Independente do estágio evolutivo em que nos encontramos, quando ainda não respirando ares
da espiritualidade superior, aspirantes ao bem ou ainda entregues aos vícios,
as paixões degradantes, aos sentimentos inferiores, temos por hábito, levados
pelo orgulho, pela vaidade, nos acharmos aptos a julgar, a analisar, a
comentar, e invariavelmente, a condenar, o proceder do próximo, vindo exatamente
a agir de forma contrária ao conceito cristão que nos alerta quanto a
enxergarmos uma palha no olho do nosso irmão do caminho, e não nos atentarmos a
trave que obscurece a nossa visão, a nossa maior capacidade de percepção.
Somos,
assim, juízes, censores, delegados, críticos mordazes e ferozes, da vida
alheia, severos em todas as considerações, deixando pouca margem para desculpas
e justificativas, paladinos da verdade e da justiça, querendo e desejando que o
próximo, viva, pense, faça, e aja, exatamente de acordo com a nossa realidade,
e, principalmente, de acordo com as nossas necessidades, com as nossas
prioridades, no antigo vício, egoísta e inconsequente, de considerarmos que
tudo gira ao nosso redor, que tudo e que todos foram criados apenas para satisfazer
nossas vontades e desejos.
Já
em relação a nós mesmos, como pensamos, como agimos, sobre o que e como fazemos,
somos, invariavelmente, brandos, relevantes, benevolentes, tolerantes, sempre
propensos a justificar defeitos, desculpar erros, procurando culpados para
nossos desvios de conduta, isentando-nos da culpa, da responsabilidade, tentando
não só convencer aos outros, mas também a nossa própria consciência, que tudo
que fazemos ou que planejamos fazer, é válido e necessário, e se, quanto a
isso, alguém se sentir prejudicado, lesado, preterido, traído, magoado, quando
não aceitarem nossas desculpas, isso quando o nosso orgulho permitir que elas
sejam pedidas, nada poderemos fazer, quando simplesmente seguimos em frente,
achando que agimos de forma correta, reconhecendo que não somos perfeitos, mas
sem muita determinação e vontade sincera de nos esforçarmos para que um dia
venhamos a ser, guardando no íntimo essa mesma desculpa para o próximo
desatino.
Cada
um de nós vive um momento evolutivo único, tendo como necessidade e prioridade
aquilo que almejamos e aspiramos, de acordo com nossa experiência de vida, com
os sentimentos que dominam e prevalecem em nossa personalidade, tendo uma forma
de encarar o mundo e as pessoas com quem venhamos a travar conhecimento, que determinam
nossas escolhas, nossa postura, nossas ações e reações, fazendo com que nossas
obras, nossas realizações, gerem sempre consequências favoráveis ou
desfavoráveis, de acordo com aquilo que priorizamos para nossa existência.
Motivados
pelas paixões e pelos vícios, por sentimentos inferiores como a inveja, o
ciúme, o egoísmo, a vaidade, o orgulho, a cobiça, ou já propensos a desenvolver
em nosso íntimo os sentimentos nobres do bem, valorizando a amizade, o
respeito, a gratidão, a fraternidade, a caridade, somos ainda, no atual estágio
evolutivo de nossa humanidade terrestre, um misto de sentimentos, de ações, de
escolhas, onde erros e acertos se confundem em uma inumerável quantidade de
situações, onde nos deixamos levar pelo inusitado do momento, deixando
exteriorizar exatamente aquilo que ainda comanda nosso íntimo, por mais que
queiramos ou não melhorar, sempre buscando ainda a felicidade de forma
distorcida, ainda sem a pureza dos sentimentos cristãos, únicos que nos garantirão,
na plenitude, a vitória sobre nossa inferioridade ainda latente e alimentada já
por diversas oportunidades reencarnatórias.
Mesmo
os mais renitentes criminosos possuem dentro de si sentimentos positivos,
criadores, onde mesmo em seu desequilíbrio, tem em seu íntimo alguém a quem
ame, a quem respeite, com quem ele se preocupe, e que ele gostaria de ver
sempre feliz.
Mesmo que vivendo distante do bem, mesmo que ainda pervertido
esteja seu proceder, mesmo que espalhe em sua volta ainda, lamentavelmente, a
dor e o sofrimento para seus companheiros de jornada, haverá algo que o manterá
com a infinita possibilidade de reconsiderar, de rever seu proceder, de fazer
com que se arrependa de seus erros e busque a correção, sempre de acordo com sua limitação atual,
dentro dos parâmetros que ainda dominam e prevalecem em sua personalidade, é um
diamante bruto, que um dia poderá vir a brilhar e iluminar o caminho por onde
passar.
Não
temos condições de julgar e a avaliar toda a extensão da vida de nossos irmãos
para poder aquilatar até onde eles são, de fato, culpados em potencial pelo
erro que cometeram em sua existência atual, porque não conhecemos seu passado,
sua origem, as dificuldades que enfrentou, as companhias com quem conviveu no
período crítico da formação de sua personalidade, seja na existência atual, ou
em anteriores experiências espirituais e carnais, o que de nenhuma forma nos
credencia a sermos, hoje, juízes ou críticos de quaisquer que sejam as
situações por eles criadas, mesmo que em flagrante delito, por mais que suas
ações repugnem nossa razão, como hoje em dia vemos em infelizes relatos jornalísticos,
onde a violência e o desprezo pela vida imperam.
Nada
justifica o mal, e temos sim, quando algo já desenvolvidos intimamente pelos sentimentos da justiça e do bem, nos indignarmos pelo proceder errôneo daqueles
que se entregam ao erro e ao desejo explícito de levar vantagens provocando a
dor e o sofrimento no próximo, o que não podemos e não devemos, é nos deixar
levar por sentimentos idênticos a que os animam, buscando na vingança, na
imposição de dolorosos castigos, o meio de buscar a justiça e a reparação do
erro, ainda mais porque não temos plena consciência do que faríamos nós, se
enfrentássemos uma idêntica situação, desde sua origem, a qual enfrentou aquele
que veio se entregar ao crime.
Não
julgar para não ser julgado, sendo que o seremos exatamente com o mesmo
rigor que julgarmos ao próximo, o que nos faz pensar em tudo que
já erramos, em todos os desatinos que já cometemos, em todo bem que já deixamos
de fazer, e o quanto precisamos de clemência e de compreensão por parte daqueles
que direta ou indiretamente, consciente ou inconscientemente, viemos de alguma
forma a prejudicar.
Com
o mal não devemos em nenhuma situação sermos coniventes, mas não nos cabe o
direito de nos arvoramos de jurados ou juízes, deixando o que é de encargo da
justiça dos homens, que esta venha a corrigir e proceder na ação, e quando não,
deixando sempre à Força Maior que rege nossos destinos, a incumbência de por
tudo zelar, ainda mais que precisamos sempre de sua infinita bondade e
tolerância para com nossos erros, para com nossa teimosia em não aceitar, na
humildade e no amor, o melhor caminho para encontrarmos, de fato, a nossa evolução.
Quando,
então, já um pouco dispostos a melhorar, a crescer espiritualmente, quando
conseguirmos depois de muito esforço, nos livrar e superar um ou outro vício de
conduta que alimentamos por séculos de inconsequentes ações, deixemos de lado a
tendência natural de nos consideramos melhores ou superiores a alguém, não
querendo que o próximo venha a se corrigir prontamente, só porque conseguimos
dar um pequeno passo em nossa reforma íntima, porque se assim procedessem
nossos amigos e benfeitores espirituais, há muito tempo já teriam se cansado de
nossa teimosia e reincidência, e se julgados tivéssemos sido, por eles, da mesma forma que gostamos
de julgar, fatalmente teríamos ainda muito tempo a cumprir em sofrimentos e
penas, sem previsão do alvará de soltura.
Procurar
sempre fazer o melhor, ajudando e auxiliando a que todos nossos companheiros de
jornada venham a ter também a consciência da necessidade de transformação, de
valorização do bem, fazendo como fez o Mestre do Alto da Cruz, pedindo ao Pai
que, quando errarem, os perdoe, porque ainda não sabem o que fazem, assim como
nós, que tanto ainda precisamos e precisaremos do seu amor e do seu perdão,
pelos inúmeros erros que já cometemos e sabemos que ainda iremos cometer, aprendendo
a alimentar em nosso íntimo amor e tolerância, sendo, incansáveis e rigorosos
juízes e censores, sempre e unicamente, de nosso próprio proceder.
Com
muito amor, ainda teremos a oportunidade de transformar a nós mesmos e ao mundo
onde vivemos, todos juntos e unidos em um mesmo ideal, sem deixar ninguém para
trás, tendo a esperança que o amor, que cada um carrega dentro de si
desde sua criação, floresça e frutifique, como deve ser, como precisa ser para
que alcancemos a verdadeira felicidade.
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