Como
de hábito na vida comum diária, quando encarnados, ao analisarmos noticiários
advindos dos meios de comunicação ou das redes sociais, dos relatos de amigos,
dos fatos presenciados por vizinhos, em nosso trabalho, nas situações
cotidianas na rua, com conhecidos e desconhecidos, logo que dispomos das
primeiras informações ou manchetes, tratamos de traçar o perfil dos envolvidos,
rotulando vítimas e agressores, culpados e inocentes, argumentando pela acusação
e pela defesa, nos posicionando como jurados, testemunhas, e muito comumente, como
juiz, e se nos fosse permitido, como o carrasco a fazer cumprir a pena.
Não
paramos na maioria das vezes nem um segundo sequer para analisar o que poderia
ter motivado tal ou qual ação e reação, qual a origem dos fatos, qual o momento
único que cada um dos envolvidos está vivendo, quais os problemas que ele pode
estar enfrentando ou já enfrentou, qual a origem de seu desequilíbrio, e se ele
é constante ou apenas motivado por situações circunstanciais, algo tão comum de
acontecer com todos nós, quando em determinado momento nos deixamos levar por
sentimentos que não são aqueles que mais valorizamos, mas que, por razões específicas,
tenham sido aqueles que naquele instante externamos, vindo em boa
parte das vezes, logo de imediato, a nos arrepender, ainda mais quando nossa ação
tenha magoado ou prejudicado a alguém de forma leviana ou injusta.
Jesus
recomendou e exemplificou que não devemos julgar para não sermos julgados, e
que, com o mesmo peso que a isso fizermos seremos tratados, deixando claro essa
posição equivocada que acostumados estamos a assumir, quando nos alertou que
temos por hábito enxergar um cisco no olho do nosso irmão do caminho enquanto
ignoramos um poste que esteja dificultando a clareza da nossa visão.
Motivados
pelo orgulho, pela vaidade, não conseguimos enxergar que a maioria das coisas
que condenamos no próximo, ou que julgamos, também nós, no fundo, alimentamos,
e se tivéssemos vivendo a mesma situação que ele, talvez, por nossas imperfeições,
nossa reação viesse a ser ainda mais condenatória ou violenta, covarde e
submissa, dependendo daquilo que estiver sendo a notícia que tão bem gostamos
de comentar e divulgar.
Nosso
tempo e nossa energia são bens preciosos que devem ser cuidadosamente utilizados
para nossa renovação, nossa evolução, para realizações produtivas e positivas,
em vez de os desperdiçarmos com comentários, relatos, discussões estéreis e contraproducentes
que em nada nos acrescentarão, e o pior, em nada modificarão a situação alvo de
nossa atenção, quando passamos a supervalorizar o mal, o erro, o crime, gerando
em nosso íntimo energias negativas, inferiores, criando quadros mentais tão
deploráveis como as situações que estamos comentando, gerando ao nosso redor um
ambiente pesado, atraindo entidades espirituais afins, que gostam tanto do
negativismo dos nossos sentimentos, como se aproveitam para se divertirem,
alimentando nossa maledicência e o nosso hábito doentio de nos preocuparmos
mais com a vida dos outros do que com a nossa, de nos colocarmos na posição de
donos da verdade, de censores, de juízes, sem conseguir enxergar o quanto,
diariamente, produzimos de mal, e deixamos de produzir relativo ao bem.
O
mal por si, já faz muito estardalhaço, já se põe muito em evidência, porque é
exatamente por este meio que ele se alimenta e cresce, quando divulgado,
noticiado, comentado, valorizado, gerando no ambiente mental individual e
coletivo, um clima de insegurança, de revolta, de medo, de ódio recíproco,
quando na defesa das pretensas vítimas passamos a desejar uma punição
proporcional ou até mesmo mais dolorosa do que a sofrida, ao agressor, não dando espaço para
que sejam tomadas medidas relativas a prevenção, a renovação, preferindo ainda
alimentar o ensinamento mosaico que elege o "dente por dente e olho por olho" como prioridade, quando insistimos em deixar para segundo plano o sentimento do
Cristo, que enaltece a emergencial prioridade de amarmos ao próximo como a nós
mesmos, de perdoar não sete, mas setenta vezes sete, de perdoarmos ao nosso
inimigo e com ele nos reconciliarmos enquanto estivermos no caminho, deixando
claro isso ao afirmar que não veio até nós curar aos sãos e sim aos enfermos, e
ninguém está mais enfermo do que aquele que se entrega de forma deliberada e
consciente ao mal.
Devemos, sim, combater ao mal, mas sem supervaloriza-lo e enaltece-lo em nossos
pensamentos e palavras, devemos deixar viva nossa justa indignação para não
sermos em nenhum momento coniventes ou submissos, mas precisamos combate-lo com
as armas do bem, do amor, da paz.
Precisamos,
sim, ainda em nosso atual estágio evolutivo, segregar da sociedade aqueles que
oferecem risco para a paz coletiva, mas tratando-os de forma cristã, oferecendo
possibilidades de recuperação, formas que venham a ocupar sua mente e seu
corpo, proporcionando estudo e trabalho para que eles aprendam a isso
valorizar, sendo eles próprios os responsáveis por sua própria subsistência.
Acima
de tudo, precisamos agir de forma preventiva, auxiliando na educação, no amparo
aos mais necessitados, no garantir o mínimo de condições de subsistência para
todos, dando a certeza que com o seu próprio suor, cada pai e mãe de família
poderá dar uma vida digna para seus filhos, possibilidades de lazer, de
conforto, de saúde e de educação.
Entretanto,
como individualidade eterna, nossa maior responsabilidade começa não fora, nem
mesmo em nosso lar, mas sim, dentro de nosso próprio ser, de nosso coração, de
nosso espírito, lutando diariamente por nossa renovação, pela transformação de
nossos sentimentos, pela mudança de nossa postura, passando a combater, essencialmente,
aos nossos defeitos, as nossas imperfeições, nos preocupando mais em analisar,
comentar, apontar, aos nossos erros, e não aos do próximo, determinando o que
poderemos fazer de realmente útil para auxiliar no engrandecimento de nossa
sociedade, do mundo onde vivemos, mesmo que limitados em nossa ação.
Cada
qual vive um momento único evolutivo, porém com circunstâncias idênticas quanto
a generalidade de posturas, variando apenas a situação a qual estivermos atravessando,
todos erramos e acertamos, todos fazemos algo de bom e de ruim, todos temos
qualidades e defeitos, e quanto mais nos voltarmos para nossa própria renovação,
mais teremos condições de auxiliar na renovação do todo, principalmente porque
começaremos a enxergar ao próximo com outros olhos, sob outro prisma, começaremos
a enxergar o mundo de forma cristã, quando, de fato, nos tornarmos cristãos,
vendo tudo sob a ótica do amor, única fonte capaz de nos levar a encontrar a
verdadeira felicidade e de superar a qualquer obstáculo, aprendendo a calar
quando nada de útil tivermos a falar, e tudo fazer sem esperar, indo ao encontro
da bendita tarefa de servir, no bem.
E só para concluir, nada como mais um pensamento cristão, já que é no Cristo que encontramos o caminho, a verdade e a vida, e que cada um de nós busque compreender a este pensamento deixando de enxergar na pessoa adultera não um criminoso a ser abatido, e sim a um irmão a ser amado:
"Aquele que estiver sem pecado que atire a primeira pedra"
E quem está? Eu não...
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