quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Um Homem de bem chamado Nelson Moretti

Nelson Moretti foi um motorista de caminhão que conheci  na época que trabalhava no comércio exterior, ligado ao Porto de Santos, era o ano de 2001 e ele, assim como eu, tinha o gosto da leitura, gostava de ir ao teatro, conversávamos muito sobre Espiritismo, pois, sua esposa tinha desencarnado recentemente, e ele ainda se ressentia muito do fato.
Ao saber que eu começara a escrever peças de teatro, fez questão de ir assistir a primeira apresentação e um pouco tempo depois, me trouxe cópia de inúmeros poemas e dissertações que tinha feito na época que perdeu sua esposa, para que, talvez, se eu me interessasse, algo os utilizasse para os trabalhos que iniciava a desenvolver.
A vida nos separou, logo depois ele vendeu seu caminhão e foi para seu amado sítio, que teremos oportunidade de conhecer um pouco, eu, sai da empresa, me desligando do ramo, e o tempo passou, e nunca mais voltamos a nos encontrar.
Na época ele já devia contar com quase setenta anos, e não sei nem mesmo, se ele ainda está em seu sítio ou já foi encontrar com sua Maria.
Cumprindo o que ele me pediu, transcrevo aqui em sua homenagem alguns dos seus textos, atendendo de certa forma o seu pedido, um pouco atrasado na verdade, ou quem sabe não, afinal tudo tem seu tempo, e quem sabe o melhor para nós, não será o agora.
Um abraço meu amigo e vamos lá...


UMA CRÔNICA ETERNA


Chove e lá fora as árvores gotejam como se chorassem por um amor perdido.
Amanhece e nada é igual ao dia anterior, é diferente e fosco.
Levanto-me, revejo os espaços da casa vazia e fria.
Lá fora a chuva continua e a casa goteja pelas bordas suas lágrimas como eu.
No espaço não encontro MARIA.
Não ouço os seus passos.
Não sinto o seu cheiro.
Não vejo MARIA.
Só vejo um espaço, entre o mundo e os meus braços, e os braços de MARIA.
Inerte meu corpo, fixando as paredes, se encosta e esguia.
Retem-se por um instante.
Rebusca mais força.
Procura com os olhos. Examina o ambiente.
E para diante da vida.
Tenta concordar com ela.
Mas a saudade é tamanha.
Que parece me arrancar as entranhas.
E não vejo mais minha MARIA.
Entre o espaço dos meus braços e os dela tem a distância da vida.
Tem o tempo que Deus quiser.
Te o tamanho do universo.
A saudade e o presente, triste.
O passado, a lembrança bonita e gostosa.
Cerrando os olhos, sinto arrepios.
Sinto seu cheiro, quase te toco.
Abraço o espaço, beijo a saudade.
Afago a felicidade e acaricio seus cabelos.
Beijo suas mãos, ouço a sua voz.
Tenho a impressão de estar contigo.
Mas, abro os olhos, vejo um vazio.
Um espaço sem graça.
E não vejo MARIA.
Não vejo o amor, só vejo a dor.
Da saudade infinita, da mulher tão bonita.
Minha só minha, querida MARIA.



MEU RANCHO, MEU MUNDO



Meu rancho se soubesse o quanto te quero!
As vezes nem acredito, pois, te vejo tão bonito, que até choro de alegria.
Meu rancho! Ficamos pobres de um tempo para cá!
Já te vejo meio triste, parece que não existe alegria como antes ou será que vou me enganar?
Nada disso, nem eu e nem você temos motivos para tal.
Pois depois do vendaval, que quase destrói nós dois juntos, não somos de fato o mesmos.
Falta aqui entre nós, um amor que Deus levou. É falta ela, ela mesma!
Aquela que enchia de vida, esta vida de nós dois.
Não estamos errados não!
Somos parte disso tudo, desse mundo sisudo, que afastou ela de nós.
Meu rancho! Ficamos sós, ficamos sim, vamos aceitar.
Mas meu rancho aqui para nós, que foi lindo, isso foi!
Que nós dois choramos de saudade dela, eu sei!
Mas meu rancho esteja certo.
Ela está sempre por perto, dando força para nós dois!
Mande para ela meu rancho, mande um abraço apertado e um obrigado a quem foi!
Fale meu rancho, fale, fale a este mundo sisudo, que adoramos isso tudo, mas aqui dentro de nós, ah, isso dói!
Não te esqueça velho rancho que tivemos grandes dias.
Muitas alegrias, mas que hoje é saudade.
Saudade daquele sorriso belo e cheio de graça.
Da fala meiga, pausada e segura.
Daquela imagem pura.
Sorrindo só para nós dois.
É...meu rancho se acalme.
Faz quatro anos que ficamos sós.
Eu...sem ela e você...sem nós dois...
Meu Rancho velho...meu mundo.
De que adianta chorar?
Vamos nos unir e juntos, pedir a Deus do Céu.
Para que ela seja feliz onde está.
Obrigado, vamos juntos, juntos vamos!



OBRIGADO QUERIDA.



E de novo a chuva caindo pelas bordas do meu rancho modesto e triste!
E de novo a brisa invadindo os espaços vazios e saudosos!
E a vida batendo de frente comigo.
E meus braços abraçando os espaços do meu bem.
E meus olhos procurando te ver de novo, mas a imagem não vem.
E a dor que me chegou de novo sem me pedir licença.
E o meu Eu de novo se enchendo de esperança.
Sou eu ou me engano?
E a chuva continua lá fora  como se nada acontecesse.
A brisa nem se importa e sopra.
Eu? Bato de novo de frente com o mundo.
E até agora não vejo razão para ser tão cruel.
Eu? De novo me abraço no espaço que era dela.
E choro a saudade de um amor que se foi.


E A PAZ DO MEU FIM.


E onde está a paz Meu Deus?
Esta que busco o custo da vida, sem medo de cansaço.
Esta que eu tinha quando a tinha em meus braços.
Essa paz que me foge, como por encanto.
E sem ela, Meu Deus, só vivo chorando pelos cantos.
Oh paz almejado onde te esconde?
Se foi que fugiste, foste para onde?
Como sou tão pequeno, velho e cansado.
Talvez pouco tempo me resta de luta.
Na busca de sempre, ter um pouco de paz.
Essa paz tão bonita, que vejo passando.
Bem peto de mim e se vai como nada.
Desaparece, se acaba como a espuma do vento.
Eu juro, não quero muito.
Só quero a paz por minutos.
Será  bastante para mim.
Veja Meu Deus meu pedido é tão pouco.
Só quero, por caridade.
Dê-me a paz do meu fim.


outro dia eu continuo essa conversa Seu Nelson...até...

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