Vítimas
e algozes, perseguidores e perseguidos, agressores e agredidos, traidores e traídos,
quando intimamente ligados por sentimentos, juntos já caminham a várias existências
e experiências, assim como nós com nossos desafetos, com aqueles que mais temos
dificuldades de convívio, ou que nos rondam, estando agora na espiritualidade,
incapazes ainda de nos perdoar, como nós também ainda não os aceitamos,
deixando sempre um rastro de negatividade, de aversão, de incompatibilidade de
gênios, a cada interação, a cada aproximação mais íntima, aproximação esta que
muitas vezes consideramos que a vida insiste em nos imputar, por mais que não a
desejemos, nos forçando a convivência e ao compartilhamento de sentimentos e
situações.
Ainda
agora, nós, como espíritas, como cristãos, sentimos intensa dificuldade,
criando inúmeros obstáculos, para aceitar passivamente e de forma pacífica, o
convívio com aqueles que intimamente sentimos aversão, e que fazem parte de
nossa existência nesta experiência física, na posição de parentes, de
companheiros de trabalho, de vizinhos, de companheiros e companheiras de nossos
filhos e filhas, de nossos irmãos, daqueles que somos obrigados por circunstâncias
sociais e afetivas a conviver.
Nos
referimos anteriormente especificamente aos espíritas, porque estes, se
estudiosos e cônscios dos preceitos que formam o corpo da Doutrina que dizem
ser seguidores, devem ter plena consciência que, pela lei da reencarnação e a
consequente e benéfica necessidade de reparação de erros antigos, de
ressarcimento de dívidas, de reajustes íntimos, normal se faz que na nova vida carnal
venham a se aproximar de irmãos do caminho com quem já tenham tido, em experiências
pretéritas, situações negativas e de caráter inferior, antigos desafetos,
adversários, onde a mágoa, o rancor, a decepção, independente de quem tenha
sido o causador, ainda se encontram vivos no íntimo de todos, sendo, por isso, inclusive, o objetivo
maior do reencontro, exatamente, para aparar as arestas, curar as chagas, balsamizar as feridas, aprendendo a conviverem de forma pacífica e salutar, ainda que
esta conquista tenha que vir de forma gradativa e morosa, dado as circunstâncias,
onde o esquecimento temporário põe em evidência apenas os sentimentos mais íntimos
que ainda não conseguimos plenamente controlar e transformar, ligados a
inferioridade humana, como o orgulho e o egoísmo.
Independente
se há ou não vínculo pretérito, pois em muitas vezes a aversão natural que
sentimos por alguém venha apenas da incompatibilidade fluídica, da diferença de
gostos, de desejo, de postura, de preferências, se desejamos, de fato, renovar
o nosso íntimo, e passar a agir e reagir, em qualquer circunstância, de forma
cristã, precisamos aprender a buscar dentro de nós a compreensão, a tolerância,
e, principalmente, o respeito, passando a aceitar ao próximo como ele é, como
ele pensa, como ele age, ainda que vá contra a nossa forma de ver a vida, ainda
mais se este for do nosso convívio íntimo, que faça parte do nosso círculo
familiar, social, profissional, ou que tenhamos que conviver diariamente com
ele ainda que de forma superficial.
Evidente
que não poderemos ter o mesmo grau de afeto por aqueles com quem não nos
afinamos do que temos com nossos entes queridos e amigos, porém, disciplinando
nosso proceder, poderemos aprender a não termos nenhum tipo de prevenção, de
preconceito, de prejulgamento com aquele que não nos agrada, buscando encontrar seu lado positivo, aquilo que de bom ele traz e que poderemos agregar a
nossa personalidade, pois, todos nós temos nossos defeitos e qualidades, nossas
inferioridades e nossa positividade, o que nos torna únicos na coletividade,
mas ao mesmo tempo, solidários nas situações vividas, nas experiências adquiridas,
e no aprendizado coletivo.
Por
isso se faz mister, como em qualquer situação que possamos vir a enfrentar em
nossa existência, a preeminente necessidade de assimilarmos e vivenciarmos os
ensinamentos e exemplos do Cristo, onde o perdão, a caridade, a compreensão, a
humildade, a simplicidade, a paz e o amor estejam sempre em evidência, onde Ele manda-nos equiparar a distribuição dos sentimentos mais nobres que temos que desenvolver para todos, utilizando e generalizando a figura do "próximo", sem exceções, sem privilégios, sem fatores
condicionantes ou limitantes, não nos permitindo assumir posição de juiz ou de
réu, nos igualando em necessidades, principalmente ao sugerir que atirasse a
primeira pedra apenas aquele que estivesse sem pecado, e não o há.
Não
é fácil perdoar ou conviver com que nos afinamos, ainda mais se este também não
gosta de nós, porém, o atual estágio de nosso planeta não permite que as coisas
sejam de outra forma, e se há situações que se tornam inadiáveis, que busquemos
as enfrentar sempre com otimismo e fé, com alegria e determinação, pois se há a
possibilidade de conflito, não sejamos nós a origem, pelo contrário, tudo
façamos para que este não venha a ocorrer, buscando nos colocar no lugar de
nosso irmão, tentando enxergar a situação como ele vê, dentro das condições de
sua existência, para que assim, quem sabe, venhamos a enxergar os fatos sobre
outro prisma, até mesmo vindo a compreender melhor a forma dele agir.
Aquele
que busca o bem, que se determina a seguir os preceitos cristãos, se fortalece
contra os ataques do mal, e o melhor, evita que venha a ser o instrumento
das forças negativas, não sendo ele o agente causador da mágoa, da traição, da
agressão, se resguardando dentro da fraternidade e da caridade, tendo como
suporte, se assim agir e persistir, as forças espirituais do bem, seus
protetores e mentores espirituais, sentindo-se cada vez mais capaz para não se
deixar envolver por nenhum tipo de negatividade, vindo a conviver de forma pacífica até mesmo com aqueles que ainda não tenha a harmonia espiritual
necessária e ideal.
Existirá
situações que a agressividade daquele que nos considera seu desafeto poderá
superar toda e qualquer noção de respeito e civilidade, aja ele abertamente ou
por meios escusos, o que nos forçará, em defesa a nossa integridade e nosso
objetivo de vida, a nos afastar e nos precaver de todas as formas possíveis de
sua negativa influência, porém, o que mais se levará em conta, em relação a
nossa proposta de renovação no bem, é a forma como reagiremos, se proporcional e
equitativa ao que ele tenta nos impor, com o mesmo sentimento inferior, ou, se
de forma equilibrada e pacífica, nos preocupando apenas em nos defender e o afastar, sem devolver o mal com o mal, sem desejar que ele venha a sofrer com
suas inconsequências, mas sim, torcendo que ele o mais prontamente possível
desperte para suas necessidades cristãs, íntimas, o perdoando, lhe mandando
pensamentos de paz e amor, e quando possível, tudo fazendo para algo auxilia-lo
para sua própria transformação para o bem, único caminho que nos levará a
verdadeira felicidade.
Reconcilia-te
com teu inimigo enquanto estiver no caminho com ele.
Fica
aí o desafio para todos nós, que vençamos!
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