando-os com a mesma tolerância com que gostaríamos de ser tratados frente aos nossos erros, que já cometemos ou que viermos a cometer, porque não sabemos, de fato, como reagiríamos frente as situações que motivaram aos nossos companheiros de jornada se desviarem do caminho do bem.



Não combateremos o mal com mais mal, não extinguiremos o ódio com mais ódio, apenas na transformação de sentimentos, aos poucos, gradativamente, mas de forma evolucional, iremos fazer com que a nossa sociedade se torne mais justa e segura, em uma divisão melhor de renda, de direitos, de oportunidades, onde o mais forte venha não oprimir, mas sim, auxiliar ao mais fraco, para que ele de alguma forma também se veja capacitado a crescer e melhorar como individualidade.



Para vivermos, como muitos o desejam, em uma sociedade onde o mérito pessoal seja o único parâmetro para definir posições, precisamos dar o direito igual de todos terem o acesso ao básico, ao mínimo das condições exigidas para as conquistas a que todos almejam, caso contrário, continuaremos vivendo uma sequência onde, os opressores e seus descendentes, continuarão a oprimir aos oprimidos e sua prole, fato que acaba por gerar, em muitos, a revolta, o ódio, quando passam a querer tomar pela força aquilo que julgam ser seu também de direito, gerando mais violência, mais divisão, mais medo, em um problema de difícil solução, por sua indevida continuidade.



Há sim, muitos que conseguem superar suas dificuldades e vencer, conquistando um novo patamar social, porém poucos são os que conseguem manter a disciplina e a determinação necessária para tal, ainda mais que paralelamente precisam se dedicar a satisfação de suas necessidades imediatas, assim como dos entes queridos que estão sob sua responsabilidade.



Desvios de personalidade todos nós os temos, independente de classe social, há pessoas honestas entre ricos e pobres, há mal intencionados na opulência ou na miséria, o que precisamos, como sociedade, como coletividade, para que venhamos a tornar o nosso planeta um mundo mais justo, é revermos os conceitos e os valores que devem nortear nosso íntimo, tornando como prioridade não as conquistas materiais, mas as da nossa personalidade, onde a fraternidade, o bem, a caridade, a amizade, a lealdade, e o amor sejam tônica constante em nossas escolhas, nas nossas ações, na nossa postura.



Precisamos compreender que cada um de nós enfrenta uma situação única, gerada provavelmente nas consequências de nossas ações pretéritas, desta ou de outras existências, precisando assim, não se conformar, mas compreender que as dificuldades existentes são para ser enfrentadas com dignidade e submissão, tudo fazendo para melhorar, não apenas em relação a extinção do problema, mas no fortalecimento da coragem em enfrenta-lo, em suporta-lo, e logo que possível supera-lo.



Aprendendo a perdoar e relevar, a compreender e aceitar nossos irmãos do caminho como são, estaremos mais prontamente capacitados para, de fato, auxiliar para que a nossa sociedade evolua, cresça, buscando em conjunto soluções para que todos venham de alguma forma a ser beneficiados, para que tenham amplas possibilidades de remissão, de renovação, de recomeço, algo afinal que todos, sem exceção, precisamos, já que, repetindo, como Jesus tão bem colocou, não há ninguém entre nós que esteja em ampla e total condição de atirar a primeira pedra, e na verdade, nem mesmo a última.




O melhor é que, não podendo atirar, também não corremos o risco de vir a ser atingidos, perdoando e sendo perdoados, auxiliando e sendo auxiliados, como deve ser em um mundo onde todos devem, de fato, aprender a se chamar, entre si, de irmãos.   

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