quarta-feira, 9 de março de 2016

Nosso lar, nosso santuário...




Nosso lar, nosso santuário, assim deve ser, assim, deveria sempre ser.



Estamos em um mundo de expiações e provas, e, consequentemente, ainda na busca do equilíbrio individual, e do aprendizado e entendimento na relação com nossos irmãos do caminho, essencialmente, na aceitação das diferenças e dos estágios evolutivos já conquistados, e ainda por conquistar por cada um de nós.



Em nossas imperfeitas existências pretéritas muitas dívidas contraímos para com o próximo, da mesma forma que muitos estão a nos dever, por crimes, ofensas, agressões, traições, reciprocamente realizadas, já que sempre no saldo geral, não há devedores ou credores, agressores ou agredidos, mas sim, etapas diferenciadas onde em cada uma delas, quando ainda não aprendemos a vivenciar o sentimento cristão do amor e paz, acabamos por alternar estas posições, por não conseguirmos ainda sinceramente perdoar aqueles que nos prejudicaram, assim como ainda não possuímos a humildade suficiente para, por nossa vez, pedir o perdão àqueles a quem ofendemos.



Assim, sem mesmo darmos conta, por um longo e indeterminado período de nossa jornada evolutiva, vivemos todos com mínimos avanços, presos a uma contínua corrente onde, de injustiçados, praticamos a injustiça, de vítimas passamos a algozes, até que pelo menos uma das partes desperte para a Verdade Cristã, vencida pelo cansaço, pelo sofrimento ininterrupto, pelo desgaste que o círculo vicioso do erro traz, o afastando de qualquer possibilidade de reajustamento e renovação.



O lar, pela proximidade e intimidade com que ficamos com aqueles que nos auxiliam a compô-lo, é um dos principais locais onde poderemos aparar estas diferenças, lutando pelo perdão unilateral ou recíproco, quitando nossos débitos com nossos desafetos, com nossos adversários, com aqueles a quem ofendemos ou prejudicamos, com os que assumimos dívidas a serem pagas e reincididas.


Este é o motivo que, por vezes, sob o mesmo teto, pais, filhos, irmãos, cônjuges, sintam tantas dificuldades de convívio, unidos pelos laços de sangue ou não, onde barreiras parecem ser levantadas para que não haja a harmonia e a paz que teoricamente deveria vigorar, onde muitos se veem com inveja, com medo, com rancor, com prevenção, com desconfiança, mesmo que nada aparentemente tenha ocorrido em algum dia, de suas atuais existências, para que tais sentimentos prevalecessem.



Este é um dos motivos de vermos e, nos assombrarmos, com notícias onde pais abandonam ou tiram a vida de seus filhos, ou de filhos que por mais amor que recebam venham a odiar ou desprezar a seus pais, onde irmãos se tornam rivais, onde a convivência se torna difícil, e, em muitas situações, insustentável.



Porém, é fato, que por mais difícil seja a prova que tenhamos a enfrentar, por mais dolorosa possa vir a ser a expiação, individual ou coletiva, o fardo que temos a carregar nunca será superior as nossas forças, o que deixa claro que nada justificará nossos atos, caso venhamos a nos portar de forma agressiva ou ofensiva com alguém que vive em nosso lar, em nossa família, na relação mais íntima de nossas amizades, quando teremos sempre a oportunidade de superar qualquer aversão, qualquer sentimento contrário ao bem, sendo que, quando a eles nos entregamos, o fazemos por nossa livre escolha, presos ainda aos sentimentos inferiores que trazemos vivos dentro de nós, fazendo com que, consequentemente, mais uma vez venhamos a falir na oportunidade de renovação e reconciliação com o nosso passado culposo.



Se precisamos lutar para que nossas ações e reações, em nossa existência comum, se baseiem sempre nos conceitos e exemplos cristãos, se é sincero o nosso desejo de transformação para o bem, maior ainda deverá ser esta luta quando tratarmos, especificamente, do nosso lar, da nossa família, de todos aqueles que desfrutam de nossa intimidade e de nosso convívio diário, em inúmeras situações de interdependências, de troca de sentimentos, onde o aprendizado da vida se faz também em grupo, com aqueles que algo nos doam, e que por nossa vez, algo doamos.



Quando formamos uma família no plano físico, esta, na maioria dos casos, já foi formada antes, no plano espiritual, quando começamos a tomar ciência do que precisaremos e deveremos enfrentar e realizar para o nosso avanço como individualidade, assim, o convívio com nossos adversários, com quem são nossos credores ou devedores, já é de nosso conhecimento, já trazemos em nós de forma intuitiva, sendo para tal, devidamente preparados para não sucumbir, o que faz com que sejam de nossa inteira responsabilidade, assim como também deles, os frutos que serão colhidos no futuro, decorrentes deste convívio, podendo ter se estabelecido a paz e a concórdia, ou, infelizmente, como em muitos casos, verem agravadas suas recíprocas dívidas.



Por mais seja difícil um relacionamento íntimo entre aqueles que por algum motivo se sintam incomodados com a presença do outrem, dependerá sempre dos sentimentos que vivenciarem e alimentarem para que a situação venha a ser, ao final, benéfica ou não, para um ou para ambas as partes, porque aquele que alimentar o perdão, a bondade, a caridade, a boa vontade, aquele que estiver disposto a aceitar as diferenças, a tolerar o que não gosta no outro, em lutar para vencer a aversão que sente e aos poucos transformar este sentimento em simpatia, em respeito, em tolerância, em amizade, e até mesmo em amor, conseguirá vencer a si mesmo, rompendo a corrente inferior que o ligava a seu antigo desafeto, aprendendo a tê-lo como a um irmão, alguém merecedor de seu carinho, do melhor de seus sentimentos, até mesmo quando ainda não seja recíproco este tratamento.



A luta é coletiva, mas a vitória será sempre individual.



Em contrapartida, assim também será em relação a derrota para aquele que, preso ao seu passado culposo, sucumbir, deixando-se mais uma vez levar pela vaidade, pelo ciúme, pela inveja, pelo egoísmo, pelo orgulho, vindo a alimentar o ódio, o desprezo, a revolta, para com aqueles que mais merecedores seriam de seu afeto, aqueles que nasceram e convivem sob o mais sagrado dos tetos, o do próprio lar.




Amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a nós mesmos, esse será sempre o melhor caminho para avançarmos, para evoluirmos, para transformarmos tudo a nossa volta, inclusive, o ambiente onde vivemos, o nosso lar, fazendo dele um refúgio de paz frente a guerra que precisamos enfrentar em nosso dia a dia por nossa subsistência, aprendendo a ser valorosos tarefeiros das forças do bem, não mais enxergando em nenhum companheiro de jornada, dentro ou fora de nossa casa, um adversário a ser batido, um inimigo a ser exterminado, mas sim, a um irmão que merece o nosso respeito, que merece o que de melhor temos a ofertar, trazendo vivo dentro de nós a esperança que o bem será sempre a força motriz a nos fazer caminhar e juntos avançar.       

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