Várias
vezes enfrentamos em nossas existências dolorosas situações que não conseguimos
compreender a sua causa, a sua origem, ainda mais quando nosso proceder está condizente
com o de um homem de bem, quando já buscamos superar e evitar nossas tendências
inferiores, não nos prendendo a vícios, tentando controlar sentimentos menos
nobres, como a impaciência, a intolerância, o pessimismo, a revolta; sendo pacíficos
quando indignados, vencendo preconceitos, não nos enredando em críticas ou julgamentos ao próximo, ou seja, buscando ser uma pessoa digna, na atual sociedade em
que vivemos.
Assim,
por estas razões, por nossa disposição de evitar novas causas que nos levariam
a recalcitrar, a repetir erros que já tenhamos cometidos nesta ou em outras existências,
por nosso esforço constante e sincero de assimilarmos e vivenciarmos os
ensinamentos e exemplos do Cristo Jesus, dentro dos preceitos da Doutrina Espírita,
acabamos por cair no erro de questionarmos do porquê adversidades, fora do nosso alcance de solução imediata, nos perseguem, do porquê a dor, o sofrimento, os
problemas, as enfermidades, os fracassos, nossos ou de nossos entes queridos
mais caros, nos aflijam, isso tudo logo agora, que nos dispomos a ser pessoas melhores,
dedicando nossa energia, nosso tempo, nossa vontade para efetivar estas
conquistas em nosso íntimo e na nossa postura diária.
Somos,
entretanto, seres eternos, já vivemos outras vidas, e outras existências viveremos,
assim como inúmeros estágios mais ou menos longos passamos e passaremos no plano
espiritual, nossa verdadeira pátria, e desses períodos, o Espiritismo nos
esclarece que tudo de bom ou de ruim, tudo que gerarmos, terá sempre o efeito
proporcional para que colhamos aquilo que plantarmos, para que assumamos a
responsabilidade por nossas ações, nossos pensamentos, nossas palavras, por tudo
que fizemos, e por tudo que deixamos de fazer, de positivo ou de negativo, durante
essa jornada infinita.
Da
mesma forma, porém, eterna é a bondade divina, e Deus, longe de ser o juiz implacável
e vingativo que muitas frentes religiosas buscam nos impor, nos ameaçando em
seu nome de punições acerbas por nossas faltas, por sentenças inapeláveis e
finais para que os que não se arrependem antes da morte física, Ele nos possibilita, ainda dentro deste conceito de eternidade,
infinitas possibilidades de reparação, de ressarcimento, de renovação, sendo
sim, doloroso o nosso retorno ao caminho do bem quando dele nos distanciamos,
mas não por decreto divino ou das forças superiores que regem nossos destinos,
mas sim, levados por nossa própria culpa, nossa própria mente, que nos arrasta para o nosso particular choro e ranger de dentes, não para um inferno criado
por um ser maléfico, mas um criado pelo nosso desespero, pelo nosso próprio
remorso destruidor, ou pelo ódio, pelas paixões degradantes, pelos vícios, que
preferimos e insistimos em eleger como prioridades para nós.
Sendo
assim, tudo tem seu tempo, tudo tem a sua hora, e inferiores que somos, e que
fomos, natural que nosso passado culposo constantemente ainda bata a nossa porta,
nos impelindo a corrigi-lo, a repara-lo, principalmente, para que possamos
estar em paz com nossa própria consciência, essa, sim, juíza implacável, não
nos deixando encontrar o pleno equilíbrio enquanto sentirmos em nosso íntimo,
mesmo que no período que o véu do esquecimento nos impede de tudo recordar,
quando encarnados, que estamos em débito com a harmonia geral, assim como com
irmãos específicos a quem em algum momento viemos a prejudicar, ou por sua vez
nos prejudicaram, com dívidas ainda em aberto, aguardando sua plena quitação.
Assim,
se hoje somos plenamente ativos no bem, no amor, na caridade, se buscamos ser
pessoas de bem em tempo integral, não podemos olvidar que nosso passado, de
outras vidas, provavelmente, por estarmos em um mundo de provas e expiações,
deva conter inúmeros erros a serem corrigidos e contas a serem acertadas, o que
justifica e explica, toda e qualquer dificuldade e adversidade que venhamos a
enfrentar que não depende de nossas ações e escolhas atuais, onde entra a nossa
fé em Deus, e a certeza de que nada é por acaso, nos resguardando na promessa
do Cristo que não haverá fardo superior as nossas forças, e que para vencermos,
precisamos sim, carregar com coragem e determinação a nossa própria cruz.
Se
tudo que precisamos enfrentar está dentro de nossa capacidade de suportar e
superar, que não venhamos a desfalecer em nossa atual postura de renovarmos nosso
proceder, não dos deixando arrastar pelo desânimo, pela revolta, nos
conscientizando que tudo pode estar relacionado com nosso passado culposo, e
servindo de possibilidade de correção e de ressarcimento, e mesmo que assim não
o seja, fica a possibilidade de aprendizado, de melhoramento como ser humano,
agregando o que de positivo poderemos tirar de cada situação, por mais adversa
que seja, aproveitando as experiências que a vida nos oferece para crescer,
para evoluir, para nos fortalecer ainda mais para novos embates que, muito
provavelmente, ainda teremos pela frente a superar.
Que
sejamos firmes em nossa resolução no bem, não nos deixando arrastar pelo desânimo,
pela revolta, pela mágoa, pelo medo, pela dúvida, pela tristeza, portas abertas
para que influências inferiores nos arrastem a novos erros, a novos crimes, com
fantasiosas promessas de felicidade e de melhoria, geralmente baseadas nas paixões,
nos vícios, na imposição equivocada de nossa vontade sobre irmãos do caminho
que consideramos mais aquinhoados que nós, nos perdendo mais uma vez no egoísmo,
na vaidade, no orgulho falsamente interpretado.
A
cada passo dado mais próximos estaremos do equilíbrio, e mais fortalecidos para
nos tornarmos fontes geradoras de energias no bem, nos capacitando a assumir
maiores e mais representativas responsabilidades, nos afastando gradativamente
do nosso passado culposo, transformando nosso presente, com novas e mais promissoras
sementes para o nosso futuro de amor e de paz, que assim seja!
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