Temos o vício, a tendência, de julgar, de
questionar, a conduta e a postura de nossos irmãos do caminho, e se agora algo tentamos
fazer em prol do bem e das Verdades Eternas, não podemos esquecer que isso
ocorre depois de vidas, séculos, perdidos em desequilíbrios e desatinos, que
até hoje, temos dificuldade em sanar. Precisamos estar sempre atentos e levar
em consideração, neste período de transformação espiritual a que nos dedicamos,
o que Jesus Cristo, em diversas passagens, nos advertiu, chamando a atenção
para que, por amor, por respeito, por caridade, para com todos aqueles que cruzarem
nossa caminho, soubéssemos compreender e aceitar os diferentes estágios
evolutivos em que cada um se encontra.
“Não julgueis afim de não seres julgados”
“Aquele que estiver sem pecado que
atire a primeira pedra”
“Vês a palha no olho do teu irmão e não enxergas a
trave que te prejudica a visão”
“Perdoais a fim de seres perdoados”
Se não nos preocupássemos tanto em julgar, em
alimentar preconceitos, conseguiríamos, com muito mais probabilidades, entender
e amar o nosso próximo, enxergando além da máscara que ele assume para se
defender e agir quando na sociedade, onde por vezes, ele cai, ele fracassa, por
um ato, uma palavra, uma ofensa, um crime, que comete em momento de desespero,
de dúvida, de falta de vigilância, erros que muito provavelmente também
cometeríamos se nos encontrássemos em situações idênticas a dele.
Quanto mais julgamos, mais nos afastamos do nosso
irmão do caminho, assim como fez o sacerdote quando, na parábola do bom
samaritano, se afastou afim de não se envolver e ser confundido com o que ele
julgava ser o mal, onde na verdade havia simplesmente um ser humano precisando
de ajuda.
Um malfeitor, um agressor, um vizinho nervoso ou um
parente agressivo, estão muitas vezes passando por sérios problemas físicos ou
espirituais, que os levam a cometer os mais graves crimes, os mais agressivos
desatinos, e mesmo não corroborando e não acumpliciando o mal, devemos ter a
atitude e a postura cristã, que são, nessas oportunidades, fundamentais para
que não julguemos, não nos envolvamos emocionalmente na questão, e com
discernimento e bom senso, procurarmos fazer o de melhor, o de mais produtivo para
auxiliar na recuperação de nosso irmão.
Dependendo do grau, da intensidade da situação, um
conselho, um abraço fraterno, uma orientação, uma ajuda material, disponibilizar
nosso tempo e nossa energia para auxiliar, podem fazer com que ele repense e
recue em suas atitudes e ações negativas.
Nós temos que fazer a nossa parte para auxiliar
todo e qualquer companheiro de jornada, colocando os resultados, as
consequências, sempre nas mãos de Deus, que sabe sempre o que é melhor para
cada um de nós.
Se Jesus fosse tomar como base as atitudes daqueles
que eram seus companheiros, seus discípulos, seus acusadores, onde o medo por
parte de alguns, o desprezo e ódio por parte dos outros, levaram-no ao
Calvário, poucos restariam para poder contar a história daquela época, tal o
que Ele poderia ter feito com seu poder e seu conhecimento espiritual, se fosse
reagir como nós, “paladinos da justiça”, frente aqueles que se afastam do bem
em nossa sociedade. Nós, no lugar do Mestre, em situação similar, gritaríamos
por justiça, buscaríamos o poder dos homens e de Deus para sermos auxiliados,
salvos e devidamente ressarcidos e respeitados, enquanto que Ele, do alto da
cruz, no limite do seu martírio, docemente apenas pediu ao Pai que perdoasse a
todos, sem exceção, sem condicionantes, porque eles não sabiam o que estavam
fazendo e ainda teve tempo de socorrer espiritualmente a um dos malfeitores que
expirava ao seu lado, descortinando a ele em seu último suspiro a certeza da
existência de um mundo melhor, onde não somos julgados e nem excluídos, presos
ou condenados, onde nos amam e onde tudo é feito, para que, mais prontamente
possível, nos recuperemos e voltemos abraçar a novas oportunidades de
crescimento, de elevação, de resgate e ressarcimento de nossas dívidas.
Infelizmente, anda hoje, como espíritas, ainda não
só julgamos, como prejulgamos trabalhadores, artistas, desportistas,
celebridades, crimes e criminosos, nossos amigos, nossa família, nosso lar,
nosso trabalho. Julgamos as pessoas por suas ideias ou por seu silêncio, por
sua riqueza ou por sua pobreza, por sua coragem ou por seus medos, por seu
status social ou por sua exclusão da sociedade, por sua religião, por sua
atitude política, por sua visão do mundo, nos convencendo que, por algo
sabermos do evangelho, da codificação espírita, dos seus ensinamentos, já
estamos aptos à separar o joio do trigo, o bom do ruim, o certo do errado,
simplesmente por algo já nos consideramos superiores, mais informados, melhores
preparados. Ilusão, pura e destrutiva ilusão.
Nunca saberemos o que se esconde por trás de um
sorriso, de uma lágrima, de uma fuga, de uma agressão, de um crime, de um
suicídio, é apenas a insistência de nos escoramos em nosso conhecimento, em
nossa vaidade, em nosso orgulho, em acharmos que tudo que fazemos é o certo,
que tudo que nossos irmãos enfermos realizam é errado, é desnecessário, que faz
com que viciemos a nossa conduta atual, para determinar e julgar, a conduta do
próximo. Se nós já conseguimos superar um vício, achamos que ele também tem a
obrigação de logo superar, se não mais somos impacientes, consideramos que ele
tem a obrigação de também tentar deixar de ser.
Se Jesus julgasse todos os nossos atos com a mesma
severidade que costumamos julgar os atos do próximo, talvez estivéssemos mesmo,
como no passado tentavam nos convencer, todos condenados a um inferno de chamas
eternas, sem remissão, porque Ele tudo conseguiu, Ele tudo ensinou e ainda
assim permanecemos excepcionalmente distantes de Sua capacidade de amar, de
realizar, de construir.
Temos que ler e reler insistentemente até que
consigamos, não só entender, mas incorporar seu significado em nosso espírito
eterno, a mais sensível e profunda Verdade que o Mestre nos apresentou e ai,
talvez, nós consigamos recomeçar a agir como um verdadeiro cristão, como um
verdadeiro espírita:
“Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como
a si mesmo”
Comecemos por nos amar, transformando nossos
séculos de erros e indecisões, em outros tantos, de amor, de trabalho e de
realizações, permitindo que nosso irmão também encontre por seu próprio
esforço, seu caminho, sua paz.
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